Junho trouxe-nos duas importantes novidades musicológicas com o contributo crucial dos portugueses Iskrena Yordanova (investigadora do Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal, estrutura promovida pela orquestra Divino Sospiro), Cristina Fernandes (INET-md, Instituto de Etnomusicologia — Centro de Estudos em Música e Dança) e Paulo Ferreira de Castro (CESEM, Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical).

Yordanova e Fernandes assinam como editoras a introdução  de “Padron mio colendissimo…”: Letters about Music and the Stage in the 18th Century. O volume, quarto da colecção Cadernos de Queluz, décimo-terceiro da Specula Spectacula, foi dado à estampa pela editora austríaca Hollitzer Verlag e está à venda por 85 EUR (com peculiar desconto de um cêntimo caso o leitor prefira a versão PDF).

As mais de oitocentas páginas deste extraordinário empreendimento exploram o papel da epistolografia na redescoberta de contextos musicais e teatrais do começo da Europa moderna, observando, depois de um primeiro capítulo sobre Pietro Metastasio, contextos geográficos diversos: as corte imperiais de Viena e de Roma, Lisboa, Itália central, Nápoles, Veneza, Itália do Norte, Hamburgo, o “Velho” e o “Novo Mundo”.

A correspondência analisada desvela a circulação de repertórios e de profissionais e seus percursos biográficos, testemunha a realização de eventos marcantes, debruça-se sobre problemas particulares de produção e sobre temas sociais diversos. Simultaneamente, e segundo a descrição da editora,

archival sources, private letters, and official documents are not only rich in precious data and information, but can also provide material for new research perspectives, related both to their methodological  implications and to the interpretation of music and theatre in a given time and place, along with raising questions about historical performance practices and their current revival.

 


 

 

Da investigação sobre o barroco viajamos até às mais recentes reflexões teóricas sobre o conceito de intertextualidade. Paulo Ferreira de Castro acaba de co-editar, na referencial Routledge, juntamente com Violetta Kostka e William Everett, a monografia Intertextuality in Music: Dialogic Composition.

O instigante volume de cerca de duzentas e cinquenta páginas, à venda por 120 libras (ca. 33 na versão digital) inicia-se com várias reflexões sobre as possíveis acepções do termo. O primeiro texto, “What Is (Is There?) Musical Intertextuality”, é assinado por Lawrence Kramer. Nas páginas seguintes abordam-se temas como Poetics of Music, transtextualidade à luz de Gérard Genette, construção de significado em “música intertextual” — aqui observando-se, em particular, casos de Kurtág, Berio e Thomas Adès. Na síntese da editora,

The concept of intertextuality — namely, the meaning generated by interrelations between different texts — was coined in the 1960s among literary theorists and has been widely applied since then to many other disciplines, including music. [This book] provides a systematic investigation of musical intertextuality not only as a general principle of musical creativity but also as a diverse set of devices and techniques that have been consciously developed and applied by many composers in the pursuit of various artistic and aesthetic goals.

Sobre o autor

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Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.