Ana Atalaia
colaboradora do MPMP entre 2010 e 2013

O MPMP surgiu quando também para mim se abriu a possibilidade de estudar música profissionalmente. Este projecto, e as pessoas extraordinárias que a ele se dedicam, abriram-me horizontes, deram-me a conhecer música e sonoridades portuguesas e ofereceram-me palco e oportunidades de crescimento pessoal e profissional. A minha contribuição para o MPMP e para a revista Glosas foi mínima, comparada com a de tantos outros excelentes músicos e artistas, mas relembrar-me-ei sempre com carinho e saudade dos concertos em que participei ou que ajudei a organizar, e das entrevistas que transcrevi. Ao MPMP, à Glosas e a todos os seus colaboradores desejo o melhor — desejo que possam continuar a representar a música e identidade portuguesas, que recebam os apoios que merecem e necessitam, e que mantenham o lugar no panorama cultural português que com tanto mérito já alcançaram!

 

Ana Damil
violinista

Sabem quando se diz que a música é uma língua universal que junta pessoas? É tão mais do que isso… A música faz com que pessoas se cruzem, trabalhem juntas, criem ligações e construam projectos. Assim é com o MPMP. Amigos que tiveram uma ideia, que se uniram para a verem crescer e que se juntam em cima de um palco para a tornar real. Aí acontece magia, e quem está de fora sente com certeza a diferença. Esta música é uma partilha de amizades. Agradeço-te, Ensemble MPMP, por estes momentos de felicidade incondicional. Muitos parabéns por estes 10 anos!

 

Cláudio Cohen
maestro

Tive a grata oportunidade de ser entrevistado pela Glosas em sua 9.ª edição, em Setembro de 2013; naquela ocasião tracei um rápido perfil do nosso trabalho à frente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, em Brasília, capital do Brasil. O país se encontrava em pleno desenvolvimento econômico e cultural, a situação se mostrava alvissareira, mas muita coisa aconteceu após aquela entrevista. Tivemos o fechamento do Teatro Nacional em 2014, para a realização de uma reforma que até hoje não foi concluída. Esse fato nos deixou sem uma casa própria para realização dos concertos. Fomos muito criativos e circulámos por vários pontos da cidade, o que nos trouxe novos públicos. Hoje a sede é no Cine Brasília. Nossa linha de ação é focada na diversidade de repertório; nesse sentido, através das parcerias celebradas com várias das cento e trinta embaixadas de diversos países localizadas em Brasília, pudemos desenvolver repertórios de muitas nacionalidades, proporcionando ao nosso público uma grande oferta de produtos musicais que variam desde os clássicos universais, passando pela música latino americana, do Caribe e da Península Ibérica, como os clássicos do cinema, rock, da nova música contemporânea, ópera, ballet e, enfim, todo o repertório que a orquestra do século XXI deve abordar para alcançar o público atual. Nesse período contratámos vinte e cinco novos músicos, hoje somos noventa membros, e a orquestra cresceu ainda mais em excelência técnica e artística, e no prestígio junto ao grande público. Eu mesmo, neste período, dirigi mais de cinquenta orquestras em vinte diferentes países, e sigo com uma extensa agenda de concertos pelo mundo. Na colaboração Brasil-Portugal tivemos a grata satisfação de ter em Brasília o diplomata português e querido amigo João Pignatelli, adido cultural por vários anos, hoje servindo em Moçambique. Pignatelli foi de extrema eficiência na defesa da cultura portuguesa; com essa parceria, a orquestra recebeu os artistas portugueses Ferreira Lobo, Cesário Costa, Bruno Borralhinho, Cátia Moreso, Abel Pereira, Pedro Burmester, Adriano Jordão, entre outros.

A economia brasileira já vinha em declínio desde 2015, o que reduziu os orçamentos para cultura; o Ministério da Cultura foi extinto e transformado em uma Secretaria com menos poder político e econômico. Em 2019, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro celebrou 40 anos de existência e o centenário do seu fundador o compositor e maestro Claudio Santoro; foram cento e quatro concertos na temporada com uma grande riqueza de conteúdo e de artistas convidados. 2020 estava programado para ser um ano ainda mais alvissareiro, com o Ciclo Beethoven 250 anos, uma série de concertos com artistas nacionais e internacionais, bem como diversos outros eventos, incluindo a celebração dos 60 anos de Brasília.

