A Associação Portuguesa de Museologia (APOM) acaba de distinguir o Museu Nacional da Música com o seu Prémio de Conservação e Restauro deste ano pelo trabalho excepcional de conservação e restauro do cravo Taskin de 1782 (Tesouro Nacional), processo concluído em 2018. O prémio foi entregue à Directora do Museu Nacional da Música, Graça Mendes Pinto, no passado dia 24 de Maio, em cerimónia realizada no Teatro Miguel Franco, em Leiria. Na mesma ocasião, o Museu Nacional da Música foi ainda distinguido com uma menção especial para instituições que destacaram património das suas colecções relacionado com a Segunda Guerra Mundial, designadamente pelo trabalho de inventariação do espólio da pianista polaca Eleonora Amzel.
O cravo constuído por Pascal Taskin em 1782, classificado como Tesouro Nacional, é um dos instrumentos mais célebres da colecção instrumental do Museu Nacional da Música, em Lisboa. Este instrumento, único em colecções portuguesas, é um exemplar de inestimável valor histórico, estético, técnico e material. Resultante de uma encomenda de Luís XVI e concebido de forma luxuosa, é hoje considerado um dos melhores exemplos do trabalho deste grande construtor de cravos, do período final desta arte em França. Constituem elementos estéticos relevantes a caixa com Chinoiserie relevada e policromada de muito boa qualidade e a preciosa pintura de elementos florais do tampo harmónico. O cravo integra ainda elementos de um instrumento seiscentista de Andreas Ruckers, como a rosácea original e o próprio tampo harmónico, datado de 1636, para os quais remete uma inscrição no frontal, procedimento de apropriação característico da construção francesa de cravos ao longo de todo o século XVIII.
Pascal-Joseph Taskin (1723-1793), nascido na Flandres e radicado em Paris, começou por trabalhar na oficina de Blanchet. Hoje, os instrumentos que sobrevivem da sua manufactura estão reduzidos a apenas 8 exemplares, espalhados por várias partes do mundo, quer em museus, quer em colecções particulares. A vida deste instrumento de 1782 esteve constantemente ligada a figuras relevantes da história europeia: Luís XVI, Rei de França, que o encomendou, a sua irmã Marie Clotilde, primeira proprietária, e o Príncipe Carlos Emanuel IV, seu marido e futuro Rei da Sardenha, o Rei de Itália, Umberto II, obsequiado pela cidade de Turim com este instrumento por ocasião do seu casamento, e, finalmente, a Marquesa de Cadaval, que o recebeu do próprio Umberto II. Quando o Estado Português adquiriu este instrumento, passou a integrar a colecção do Museu Nacional da Música e foi classificado como Tesouro Nacional, um dos 12 actualmente conservados naquela colecção.
O processo de restauro deste instrumento foi longo, complexo e minucioso, envolvendo uma equipa multidisciplinar de técnicos e especialistas. Ao restaurador Ulrich Weymar foi confiada a intervenção na mecânica do cravo; técnicos de várias áreas do Laboratório José de Figueiredo procederam à consolidação da caixa, à recuperação do revestimento polícromo e da minuciosa pintura com Chinoiseries, e, finalmente, o restaurador Geert Karman procedeu à harmonização e à construção de um novo jogo de saltarelos, réplicas fiéis do conjunto original. Simultaneamente, foram ouvidos diversos investigadores e conhecedores da história do cravo. Na sequência do restauro, o cravo Taskin de 1782 foi inaugurado em Lisboa por Kenneth Weiss, um dos mais importantes cravistas dos nossos dias, num concerto da temporada de 2018 do ciclo Um Músico, Um Mecenas. No âmbito deste mesmo ciclo, também o cravista Marco Mencoboni apresentou um recital integralmente dedicado à música francesa dos séculos XVII e XVIII, com o apoio do Instituto Italiano de Cultura e da Embaixada de Itália em Portugal.