No dia 15 de Setembro, Sábado, pelas 18h00, será possível ouvir um instrumento único, naquilo que poderemos considerar a sua estreia moderna. O cravo de João Baptista Antunes construído em 1789 e hoje conservado no Museu Nacional da Música é praticamente desconhecido, tendo estado durante muitos anos em reserva, em mau estado de conservação. O instrumento, adquirido pelo Museu em 1944, foi recentemente exposto, já antevendo a fundamental intervenção do luthier Geert Karman, responsável pelo processo de restauro. A apresentação dar-se-á em paralelo com o seu “instrumento irmão”, um dos mais importantes instrumentos da colecção do Museu, o cravo que Joaquim José Antunes construiu em 1758, hoje classificado como Tesouro Nacional.

Os dois instrumentos “irmãos”, de um valor cultural inestimável, são exemplares raríssimos no mundo, uma vez que nos chegaram muito poucos instrumentos de construção portuguesa. Ana Paula Tudela, estudiosa da história dos construtores de instrumentos portugueses, estudou os percursos e caligrafias dos diversos mestres da família Antunes e conseguiu demonstrar que ambos estes instrumentos foram construídos por dois irmãos, filhos de Manuel Antunes (1703-1766), fundador da emblemática oficina que funcionou no Bairro Alto, cuja excelência é internacionalmente reconhecida. Os resultados deste estudo serão publicados brevemente no volume Os Antunes – Mestres portugueses de fazer cravos, pianofortes e pianos (séculos XVIII e XIX), numa edição da Imprensa Nacional – Casa da Moeda e do Museu Nacional da Música.

Geert Karman não tem dúvidas sobre a qualidade de construção, acústica e tímbrica de ambos os instrumentos, destacando em especial o cravo mais recente: “o móvel do instrumento é visivelmente tosco, mas o som é um dos mais belos que já ouvi, nos muitos museus e colecções que conheço em todo o mundo”. O luthier acrescenta que este cravo tem uma mecânica extremamente precisa, o que é notável para um instrumento da sua dimensão, de uma época em que floresciam os pianofortes (ou cravos-de-martelos). Essa influência é claramente perceptível na maior dimensão do instrumento quando comparado com o Antunes de 1758.

Este concerto histórico (A Due Cembali: os irmãos Antunes) foi confiado a Fernando Miguel Jalôto e a José Carlos Araújo, intérpretes que dispensam apresentações no nosso panorama musical actual. Ambos os cravistas são colaboradores assíduos do ciclo Um Músico, Um Mecenas, promovido já há seis anos pelo Museu Nacional da Música, num esforço para divulgar a sua ímpar colecção de instrumentos, com destaque para os instrumentos de cordas e de tecla. Este concerto terá entrada livre, limitada aos lugares disponíveis, e contará com obras de Luigi Boccherini, Antonio Soler e José António Carlos de Seixas, algumas delas transcritas propositadamente para o evento.


Pode encontrar mais informações sobre este concerto aqui.

Sobre o autor

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Licenciado em piano pela Escola Superior de Música de Lisboa, na classe de Jorge Moyano, concluiu o Conservatório Nacional com a classificação máxima, tendo aí estudado com Hélder Entrudo e Carla Seixas. Premiado em diversos concursos, apresenta-se em concerto em variadas formações. Estreia regularmente obras de compositores contemporâneos. Gravou para a RTP/Antena 2, TV Brasil e MPMP: editou, em 2020, o CD “La fièvre du temps” em duo com Philippe Marques. É membro fundador do MPMP Património Musical Vivo, dirigindo temporadas e coordenando inúmeras gravações. Termina, actualmente, o mestrado em Empreendedorismo e Estudos da Cultura do ISCTE. Foi director executivo da GLOSAS entre 2017 e 2020.