1) Silêncio. No princípio não foi o verbo, nem sequer o som. Foi a montagem de imagens em movimento, na sua pureza fotográfica. Manoel de Oliveira entrou no cinema com o documentário mudo Douro, faina fluvial (1931), um “bailado fantástico da água e do ferro” nas palavras do crítico francês Émile Vuillermoz. Imagens compostas como música, na esteira das “sinfonias urbanas” que marcaram o cinema do final dos anos 20, e em particular de Berlim, Sinfonia de uma cidade de Walter Ruttmann, inspiração directa de Oliveira. O cineasta fez parte, nesses anos, daqueles que tentaram resistir à atracção do cinema falado e cantado, esboçando mesmo um projecto de filme intitulado Luz, espécie de manifesto radical por um cinema que não precisava do som para existir. Douro foi estreado no Salão Central, em Lisboa, a 21 de Setembro de 1931, para a selecta assistência dos participantes do V Congresso Internacional da Crítica, organizado nesse ano em Lisboa por António Ferro. Recebido com entusiasmo pelos convidados estrangeiros, entre os quais se encontrava Pirandello, o filme terá sido acolhido com indignação pelo público português presente na sala. O primeiro som do cinema de Oliveira foi portanto o de uma pateada, resposta ao inusitado vanguardismo do filme que terá levado Vuillermoz a perguntar se os portugueses tinham o hábito de aplaudir com os pés.
2) Desencontro. O som e a música vieram depois, e de forma contrariada.
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