desde o torso em torno
do teu ombro eu faço eu construo
o meu país o meu irmão de areia e ar
cercado perseguido pelos teus braços de âmbar
entre a terra e o perfume do mar
eu faço algo fluvial para os pássaros
algo de água pura para os teus lábios —
pela tua anca nacarada — eu faço os rios algo azul como este sangue
e as vertentes viradas expostas ao peso desta mão
dadas à clave do vento à melopeia das searas eu faço
porque nas veias tenho este país este sangue
cinzelando a raiz submersa das paisagens construindo as casas:
o cereal moído a orla marítima deste coração: eu escrevo sempre por cima
deste cárcere o declive lírico a raiz do sol dentro da pedra, e esta, a
a agrária paixão deste sangue revolto: e que timbre às mãos isto faz
a força a vergar a erguer os homens nos navios em meio da água
e nos aquedutos a tua fome a vergar o meu sangue luso
a vergar a minha mão fluvial diante do teu rosto
a vergar o que eu quero: este nome do meu sangue erguido
a dizer a pôr a mão o poema cor de ouro sobre o meu ombro
se só tu és este nascimento esta raiz de ouro que é como um esquecimento do espaço
Imagem: Apolo, de Nadir Afonso.
ARTIGO PUBLICADO NA GLOSAS 3, a propósito da música de Joly Braga Santos
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