A estreia moderna e gravação da obra sinfónica, sacra e concertante, da música de câmara e da música para bailado de Francisco António Norberto dos Santos Pinto – para a qual contribuíram César Viana, Luís Filipe Carreiro, Pedro Neves, Martin André, Emily Ray, João Paulo Santos, Patrycja Gabrel, Carolina Figueiredo, Fernando Guimarães, Rui Baeta, Luís Tomé Correia, Paulo Veiga, Carolino Carreira, Paulo Guerreiro, Alex Rosenfeld, Valter Faria, Daniel Costa, Rui Magno Pinto, Coro Sinfónico do Coral de São José, Sinfonietta de Ponta Delgada da Quadrivium-Associação Artística, Orquestra Filarmonia das Beiras, Orquestra Sinfonia B, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Orquestra Sinfónica do Porto-Casa da Música, Mission Chamber Orchestra of San Jose, Quarteto de Cordas de Sintra, Ensemble Odeon, Banda Sinfónica da Polícia de Segurança Pública e Ensemble da Banda Municipal do Funchal, entre outros – prosseguiu, a 23 de Outubro último, no âmbito do Festival de Música de São Roque, com a prèmiére da Missa a três vozes, de tenores e baixo, e orquestra [em Fá maior] (1844) por Marco Alves dos Santos, Tiago Matos e o Ensemble MPMP, sob a direcção de Jan Wierzba. A edição crítica moderna daquela obra – com transcrição de Luís Salgueiro, revisão de Rui Magno Pinto e Jan Wierzba e coordenação de Edward Ayres d’Abreu e Duarte Pereira Martins – será disponibilizada brevemente no catálogo de edições do MPMP.


Graças à colecção exaustiva de Ernesto Vieira, a variegada produção para banda marcial e para instrumentos de sopro com acompanhamento de orquestra, banda, pequeno ensemble ou piano de Francisco António Norberto dos Santos Pinto surge como um dos mais antigos repositórios (se não o mais antigo) para a compreensão de particulares temáticas e contextos do meio musical primo-oitocentista português. Vários estudos académicos portugueses sobre a sua actividade como intérprete, pedagogo, compositor e membro directivo-associado das corporações musicais servem como incentivo e fundamento ao estudo de vários outros compositores-intérpretes-maestros portugueses – a quem se deve reatribuir o reconhecimento outrora conferido pelas sociedades portuguesas – em simpósios científicos e eventos musicais nacionais e internacionais. Nesse ensejo, oferecemos um breve resumo da 22.ª conferência da Internationale Gesellschaft zur Erforschung und Förderung der Blasmusik, que tem como propósito dar a conhecer as iniciativas daquela instituição académica – que meritoriamente reúne associados de vários países europeus e americanos – e as linhas actuais de investigação na música para instrumentos de sopro.

A Internationale Gesellschaft zur Erforschung und Förderung der Blasmusik (Sociedade Internacional para a Investigação e Promoção da Música para Instrumentos de Sopro) realizou em Öberwolz (Estíria, Áustria), entre 21 e 26 de Julho passado, a sua 22.ª conferência bienal, que tomava como temática geral Música para sopros na Sociedade. Trinta e cinco investigadores de doze países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Canadá, Espanha, Estados Unidos da América, França, Grécia, Holanda, Itália, Luxemburgo e Portugal), acolhidos pelos membros da Direcção do IGEB, Francis Pieters, Damien Sagrillo e Doris Schweinzer, e demais entidades estatais no Österreichisches Blasmusikmuseum (Museu Austríaco de Música para Sopros) – constituído pelo falecido presidente da direcção daquela instituição, Bernhard Habla –, debruçaram-se sobre várias problemáticas, em estudos transversais e específicos sobre a função, actividade e instrumentação de bandas militares, comunitárias e escolares e de particulares agrupamentos de sopro de comunidades autóctones (Camus, Cohen, Eiland, Jakobs), migrantes (Milheiro) e presidiárias (Messerschmidt); géneros musicais para banda – essencialmente devocionais, tais como a marcha fúnebre, a missa e a música de defuntos (Bly, Pieters, Gasche) –; obra e actividade de compositores, compositores-intérpretes e compositores-maestros/regentes austríacos, norte-americanos, britânicos, franceses, germânicos, italianos e espanhóis (Cambon, Mitchell, Mitchell, Smith, McCormick, Saldarini, Bennefield, Dimitrikoulakos, Murschinski, Wollam, Manfredo, Popiel, Kinder, Zevenberger, Moreno, Anzenberger-Ramminger, Anzenberger); repertório, programação concertística e nacionalismo musical em específicas cidades europeias e norte-americanas, com especial enfoque em efemérides (Alber, Verena; Heidler, Pinto); prática coeva de instrumentos de sopro (Delisle); organologia (Joppig); e música para sopros, música coral e globalização (Sagrillo, Brusniak).

O programa do congresso e os resumos das comunicações podem ser consultados aqui. Vários dos estudos apresentados serão publicados, em 2017-2018, no novo número da colecção AltaMusica. Especial menção deve ser feita à apresentação da investigação dos laureados do Fritz Thelen Prize, Björn Jakobs (Alemanha), premiado pela dissertação de doutoramento sobre“a história e o desenvolvimento das bandas de música militares e amadoras nos círculos musicais de Saarlouis”, e Gloria Rodriguez (Espanha), congratulada com uma menção honrosa pela dissertação de doutoramento sobre a actividade do clarinetista, pedagogo e compositor espanhol Miguel Yuste Moreno (1870-1947).

Mais informações sobre a candidatura ao Fritz Thelen Prize podem ser consultadas no sítio acima referido. A Therese Kerbey foi também atribuída uma menção honrosa pela dissertação sobre “a história da 14.ª Banda da Armada [norte-americana] (1949-1976)”. O espírito de partilha científica, o convívio e o intercâmbio cultural foram ainda animados por vários eventos musicais por agrupamentos de sopro locais – pelo quarteto de metais da banda de Winklern-Oberwölz, pelo quarteto de metais “Halb vier”, por uma banda comunitária de Tamsweg e pela banda comunitária de Winkern-Oberwölz. A direcção do IGEB iniciou já os trabalhos para a 23.ª conferência internacional, que se realizará em 2018.


artigo pertencente a colectânea dedicada a F. Santos Pinto

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Sobre o autor

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Rui Magno Pinto é doutorando em Ciências Musicais Históricas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e colaborador do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical. A sua dissertação, orientada por Paulo Ferreira de Castro, discute a "emergência de uma cultura sinfónica em Lisboa entre 1860 e 1911". Concluiu em 2010 o mestrado em Musicologia Histórica, com a dissertação “Virtuosismo para instrumentário de sopro em Lisboa (1821-1870)”. Foi bolseiro de projectos de investigação financiados pela FCT e orientados pelo CESEM: "Património Musical — Fundação Jorge Álvares" (Julho a Dezembro de 2011) e "O Teatro de São Carlos: as artes performativas em Portugal" (Outubro de 2007 a Setembro de 2010).