A “Associação Notas e Sinfonias Atlânticas” (ANSA), actual gestora da Orquestra Clássica da Madeira, apresentou à comunicação social o programa para a temporada artística de 2016-2017. Esta apresentação, para além da Presidente da Direcção, Vanda Correia de Jesus, contou com a presença do director artístico e concertino Norberto Gomes, e ainda com a Presidente da Direcção do Conservatório, Tomásia Alves, e com o Presidente da Associação “Orquestra Clássica da Madeira”, Rui Correia. De destacar que, segundo a direcção, a orquestra, pelo terceiro ano consecutivo, irá manter-se sem maestro-titular nesta nova temporada, continuando com os maestros-convidados para cada um dos concertos.

Do programa apresentado a iniciar-se no dia 24 de Setembro com o primeiro concerto no Teatro Municipal Baltazar Dias, e que se prolonga até Julho de 2017, gostaríamos de destacar a interpretação das seguintes obras de autores portugueses: Vítor de Faria (1978-), Deus e Adeus; Marcos Portugal (1762-1830), Abertura de Il Augurio di Felicitá; Sérgio Azevedo (1968-), Concerto para piano e orquestra; Mário Laginha (1960-), originais para piano, voz e orquestra; Fernando Lopes-Graça (1906-1994), Quarteto de cordas n.º 2; Amílcar Vasques-Dias, Prelúdio à Sesta da Cigarras; Carlos Seixas  (1704-1742), Sinfonia para cordas em si♭maior; Luiz de Freitas Branco (1890-1955), Concerto para violino e orquestra.

Por outro lado, a Direcção da Orquestra, dando seguimento à estratégia que vem seguindo nos últimos anos, volta a encomendar novas obras a compositores portugueses que serão alvo de estreia absoluta na Madeira: Alejandro Erlich Oliva (1948-), Três Canções para Soprano e Quarteto de Cordas — “A Vida e a Morte” de Florbela Espanca (1894-1930), “Sozinha no Bosque” da Marquesa de Alorna (1730-1839) e “Do Dever de Deslumbrar” de Natália Correia (1923-1993) — e Anne Victorino d’Almeida (1978-), Concerto para saxofone alto e orquestra.

Para melhor conhecermos e divulgarmos a estratégia da actual direcção da OCM, colocámos a seguinte questão ao Director Artístico e Concertino, Norberto Gomes: Quais as ideias-chave para esta temporada de 2016-17?

Antes de mais, queremos agradecer o convite da Glosas para esta abordagem e referir o quanto nos honra fazer parte das vossas publicações. É sempre com gáudio que aceitamos a oportunidade para falar da Orquestra Clássica da Madeira, dos seus músicos e da programação que integra as suas temporadas. Sobre a questão que coloca e que considero pertinente, permita-me que diga que esta temporada é uma sequência das anteriores, onde a orquestra trabalhou a sua identidade como corpo único e multidisciplinar. 

Com início a 24 de Setembro com o Concerto Inaugural da Temporada, a ter lugar no belíssimo Teatro Municipal Baltazar Dias, a ANSA/OCM tem o prazer de ter como convidados dois ilustres músicos do panorama internacional, que têm pisado os mais cobiçados palcos do mundo, com as melhores orquestras da actualidade. Alexander Buzlov no violoncelo, laureado nos principais concursos internacionais, e Gianluca Marcianò, que estará na direcção de três obras magníficas do repertório sinfónico. Com estas obras maiores da composição,  pelas mãos de Buzlov e Marcianò, abrimos uma das vertentes formais desta temporada: o “Ciclo Grandes Solistas”, que pretende trazer à Madeira artistas nacionais e internacionais com carreiras absolutamente extraordinárias.

Não querendo particularizar cada concerto, é de referir que teremos uma programação diversificada e compacta até Julho de 2017, com produções tais como o Festival de Órgão da Madeira, o Concerto de Natal “Fantasia Disney”, Concerto de Ano Novo, Concerto de Aniversário da Orquestra, Concerto da Festa da Flor, além de propostas de repertório que vão do período barroco aos nossos dias onde também cabem estreias absolutas. Com uma formação fixa de 43 músicos, a dimensão desta orquestra permite-nos abordar quase todo o repertório desde o período barroco até aos nossos dias. Para programas sinfónicos mais arrojados temos a possibilidade de reforçar a orquestra  para esse efeito. Assim teremos 26 programas de orquestra com o seu efectivo completo e mais 29 programas de música de câmara realizados pelos variados grupos que temos, que advêm da decomposição da orquestra no seu todo. Estes concertos serão apresentados no Teatro Municipal Baltazar Dias, no Salão Nobre da Assembleia Legislativa da Madeira, na Sé Catedral do Funchal e no Centro de Congressos do Casino da Madeira. Como elemento de sedução, gostamos de ter um lema associado a cada temporada. Uma linha que sirva de ligação entre o lado poético da nossa atividade e o público. Assim, para esta temporada, temos: “Contemple! Sonhe com alma!”