Mas, de repente, tudo foi interrompido por uma tempestade avassaladora chamada Corona Vírus ou Covid-19. Todos os eventos culturais no país foram cancelados, teatros fechados, orquestras pararam ensaios e concertos, a cultura entrou em colapso, a vida nas cidades parou completamente e as pessoas hoje se encontram confinadas em suas residências para conter o avanço trágico dessa pandemia. Tragédia sanitária instalada, ainda não sabemos o final desta história nem as trágicas consequências econômicas que dela resultarão. Vivemos neste momento uma era de incertezas, mas é certo que 2020 será um ano totalmente perdido. Estamos na esperança de que passada toda essa turbulência a cultura possa voltar a renascer e tomar o espaço que lhe é devido.

Tenho acompanhado as publicações da revista Glosas nesta última década e fico satisfeito por existir esse veículo impresso que busca valorizar a música clássica, especialmente no território lusófono, através de seus textos claros e de conteúdo informativo, sejam eles sobre a cena composicional ou sobre eventos realizados.

A importância de ter publicações desta qualidade no âmbito da música erudita é fundamental para trazer, ao público em geral, a relevância deste segmento cultural para a sociedade.

 

Joana Moreira
pianista

Seis anos se passaram! Relembrar hoje a minha participação na Glosas é trazer à memória momentos de trabalho, pesquisa e compromisso perante a música contemporânea portuguesa para piano. O artigo, que tive o prazer de escrever para o número 11 da revista, surgiu da investigação e análise realizadas na minha tese de mestrado, Gabriel Morais de Sousa: Vida e Obra, que contou com a orientação do Professor Doutor Filipe Pinto-Ribeiro e a coorientação da Professora Doutora Christine Wassermann Beirão. A oportunidade que me foi dada pelo MPMP de tornar visível um pouco deste trabalho, para toda a comunidade de leitores, foi um passo bastante significativo para a divulgação do compositor e da sua obra, contribuindo também, consequentemente, para a disseminação da música portuguesa erudita. Foi igualmente algo muito relevante do ponto de vista pessoal e de realização académica.

Penso que é fulcral e crucial darmos a devida importância à nossa música: estudá-la, analisá-la, tocá-la e divulgá-la. Está nas nossas mãos perpetuarmos a nossa cultura! Devemos, por isso, assumir sempre um papel activo nesta missão, e encará-la com a devida responsabilidade, seriedade e importância. Estou e estarei sempre grata por ter tido a oportunidade de participar em tão digno e importante projecto! Um bem-haja a todos os que tornam este movimento possível, e parabéns!

 

João Costa Ferreira
pianista

Apesar de ter vivido fora de Portugal ao longo da primeira década de existência do MPMP, pude acompanhar o trabalho deste colectivo (chamemos-lhe assim) graças à difusão da informação que os meios tecnológicos de então facilitaram. É possível que, devido a esta circunstância, parte deste depoimento seja fruto de uma percepção idealizada. Escrevo “parte”, pois o meu envolvimento nos projectos do MPMP contribuiu também, mas de forma empírica, para a construção da minha percepção sobre o colectivo. Este depoimento vagueia por isso entre a subjectividade da minha imaginação e a objectividade das minhas experiências.

Quando soube que um grupo de jovens recém-saídos do Conservatório Nacional decidiu unir esforços em prol da valorização do património musical português, pensei nisso como um acto digno, com certeza, mas sobretudo corajoso. Não se aventuravam “por mares nunca de antes navegados”, mas para vingar seria necessário remar contra ventos e marés. A realidade do mercado e os hábitos instalados desafiavam a força de vontade; contudo, as conquistas foram-se sucedendo. Ganharam a confiança da comunidade científica, dos músicos e melómanos. Hoje, lidos e ouvidos por centenas, senão milhares, de pessoas, são uma referência no panorama musical nacional.

Um dos factores deste sucesso poderia ser a situação em que se encontrava (e ainda se encontra) a música portuguesa de índole clássica, com necessidade de se dar a conhecer, de se fazer tocar e de se fazer ouvir. Mas até mesmo o carácter original da descoberta de partituras e de manuscritos ou o da interpretação e gravação de obras musicais inéditas enfrenta essa terrível força sistémica que parece destinada e determinada a assegurar a imutabilidade das coisas, condenando esta música às trevas ad æternum. É com certeza numa multiplicidade de factores que reside este sucesso, como qualquer outro, desde a perseverança à capacidade de trabalho, numa procura constante por dar respostas à altura das exigências do meio.

Importa contudo sublinhar uma das preocupações deste colectivo, que o tem levado a bom porto: a criação de uma identidade. As linhas editoriais da revista Glosas e do catálogo discográfico do MPMP, assim como a programação musical das suas temporadas, fundadas em critérios que não se limitam às imprescindíveis apreciações artísticas mas que têm em consideração o interesse social e cultural das propostas, reflectem uma aposta na vulgarização científica através de uma forma de comunicação acessível, destinada aos vários públicos, sem por isso descurar a qualidade e o rigor académico.

