Desafios da nova gestão do Theatro Municipal de São Paulo
Para surpresa de muitos assinantes de temporada e frequentadores das óperas do Theatro Municipal de São Paulo, este ano iniciou-se sem a previsão de uma programação de montagens do género (apenas uma versão em forma de concerto de Fidelio, de Beethoven, foi apresentada nos dias 7 e 8 de abril). O principal motivo? Bem, são tempos de crise, nacional e institucional… grande desafio para a nova equipa de gestão, em especial para o secretário de cultura André Sturm, o director artístico, Cléber Papa, e o regente titular, Roberto Minczuk.
Diferentemente do que se pode imaginar neste cenário, a movimentação da casa é intensa, com abertura diária para o público. Às segundas e terças-feiras às 18h, a série Happy Hour traz ao grande palco jovens instrumentistas e grupos musicais em formação, normalmente oriundos da Escola Municipal de Música de São Paulo, ligada ao Theatro. A série ‘Meu Primeiro Municipal’ introduz crianças e adultos às diversas linguagens, num contato mais próximo com os artistas. Nos concertos da série ‘Domingo no Municipal’, também voltados para a família, apresentam-se tanto os grupos profissionais quanto os de estudantes. Os preços dessas séries são populares, com valores equivalentes a menos de 2 euros, e alguns espectáculos são gratuitos. Dedicados especialmente à música de câmara, com renomados artistas brasileiros, são os concertos nocturnos das ‘Quartas Musicais’. Espectáculos interartes pouco convencionais também estão previstos. No próximo dia 17, por exemplo, o balé da cidade participará do ciclo de lieder “Winterreise”, de Schubert. O grupo estreou a temporada com a coreografia “Risco”. Não se pode fugir a um jogo de palavras, para além do já colocado pelo título, ao considerar a exaltação ao grafite do espetáculo e a polêmica lei “Cidade Limpa”, do recém-empossado prefeito João Dória, que teve entre suas consequências a remoção de grafites de diversos pontos da cidade.
A abertura não se faz apenas ao público e aos estudantes. Os corpos estáveis têm ganho mais visibilidade, especialmente os de vocação mais sinfónica ou camerística, como o Coral Paulistano, a Orquestra Experimental de Repertório e o Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo. Deve-se destacar ainda o incentivo aos solistas nacionais, tanto os mais experientes quanto os mais jovens. A música brasileira tem um papel expressivo no repertório. Podemos citar, por exemplo, a apresentação da série completa das Bachianas Brasileiras de Heitor Villa-Lobos, nos dias 4 e 5 de Março. Seria muito interessante também a maior presença de música contemporânea.
Do ponto de vista da interação com o público, a iniciativa mais popular foi a criação das hashtags #bisnomunicipal e #eunomunicipal, por meio das quais o espectador tem, num momento apropriado, a oportunidade de compartilhar a sua experiência nas redes sociais, através de vídeos e fotos. Foi sem dúvida uma grande jogada: além de uma forma mais amigável de conter o uso dos dispositivos móveis durante o concerto, as hashtags ajudam a divulgar o Theatro e a sua programação.
De peito e portas abertas (inclusive literalmente, com a abertura de uma parte do terraço antes inacessível ao público e a ampliação do café), o Municipal vai enfrentando a crise. Fica a esperança de que tais iniciativas continuem, mesmo com o eventual passar da tempestade.