Esta noite, pelas 21 horas, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, poderemos assistir à estreia de A Rua dos Douradores – Litania da Desesperança, obra do compositor brasileiro Aylton Escobar (1943-), encomenda feita no âmbito de SP-LX – Música Contemporânea do Brasil e de Portugal.

A obra de Aylton Escobar é inspirada no Livro do Desassossego, de Bernardo Soares (semi-heterónimo de Fernando Pessoa), ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa. Segundo o ortónimo, trata-se não de um heterónimo por não se afastar totalmente da personalidade do próprio Pessoa mas “uma mutilação dela”. A obra literária é de carácter fragmentário e, apesar de apresentar pontos narrativos, é principalmente uma reunião de excertos descritivos e de divagação do próprio autor, que manifesta preocupações evidentes com temas como o sonho, a língua portuguesa, o sentimento, o tédio, no que alguns consideram como a expressão mais directa tanto de Bernardo Soares como de Fernando Pessoa, intimamente ligados e quase indissociáveis.

Compositor e maestro brasileiro, Aylton Escobar foi aluno de Osvaldo Lacerda e de Camargo Guarnieri na Academia Paulista de Música, onde estudou fundamentalmente Composição. Mais tarde especializou-se em música electrónica em Nova Iorque, com Vladimir Ussachevsky e Mario Davidovsky. Recebeu o Prémio Molière, o Prémio Governador do Estado de São Paulo e da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e é membro da Academia Brasileira de Música. É professor de Orquestração, Composição e Direcção na Universidade de São Paulo (USP) e foi director da Universidade Livre de Música e dos Festivais Internacionais de Música de Campos do Jordão (1993-97), bem como maestro titular e director artístico de várias orquestras brasileiras. Actualmente é maestro adjunto da Orquestra Sinfónica de Câmara da Universidade de São Paulo.

O concerto, pela Orquestra Gulbenkian, dirigido por Joana Carneiro, contará com a participação da soprano Dora Rodrigues, num programa constituído também por obras de Arturo Márquez (Danzon nº 2), Heitor Villa-Lobos (Bachiana brasileira nº 5), Leonard Bernstein, e Maurice Ravel (Boléro). O concerto será repetido amanhã,Sexta-feira, pelas 19 horas, também no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.

Sobre o autor

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Isabel Pina é doutoranda e bolseira de doutoramento em Ciências Musicais Históricas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, interessando-se principalmente pelo estudo da história da música em Portugal nos séculos XIX e XX, música e ideologia, nacionalismo, análise e semiótica musical, e imprensa e crítica musical. Concluiu o mestrado em Ciências Musicais tendo apresentado a dissertação “Neoclassicismo, nacionalismo e latinidade em Luís de Freitas Branco, entre as décadas de 1910 e 1930”. É actualmente voluntária na Biblioteca Nacional de Portugal, tendo estagiado no Museu da Música. Enquanto colaboradora do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM), é membro do Grupo de Teoria Crítica e Comunicação, do SociMus (Grupo de Estudos Avançados em Sociologia da Música), e co-fundadora do Núcleo de Estudos em Música da Imprensa.