A Orquestra Clássica da Madeira encerrou a sua temporada de 2013-2014 com um concerto no passado dia 20 de Julho, no Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal. Foi, sem dúvida, um excelente concerto no seu todo. Desde logo pelo solista Pablo de Naverán, violoncelista espanhol, que, ao interpretar o Concerto para violoncelo e orquestra em si menor, op. 104, de Antonin Dvorák, deslumbrou uma sala repleta de residentes e turistas pela sua versatilidade e pela sua sensibilidade tão profunda quanto celestial. De referir que o músico utilizou um violoncelo Carlo Antonio Testore, de 1723.

Este jovem violoncelista, que estudou com Yehudi Menuhin, Albert Lysy, Radu Aldulescu, entre outros, tem já uma carreia internacional invejável quer como solista quer como professor, realizando masterclasses em vários países da Europa e América do Sul. Actualmente é professor na International Menuhin Music Academy, na Suíça.

O maestro português Pedro Carneiro apresentou igualmente uma excelente performance junto com a orquestra. Este jovem maestro, em perfeita ascensão internacional, veio algumas vezes à Madeira ao longo desta temporada, sempre com excelentes prestações. Na sua tripla actividade de percussionista, chefe de orquestra e compositor, Pedro Carneiro tem vindo a cativar plateias por toda a Europa, Estados Unidos da América, Ásia e Austrália. Dirige a Orquestra de Câmara Portuguesa e outras orquestras quer em Portugal quer no estrangeiro. Um maestro muito promissor que está fazendo uma brilhante carreira.

A Orquestra Clássica, por sua vez, fez um trabalho exemplar ao longo desta temporada e encerrou-a com “chave de ouro”, com uma brilhante interpretação, neste concerto, da Sinfonia n.º 3 em mi bemol maior, op. 55 (“Heróica”) de Beethoven, perspectivando-se uma nova temporada, a partir de Setembro, com muita energia e sucesso.

De nossa parte, como melómanos, gostaríamos de ver os apoios oficiais por parte do Governo Regional da Madeira devidamente consagrados e estáveis, o que nem sempre tem acontecido nos últimos tempos. Sempre defendemos que uma orquestra que este ano está a celebrar os seus cinquenta anos de existência – o que a torna uma das mais antigas em Portugal –, com todo o serviço público já prestado, merecia um reconhecimento ao nível da estabilidade para os seus músicos.

Esperamos que, independentemente das pessoas que estiverem, nos próximos tempos, a governar esta Região Autónoma, a cultura musical, neste particular a orquestral, esteja garantida. Se compararmos esta situação com as nossas ilhas vizinhas, as Canárias, constatamos que nelas há duas orquestras sinfónicas e uma de câmara, todas elas oficiais.

Numa região em que o turismo é uma das nossas maiores riquezas, é preciso, e é urgente, investir na cultura e nas artes de forma persistente e eficiente: estas serão rentáveis no futuro. Hoje as indústrias criativas são consideradas um dos paradigmas do séc. XXI, mas para tal será necessário que os nossos políticos acreditem nisso e decidam em conformidade. Se, pelo menos, alocassem 50% dos apoios que dedicam ao desporto, nada teríamos a temer!

Estaremos por cá para acompanhar os próximos “capítulos” desta prestigiada Orquestra Clássica da Madeira.

Sobre o autor

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Carlos Alberto Meneses Gonçalves é Doutor em Ciências do Trabalho pela Universidade de Cádiz (Espanha), onde recebeu o Diploma de Estudos Avançados na área científica de Psicologia Social. É licenciado em Administração e Gestão Escolar e diplomado com o Curso Superior de Música (Piano e Canto). Foi professor em diversas instituições, incluindo o Conservatório de Música da Madeira, a Universidade da Madeira, o Instituto Superior de Ciências Educativas e o Instituto Politécnico de Setúbal. É investigador integrado do CIPEM (Centro de Investigação em Psicologia da Música e Educação Musical), no Instituto Politécnico do Porto, e do INET-md (Instituto de Etnomusicologia - Estudos de Música e Dança (FSCH/Universidade Nova de Lisboa). É Director de Serviços de Educação Artística e Multimédia da Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos do Governo Regional da Madeira.