De 25 a 27 de Novembro, o Centro de Congressos da Madeira encheu-se completamente de público (cerca de 2.100 espectadores), para assistir à última obra inédita produzida pela Secretaria Regional da Educação, através dos seus Serviços de Educação Artística e Multimédia. Sem dúvida um sucesso de público, que encheu por completo as três sessões, tendo ficado centenas de pessoas sem ingressos.
O libretto, de Carolina Basílio, retrata, no primeiro acto, a Madeira antes da Autonomia, com algumas cenas de carácter mais negro, como o surto de cólera (em 1910-1911), a Revolta da Farinha e a Revolta da Madeira (em 1931), que originaram imensas prisões políticas, com o envio de presos para o degredo, nas prisões em Cabo Verde. Refira-se como curiosidade histórica que foram deportados aproximadamente duzentos presos políticos, numa primeira fase, para o Tarrafal de São Nicolau (1931-36) e, depois, para o Tarrafal de Santiago (1936-54), por onde viriam a passar 340 antifascistas, tendo muitos deles acabado por morrer. No segundo acto, apresenta-se a libertação de um povo, com o 25 de Abril, que veio permitir a Autonomia e o consequente desenvolvimento da Região Autónoma da Madeira.
A música e orquestração, a cargo de João Caldeira, conseguiram, de modo exemplar, representar articuladamente todas as cenas do libretto. Apesar de o segundo acto contar com partes mais optimistas e com maior participação dos cantores solistas, o primeiro acto, em nosso entender, foi aquele que melhor retratou as ideias musicais e manteve um verdadeiro fio condutor. Sem dúvida uma obra de qualidade, escrita por um compositor ainda jovem, mas a quem auguramos uma carreira esplendorosa.
A coreografia, da autoria de Juliana Andrade (simultaneamente bailarina solista), foram simplesmente arrebatadoras. A participação do bailarino Valdemir Ribas foi, sem dúvida, uma grande contribuição para o espectáculo, assim como a luminotécnica, da responsabilidade de Maurício Freitas, e o vídeo e imagem cénica de Tiago Catarino, algo muito pouco habitual nesta Região. O contributo da multimédia, assinada por Eduardo Costa e Bruno Santos, também é de destacar positivamente. A Encenação e Direcção Artística de Miguel Vieira, docente de teatro e actor, com uma carreira já cimentada nesta Região, soube, muitíssimo bem, juntar todas as peças para transformar este musical num notabilíssimo espectáculo.
A produção foi da responsabilidade de Virgílio Caldeira e Ricardo Araújo, que foram capazes de dinamizar um verdadeiro trabalho, no sentido de conseguirem os apoios necessários a uma produção desta envergadura.
Os solistas, na sua maioria, tiveram uma boa prestação. Permitimo-nos destacar as participações de Alfredo Costa, João Camacho, Micaela Abreu, Fábio Ferro e Cristina Barbosa. Na interpretação teatral, destaca-se sem dúvida a Ema Marli, que desempenhou o papel de “velha” e “idosa”, tendo sido a verdadeira revelação. Os coros, constituídos por crianças jovens e homens, num total de 51 elementos, sob a direcção de Zélia Gomes, revelaram-se igualmente imprescindíveis. Já a orquestra, com 32 elementos, sob a direcção do próprio compositor, tiveram uma excelente prestação, juntando as restantes artes que constituíram o espectáculo num todo que arrebatou por completo o público que, nas três récitas, aplaudiu demoradamente e de pé.
Marcaram presença várias entidades oficiais da Região Autónoma da Madeira, desde o Presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, o Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira (ALM), Tranquada Gomes, os Secretários Regionais da Educação e da Economia, Turismo e Cultura, respectivamente Jorge Carvalho e Eduardo Jesus, o Bispo da Diocese, D. António Carrilho, dois Vice-presidentes e inúmeros Deputados da ALM, entre muitas outras entidades oficiais (civis, militares e religiosas).
Ficamos na expectativa de um próximo projecto desta envergadura, que teve o grande mérito de juntar cerca de 150 artistas, maioritariamente jovens e docentes desta Região Autónoma da Madeira.
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