Toda a coragem é inspiradora. Acredito que a acção do MPMP, tanto no campo da interpretação como no campo da edição, terá já inspirado e continuará a inspirar gerações de músicos e musicólogos portugueses, sensibilizando-os para a necessidade urgente de reabilitar o nosso próprio património. Não posso deixar de frisar que o meu interesse pela música portuguesa e a vontade de me debruçar a fundo sobre a obra de um pianista e compositor português — José Vianna da Motta — nasceram, em parte, dessa acção. É por isso com uma palavra de agradecimento e com o desejo de podermos, daqui a dez anos, festejar mais uma década plena de música portuguesa que concluo este breve depoimento.

 

Luiz Alves da Silva
Cantor, maestro, musicólogo

Parabenizo os realizadores da revista Glosas pelo primeiro decênio de trabalhos prestados à musicologia e à historiografia musical da lusofonia. O espectro temático desta publicação é bastante amplo e promove, sem dúvida, o desenvolvimento da pesquisa científica, mas me agrada também o fato de que, ao lado de artigos musicológicos propriamente ditos, também haja lugar para assuntos ligados diretamente à prática musical e às experiências pessoais de personalidades relevantes do mundo musical da lusofonia. Neste contexto, tive o privilégio e o prazer de expor meu trabalho de divulgação do repertório luso-brasileiro através dos concertos e gravações do Ensemble Turicum no número 16, de Maio de 2017, dedicado ao compositor José Maurício Nunes Garcia. Corre o provérbio de que o melhor da festa é o esperar por ela; assim, esperamos felizes pelo próximo jubileu dos vinte anos da revista, aproveitando regularmente suas publicações.

 

Nuno Costa
compositor

As publicações feitas em Portugal dedicadas, na sua essência, à música de tradição escrita são, muitas vezes (e não será exagerado afirmar) de carácter quase-heróico (especialmente quando bem feitas!). Não cabem aqui e agora as razões pelas quais isto acontece mas ainda muito está por fazer para que um dia se possa falar com propriedade acerca da História da Música em Portugal — sendo esse um trabalho de fundo que, não duvido, deverá passar pela sensibilidade de uma classe política que por ora não se vislumbra —; até lá, estamos ancorados nas ilhas que, tal como o Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa, vão emergindo para consolidar, o mais que possam, a memória de um património vastíssimo, e para projectar um futuro imprevisível mas, obviamente, imparável.

Ao longo destes dez anos de actividade, puderam observar-se os notáveis esforços que o MPMP tem despendido por forma a abrir as mais distintas frentes na disponibilização de partituras, de CDs e demais materiais afectos às diversas épocas da nossa História da Música. Não obstante, a constituição do Ensemble MPMP, bem como toda uma órbita em torno do mesmo, formada por intérpretes variados, tem permitido encomendas de mais música e estreias modernas de obras há muito negligenciadas, e é aqui que se aprofunda, ainda mais e a meu ver, a importância da continuidade do MPMP. Aliados a uma política de internacionalização (da qual nem imagino a necessária audácia!), é crucial que o património musical português continue a construir-se em abertura para o mundo e que consiga a mais sólida ponte com as culturas que, à partida, se identifiquem como mais próximas de nós, como o Brasil, Espanha, Itália (!) e, quem sabe, um dia, alguns dos países de África, numa extensão muito mais alargada de influências e saberes. Nada de novo, portanto, mas que saibamos fazê-lo em forma de partilha consciente e de aprendizagem mútua (sendo isso um oceano de inúmeras possibilidades — mas que seja consciente e mútuo!).

Chegados aqui, não se poderá contar apenas com as ilhas, precisaremos de um grande arquipélago ou mesmo de todo um continente. O MPMP tem feito a sua parte, resta-nos esperar (enfatiza-se) que o poder político, um dia (talvez distante mas que, ao menos, venha a existir), faça a sua e trabalhe aprofundadamente na consolidação da memória histórica musical de Portugal, para que num qualquer futuro possamos prosperar finamente, deixando para trás os séculos de pouca luz neste domínio, não por falta de matéria-prima, apenas por falta da aplicação dos meios necessários ao seu manuseamento.

