Laboratório de iconografia musical
O caso da Capela de Nossa Senhora de Vila Velha da Fronteira
A Capela de Nossa Senhora de Vila Velha da Fronteira localiza-se no Outeiro da Vila Velha, Fronteira, no distrito de Portalegre. Ergue-se, como o nome sugere, no local onde terá nascido a primitiva vila de Fronteira, em princípios do século XIII. Trata-se de um local de peregrinação de fundação gótica, profundamente remodelado no período barroco. Apresenta planta longitudinal de nave única e capela-mor circular, com fachada principal antecedida por galilé. O interior é de uma grande riqueza decorativa. Está integralmente revestido por azulejo polícromo de padrão (nas paredes) e pinturas murais (nas coberturas). A articulação de vários suportes decorativos, como o azulejo, a talha, a alvenaria, o mármore, resultam numa esplêndida fusão conferindo um brilho particular ao espaço interior.
A nave, com cobertura em abóbada de berço, está integralmente decorada por pinturas murais de caixotões figurando cenas da vida da Virgem e santos. A Capela-mor, sobre a qual se debruça o presente trabalho, é de planta circular com cobertura em zimbório de caixotões também decorados por pinturas murais figurando cenas da vida da Virgem, anjos músicos e cantores, putti e os quatro Evangelistas.
As referidas pinturas murais, de inspiração maneirista, encontram-se cronologicamente enquadradas no século XVIII por estudos da especialidade. Não obstante, torna-se difícil a sua datação exacta devido aos sucessivos retoques e novas camadas de tinta aplicadas sobre os originais. É possível, não obstante, que os frescos remontem a épocas mais antigas (séculos XVI ou XVII), uma hipótese que pode ser levantada devido a elementos organológicos mais antigos.
A origem da encomenda não está ainda estudada e carece de pesquisa a fundo, mas é provável que se trate de uma das opções usuais no nosso país no âmbito religioso, nomeadamente as confrarias ou irmandades, comissões de fábricas da igreja ou mecenas particulares. Sobre o caso específico do Alentejo, tido em conta como uma das regiões menos desenvolvidas do país, indica-nos Catarina Vilaça de Sousa:
«[…] A pintura mural parece pois, numa primeira leitura superficial, agradar preferencialmente às populações rurais de fracos recursos: a cenografia fácil e ilusionística do espaço que os seus baixos custos de produção possibilitavam era, por certo, um motivo de atracção de clientelas economicamente desfavorecidas tais como as confrarias e, de uma forma geral, as pequenas paróquias […]».
A decoração da Capela-mor é nobre e está organizada por níveis hierárquicos que ascendem da dimensão terrena à celeste. Num primeiro nível encontramos pinturas murais dos quatro Evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João, identificados por legenda e com os respectivos símbolos, como é exemplo a águia no caso de S. João. A articulação destas pinturas com o azulejo polícromo que reveste as paredes é simplesmente soberba. Sobrepõem-se a este nível de pinturas os episódios principais da vida da Virgem, em cenas bem delimitadas por cercaduras. No nível superior sucedem-se, de forma quase teatral, uma série de anjos, na sua maioria músicos e cantores e, por último, uma camada compositiva com putti.
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ARTIGO PUBLICADO NA GLOSAS 11 ( Clique aqui para ler o artigo completo na versão impressa ).