A rosa do adro (1919) e As armas e o povo (1975), duas das mais recentes edições da Cinemateca Portuguesa em DVD, foram seleccionadas para a lista de nomeados ao Il Cinema Ritrovato, o prestigiante prémio anual promovido pela Fondazione Cineteca di Bologna destinado a reconhecer as melhores edições em DVD e Blu-ray de filmes anteriores a 1991. Esta é a primeira vez que a Cinemateca Portuguesa tem dois títulos entre os finalistas dos prémios. Os vencedores serão conhecidos durante a próxima edição do festival associado ao certame, que decorrerá entre os dias 20 e 27 de Julho.

A revista Glosas destaca o excepcional trabalho musicológico que se desenvolveu a montante da edição d’A rosa do adro. A partitura original do filme, composta por Armando Leça (1891-1977), foi transcrita e editada por Bárbara Carvalho (CESEM, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical), adaptada por Bárbara Carvalho e Manuel Deniz Silva (INET-md, Instituto de Etnomusicologia, Centro de Estudos em Música e Dança) e depois interpretada por Solistas da Metropolitana. O trabalho de reconstituição da partitura partiu da única fonte localizada, uma cópia manuscrita realizada em 1919 por José Gomes da Silva, músico da banda da Guarda Nacional Republicana, que se encontra conservada no arquivo de música escrita da Radiodifusão Portuguesa. Esta partitura, dividida em cinco partes, corresponde à versão original da película, que contava com cerca de dois mil metros de filme. Depois de transcrita e editada, a partitura foi adaptada à única cópia existente do filme, que se encontra dividida em quatro partes e é significativamente mais curta (tema apenas 1728 metros).

 

 

A partitura de Armando Leça revela-se “estilização de cantos e bailados” do Douro-Litoral, inserindo-se assim no projecto iniciado pela produtora portuense Invicta Film de construção de um cinema “tipicamente português”. Realizada por Georges Pallu em 1919, A rosa do adro foi a primeira longa-metragem de ficção da Invicta Film e é um dos títulos mais importantes dos primeiros anos da história do cinema português.

Transpondo o romance oitocentista de Manuel Maria Rodrigues para os inícios do século XX, o filme conta a história de um triângulo amoroso interpretado por Maria Oliveira, Carlos Santos e Erico Braga, com um argumento de “carácter onírico e singular” em que se destacam a omnipresença da natureza como pano de fundo da acção e, segundo as palavras de João Bénard da Costa, os personagens com “um certo lado inocentemente perverso ou perversamente inocente”.

Sobre o autor

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Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.