(Pequena nota para memória futura: se dúvidas existiam acerca de um possível interesse que a cultura, em geral, pudesse ter para a plenitude do ser-humano [dúvida só por si intrigante e reveladora de uma direcção perigosa…] a pandemia que enfrentamos e o Estado de Emergência que por estes dias vivemos vieram ajudar à confirmação do óbvio desconcertante — pelos vistos, a arte, a cultura é algo que nutre em tempos de assombramento. Agora imaginemos o que uma fruição densa poderá fazer por todos em tempos de “normalidade”, de claridade.)

 

 

Pedro Neves
maestro

Conhecer o passado, viver o presente e projectar o futuro foram sempre os três elementos que nunca se encontraram para dar o merecido equilíbrio à música erudita portuguesa. Ao contrário do que se verifica nos países com grande tradição musical, nós sempre desconfiámos de nós mesmos, duvidámos do que construímos e, sobretudo, não tivemos força para projectar um sólido futuro.

Não interessa olhar para o lado e fazer uma cópia desinteressante da realidade; interessa sobretudo usar a nossa inteligência para construir um espólio cultural saudável, estruturado e activo.

Obrigado, MPMP, pela vossa coragem em existir, pela vossa coragem em construir e pela vossa coragem em não desistir de organizar uma plataforma que assenta nestes três pilares fundamentais para a nossa música e para a nossa cultura. A vossa atitude, como entidade promotora, vai influenciar certamente as gerações vindouras e colocar o nosso passado, presente e futuro numa consciência colectiva em que todos cultivam a partilha, a crítica e a criatividade. Com a vossa ajuda vamos conhecer melhor o nosso passado, para que nos orgulhemos dele; vamos ouvir o que se faz no presente para que o possamos viver em pleno; vamos impulsionar a criação de um futuro ,que certamente nos levará a lugares desconhecidos.
Muitos parabéns pelo vosso trabalho!

 

Tiago Rosa
violoncelista

Tentei escrever um pequeno texto que traduzisse aquilo que o MPMP é para mim. Ao tentar, percebi que as palavras seriam órfãs de si mesmas e que a única possibilidade de o demonstrar seria partilhar de novo o palco e a estrada com estas pessoas. Há projectos que nos enchem de orgulho, por em algum momento termos feito parte dele. Obrigado por me terem dado essa possibilidade.

Quero, como amigo e como músico, agradecer-vos com toda a sinceridade pelo vosso envolvimento. A vossa dedicação, trabalho duro e compreensão das dificuldades é digna da minha mais profunda admiração, e só conseguem viver e fazer viver aqueles momentos perante o MPMP e quem vos vai ver porque fazem algo raro e precioso: trabalham todos em conjunto, em igualdade e qualidade, para um fim comum.

Esse sentimento, que cada um vive à sua maneira, perdura em cada um para sempre, já que é garantido que esses momentos são verdadeiramente mágicos e que todos são obreiros desse toque que separa um verdadeiro espetáculo, uma verdadeira família das rotinas dos egos, trabalhos chatos, discussões periféricas, que muitos cultivam mas que no MPMP e nos near and dear não têm lugar.

Em meu nome, agradeço-vos profundamente. Injusta a circunstância deste 10.º aniversario, mas espero que encarem os novos desafios da mesma forma, lutando por fazer acontecer e por dar brilho a esses acontecimentos! É um privilégio contar com o vosso carisma, talento e abnegação! Obrigado, beijos e abraços. É sempre uma honra e uma enorme satisfação. Melhor do que isto, só dois disto. (Acordem o Polido.)

 

Victoria Valdes
violinista

Feliz aniversário a esta grande família! É uma alegria fazer parte deste belo projecto e poder trabalhar com todos vocês. No meio desta “aventura” em que nos encontramos, sinto saudades dos amigos e colegas com os quais tantas vezes partilhei o palco e o amor pela música. Em breve iremos reunir-nos novamente e festejar este dia especial, tal como merecemos. Deixo-vos aqui um pequeno poema de Pessoa:

Música… Que sei eu de mim?
Que sei eu de haver ser ou estar?
Música… sei só que sem fim
Quero saber só de sonhar

Música… Bem no que faz mal
À alma entregar-se a nada
Mas quero ser animal
Da insuficiência enganada.

Música… Se eu pudesse ter,
Não o que penso ou desejo,
Mas o que não pude haver
E que até nem em sonhos vejo,

Se também eu pudesse fruir
Entre as algemas de aqui estar!
Não faz mal. Flui,
Para que eu deixe de pensar!

 


Textos escritos no âmbito
do 10.º aniversário do MPMP

Sobre o autor

Imagem do avatar

[Publicações de amigos, colaboradores, associados, no contexto do aniversário do 10.º aniversário do MPMP]