O Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro anunciou um novo projecto, designado Brasil em Concerto, com o objectivo de «apresentar ao público internacional a longa tradição de música de concerto no Brasil, que se estende do século XIX aos nossos dias», de acordo com um comunicado emitido por aquele órgão.
O programa resulta da iniciativa do Departamento Cultural do Ministério dos Negócios Estrangeiros, responsável pela concepção e financiamento, e congrega os contributos da Academia Brasileira de Música, da editora Naxos, da Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo (OSESP), da Orquestra Sinfónica do Estado de Minas Gerais e da Orquestra Filarmónica de Goiás, juntamente com agrupamentos corais e numerosos solistas vocais e instrumentais. Prevê-se que até 2023 sejam gravadas, num conjunto de 30 CDs, cerca de 100 obras sinfónicas, muitas das quais hoje esquecidas, de compositores brasileiros. O desenvolvimento integral do projecto, ao longo dos próximos cinco anos, terá um custo de 700 000 reais (aproximadamente 160 000€), integralmente financiado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro.
Nas palavras do embaixador Santiago Mourão, Subsecretário-Geral de Assuntos de Cooperação Internacional, Promoção Cultural e Temas Culturais do Itamaraty, “Trata-se de uma operação de enorme valor cultural. O custo não é alto, em relação ao objectivo traçado, mas o valor do resultado será inestimável. Este é um passo enorme para a recuperação do repertório sinfónico brasileiro, que ainda é muito pouco conhecido.”
Um dos propósitos assumidos à partida com este programa é constituir uma discoteca da música brasileira de épocas recentes que possa cumprir uma função de referência. Entre os compositores cujas obras figurarão nesta discoteca contam-se Alberto Nepomuceno, Carlos Gomes, Henrique Oswald, Heitor Villa-Lobos, Francisco Mignone, Lorenzo Fernandez, Camargo Guarnieri, Claudio Santoro, José Siqueira, César Guerra-Peixe, Edino Krieger e Almeida Prado. Destes autores há muitas obras sinfónicas e de câmara que permanecem ainda inéditas, lacuna que se procurará também suprir. Ainda segundo o embaixador Santiago Mourão, «Recebemos das nossas embaixadas muitos pedidos de informações de maestros sobre partituras de compositores brasileiros, que antes não tínhamos como atender.» Também a perspectiva da internacionalização é um factor importante deste programa. De acordo com a nota divulgada pelo Itamaraty, a editora discográfica Naxos «possui uma extensa rede de distribuição internacional e plataforma de comercialização online. Reconhecida pelo carácter quase enciclopédico do seu catálogo, e por uma direcção artística que privilegia gravações de obras e compositores menos conhecidos, a associação do projecto Brasil em Concerto com a Naxos representou um passo fundamental para alcançar a ampla difusão da música erudita brasileira.»
A primeira gravação que figurará neste catálogo é da Orquestra Filarmónica de Minas Gerais, sob a direcção de Diomar Silveira, num disco com obras de Alberto Nepomuceno (1864-1920), cujo lançamento está agendado para Fevereiro de 2019. Um dos discos com sinfonias de Claudio Santoro (1919-1989) estará a cargo da Orquestra Filarmónica de Goiás (das 14 sinfonias do compositor, apenas cinco foram, até hoje, gravadas), enquanto a OSESP gravará, numa primeira fase, obras de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e de três compositores de São Paulo: Francisco Mignone (1897-1986), Camargo Guarnieri (1907-1993) e Almeida Prado (1943-2010).
Serão gravadas pela primeira vez obras tão significativas da Música Brasileira como a série completa de sete Choros orquestrais de Camargo Guarnieri, a oratória Candomblé de José Siqueira (1907-1985), ou os Pequenos Funerais Cantantes de Almeida Prado, compostos sobre poemas de Hilda Hilst.
A apresentação pública do projecto Brasil em Concerto realizou-se a 22 de Novembro, no Palácio Itamaraty (sede do Ministério dos Negócios Estrangeiros brasileiro), com um concerto da Orquestra Filarmónica de Goiás, em que foram interpretadas obras de Edino Krieger e Claudio Santoro. A ocasião marcou também os 90 anos de Edino Krieger e iniciou as celebrações do centenário de Claudio Santoro, em 2019.