Com uma actividade que tem sido desenvolvida ao longo de mais de meio século, a Orquestra Clássica da Madeira apresenta-se nesta temporada com o desígnio reforçado de convidar o seu público a contemplar as criações musicais que fazem parte do património imaterial da humanidade. Os moldes de gestão artística e dimensão actual da orquestra permitem-nos ambicionar a apresentação de repertórios desafiantes, convidar maestros e solistas que com o seu prestígio nacional e internacional, por certo, vão fazer desta temporada um sucesso impar na actividade cultural da nossa região! Estimulamos no público a vontade de ir à descoberta nesta temporada do papel que a música desempenha na sua vida, contemplando-a! Desafiamos o público a deixar-se tocar pela orquestra, pela música, que liberte a sua alma e sonhe! Sonhe connosco!

Com ciclos parcelares, distribuídos por toda a temporada, teremos Grandes Solistas, Grandes Obras e Jovens Solistas. Uma programação compacta e diversa, com sugestões que vão desde a Música de Câmara a propostas sinfónicas com objectivos maiores de servir a arte em geral, a  música, e  em particular o nosso público. Uma orquestra ligada por um interesse comum de permanente homenagem aos criadores e aos intérpretes. Uma orquestra reverente para com a literatura musical e seus criadores, e irreverente na sua contemplação e no sonho que orienta cada um de nós. Toda a temporada foi concebida como um todo que consideramos ser especial. 

Como tivemos a oportunidade de referir, além do “Ciclo Grandes Solistas”, teremos o “Ciclo Jovens Solistas” onde damos protagonismo a jovens músicos que se destacaram na sua formação inicial na Madeira e que agora seguem a sua formação superior ou carreira em instituições internacionais de relevo. É expectável que o Orquestra tenha uma visão abrangente do meio que nos envolve criando pontes pedagógicas e artísticas. Deste modo, e com uma missão formativa, a Orquestra Clássica da Madeira integra pontualmente, em formação pedagógica, os formandos dos Cursos Profissionais, resultado de uma relação institucional que muito prezamos com o CEPAM — Conservatório Escola das Artes da Madeira, valorando a qualidade do ensino artístico na região.

Como profissionais com ambição, logo desejamos capacidade dinâmica, competência criativa, inteligência emocional, brio profissional no que nos toca… Pretendemos chegar ao máximo de público possível, e com essa proximidade poder dar emotividade à vida das pessoas, estimular a sua sensibilidade e fazer com que através da música possamos todos ser melhores seres humanos. Acreditamos que as artes, e a música em particular, têm esse poder de acrescentar qualidade à vida das pessoas.

 

Analisado o plano apresentado para esta temporada, consideramos que constitui um excelente programa e que irá proporcionar aos residentes e aos milhares de estrangeiros que nos visitam motivos mais do que suficientes para apreciarem a boa música interpretada por esta orquestra, uma das mais antigas de Portugal em constante actividade, e que continuará a marcar a diferença pela sua qualidade artística e interpretativa.

À OCM, sua direcção e todos os seus intérpretes (músicos, maestros e solistas), desejamos uma memorável temporada artística.

Sobre o autor

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Carlos Alberto Meneses Gonçalves é Doutor em Ciências do Trabalho pela Universidade de Cádiz (Espanha), onde recebeu o Diploma de Estudos Avançados na área científica de Psicologia Social. É licenciado em Administração e Gestão Escolar e diplomado com o Curso Superior de Música (Piano e Canto). Foi professor em diversas instituições, incluindo o Conservatório de Música da Madeira, a Universidade da Madeira, o Instituto Superior de Ciências Educativas e o Instituto Politécnico de Setúbal. É investigador integrado do CIPEM (Centro de Investigação em Psicologia da Música e Educação Musical), no Instituto Politécnico do Porto, e do INET-md (Instituto de Etnomusicologia - Estudos de Música e Dança (FSCH/Universidade Nova de Lisboa). É Director de Serviços de Educação Artística e Multimédia da Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos do Governo Regional da Madeira.