É nesta sexta-feira, dia 10 de Julho de 2015, que arranca o Festival Músicas no Rio na vila alentejana de Mora. O destaque no primeiro dia vai para o concerto da Sinfonietta de Lisboa, às 21h30, que vai estrear um Concerto para Quarteto de Guitarras e Orquestra. Os solistas serão o Quarteto de Guitarras de Lisboa e a direcção estará a cargo de Vasco Pearce de Azevedo. A Glosas conversou com André Santos, o compositor desta obra de formação fora do vulgar e que assim se torna o primeiro concerto deste género de autor português.


 

Não são muito comuns, mas existem no mundo concertos para quarteto de guitarras e orquestra, como o Concierto Andaluz de J. Rodrigo. Estes concertos serviram-te de alguma forma de inspiração? 

Como em qualquer peça que escrevo, para esta, não fugindo à regra, fiz algum trabalho de pesquisa antes de escrever as primeiras notas. Também passei pelo Concierto Andaluz e por alguns para uma só guitarra. No entanto, a pesquisa passou mais pela música feita para um instrumento (solista) do que propriamente para guitarras, ou seja, interessou-me mais inspirar-me em música que fosse pensada para um instrumento específico (seja ela qual for) do que para guitarra.

O concerto está dividido em quantos andamentos?

O concerto está dividido em quatro andamentos. No entanto, os 2.º e 3.º andamentos acabam por estar colados, não tendo uma separação muito vincada entre eles.

Em termos de estrutura, nos tradicionais concertos para instrumento solista e orquestra há um diálogo entre o instrumento solo e orquestra. Mas neste caso há um quarteto de instrumentos solistas. Que tratamento deste a estes instrumentos? Trataste-os como um único instrumento ou como quatro instrumentistas solistas? 

No geral as quatro guitarras funcionam como um grande instrumento solista. Contudo, em alguns momentos, entramos um pouco mais fundo dentro do quarteto e cada um assume um papel de destaque. Por exemplo, no primeiro andamento existe uma cadência só das quatro guitarras e aqui elas oscilam entre uma textura única que os torna como um único “solista” e um discurso mais individual.

Podemos esperar ouvir neste concerto o lirismo melódico característico das obras de André Santos ou procuraste uma experiência composicional completamente nova?  

Não sei bem se tenho um “lirismo melódico característico” mas é um concerto cheio de melodias. Naturalmente tentei explorar sonoridades novas para alimentar o meu sentido curioso de criador, mas mantenho sempre alguns traços próprios da minha linguagem.

Que mais gostarias de acrescentar como forma de caracterizar a tua obra e apelar a que o público a vá escutar no dia 10 de Julho? 

Em primeiro lugar, existem poucos concertos, catalogados, para quatro guitarras e orquestra, e muito menos a oportunidade de os ouvir. Só por este ponto já creio ser apelativa a existência desta iniciativa. Por outro lado, a música traz consigo muito da minha vivência musical, está recheada de momentos virtuosos que se complementam com secções simples, mas de melodias humildes. Penso que será uma boa experiência e, infelizmente, surgem poucas oportunidades destas na vida.

Sobre o autor

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Doutorada em Música e Musicologia (ramo de Interpretação) pela Universidade de Évora, é actualmente investigadora do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Iniciou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas: Estudos Ingleses e Alemães (FLUL) e em Canto (ESML). Posteriormente obteve o grau de LGSM (Licenciate by the Guildhall School of Music and Drama) através do Trinity College. Como cantora de ópera, foi “Fanny” em 'O Tanoeiro' de Thomas Cooper (Teatro da Trindade), “2.ª Dama” na 'Flauta Mágica' de Mozart e “Sebastiana”, numa versão portuguesa da sua autoria da ópera 'Bastien und Bastienne' de Mozart. Para além de se apresentar regularmente em recitais, é membro do Coro Gulbenkian.