Está para muito breve o lançamento da primeira gravação da obra Trionfo d’Amore, scherzo pastorale, do compositor setecentista Francisco António de Almeida. A gravação esteve a cargo do agrupamento Os Músicos do Tejo, com direcção de Marcos Magalhães, do grupo vocal Voces Caelestes e dos solistas Ana Quintans como Nerina, Carlos Mena como Arsindo, Joana Seara no papel de Termosia, Fernando Guimarães como Adraste, Cátia Moreso como Giano e João Fernandes no papel de Mirenio. Trionfo d’Amore, scherzo pastorale é uma serenata para seis vozes composta para a celebração do dia do nome do rei D. João V, tendo estreado a 27 de Dezembro de 1729 (dia de S. João Baptista) no Palácio da Ribeira, em Lisboa.

 

 

Existe apenas um manuscrito autógrafo de Il trionfo d’amore, em depósito na biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa, e desconhece-se o autor do libreto. Este, de temática mitológica, segue a história de Nerina, apaixonada por Arsindo mas prometida a Adraste, e Arsindo que, denunciado por Termosia, enamorada dele, é, logo no início da primeira parte, condenado à morte por sacrilégio. O engano, a traição e a morte cruzam-se ao longo da obra; contudo, o amor puro e constante acaba por triunfar e a unir, finalmente, Nerina e Arsindo.

Nas palavras de António Jorge Marques, musicólogo e autor do texto do livrete do CD, nesta obra Almeida demonstra ser um compositor imaginativo e melodicamente inventivo, de bons recursos técnicos. Francisco António de Almeida viveu durante a primeira metade do século XVIII. Terá nascido por volta de 1702 e crê-se que morreu em 1755 como uma das muitas vítimas do terramoto que assolou Lisboa. Pertenceu assim à mesma geração dos compositores António Teixeira (1707-1774) e João Rodrigues Esteves (c. 1700-c. 1751) que estudaram no Seminário da Patriarcal e que foram agraciados com bolsas da coroa para irem estudar para Roma, onde puderam contactar com a tradição operática aí praticada e onde absorveram técnicas de composição do stilo concertato. Almeida exerceu o cargo de organista da Igreja Patriarcal de Lisboa e, em 1752, recebeu das mãos do rei D. José I o título de Mestre de Música da Real Câmara. Compôs as óperas La pazienza di Socrate (1733), La finta pazza (1735) e La Spinalba, ovvero il vecchio matto (1739), a serenata L’Ippolito (1952) e a oratória La Giuditta (1726).

A aguardada edição em CD de Il trionfo d’Amore tem a etiqueta da Naxos, editora que em 2011 lançou a gravação de La Spinalba, ovvero il vecchio matto, também com interpretação de Os Músicos do Tejo.

No dia 2 de Outubro, no âmbito do programa do Festival Jovens Músicos 2015, na Fundação Calouste Gulbenkian, será feita a apresentação deste novo CD. Os Músicos do Tejo actuarão mais tarde nesse dia no Grande Auditório. Interpretarão obras de Francisco António de Almeida e C. P. E. Bach. A entrada é livre.

Sobre o autor

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Mariana Calado encontra-se a realizar o Doutoramento em Ciências Musicais Históricas focando o projecto de investigação no estudo de aspectos dos discursos e das sociabilidades que caracterizam a crítica musical da imprensa periódica de Lisboa entre os finais da I República e o estabelecimento do Estado Novo (1919-1945). Terminou o Mestrado em Musicologia na FCSH/NOVA em 2011 com a apresentação da dissertação "Francine Benoît e a cultura musical em Portugal: estudo das críticas e crónicas publicadas entre 1920's e 1950". É membro do SociMus – Grupo de Estudos Avançados em Sociologia da Música, NEGEM – Núcleo de Estudos em Género e Música e do NEMI – Núcleo de Estudos em Música na Imprensa, do CESEM. É bolseira de Doutoramento da FCT.