Durante três dias, o Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md), o Instituto de História Contemporânea (IHC) da FCSH/NOVA e a Câmara de Grândola uniram esforços para promover a Conferência Internacional Canção de Protesto e Mudança Social integrada nas actividades do primeiro ano do Observatório da Canção de Protesto (Grândola).
De 15 a 17 de Junho, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa recebeu um conjunto de investigadores internacionais que puderam partilhar o seu trabalho com a comunidade científica. Ao longo destes dias esteve patente a exposição ‘Discos na Luta e a Revolução dos Cravos’ com cerca de 200 capas de discos de uma extensíssima colecção particular de Hugo Castro (Doutorando do INET-md/FCSH). Esta exposição proporcionou uma visão alargada dos discos que compuseram a paisagem sonora do processo revolucionário, antes e depois da Revolução dos Cravos.
A ICPSong’16 contou com a presença de cerca de sessenta investigadores de países como Reino Unido, Espanha, Estados Unidos da América, Brasil, Itália, Alemanha, África do Sul e Hong-Kong com o intuito de promover o debate em torno do papel da música como forma de protesto. Os três keynote speakers apresentaram reflexões diferenciadas acerca de problemáticas contemporâneas onde a música assume um papel fundamental enquanto veículo ideológico: David McDonald (Indiana University, Bloomington, USA) apresentou o seu trabalho sobre canção de protesto e resistência palestiniana; Michael Frishkopf (University of Alberta, Canada) reflectiu acerca da música e as novas revoluções árabes; e Noriko Manabe (Temple University, USA) deu a conhecer o seu trabalho sobre canções e o movimento antinuclear no Japão. Ao longo destes três dias, os participantes puderam ainda participar nos workshops de Cante Alentejano com Celina da Piedade e canto polifónico das Heróicas de Fernando Lopes-Graça com Vítor Lima. Os trabalhos desenvolvidos foram apresentados no concerto final, no último dia de conferência, no espaço exterior da FCSH/NOVA, contando ainda com a participação do trio de música brasileira de João Nogueira e com o banjo e a voz de Anthony Seeger (UCLA / Smithsonian Folkways Recordings), sobrinho do pioneiro Pete Seeger.
Para além de comunicações e workshops, a conferência proporcionou uma troca de experiências entre académicos e os agentes envolvidos na produção musical. Deste modo, foram convidados a participar no debate José Jorge Letria, João Afonso e Viriato Teles numa mesa redonda sobre José Afonso; Carlos Alberto Moniz, Carlos Mendes, José Zaluar Basílio e Vítor Sarmento que debateram o papel da canção como símbolo de resistência e protesto na instauração da democracia em Portugal; Carlos Moreira e António Moreira que partilharam as suas experiências enquanto membros da Juventude Musical Portuguesa, do GAC e do Coro “O Horizonte é Vermelho” e os diferentes caminhos que seguiram enquanto músicos; Amélia Muge, Maria João Fura e Anarchiks numa mesa redonda composta por mulheres protagonistas na cena da canção de protesto; e, a encerrar as sessões de trabalho, José Mário Branco que nos falou de uma “música para ouvir de olhos abertos”.
Sessão com o Keynote speaker David A. McDonald, dia 15 de Junho de 2016
Esta conferência animou outros espaços dentro e fora da cidade de Lisboa. O primeiro dia terminou com um concerto no mítico espaço do Convento do Carmo com a participação do Coro de Câmara da Universidade de Lisboa e sua interpretação de sete Canções Heróicas de Lopes-Graça, do duo de Maria Soeiro – Violoncelo — e Adriano Nogueira – Piano — também com duas interpretações de Lopes-Graça, do Quarteto de Cordas dos Solistas da Orquestra Metropolitana de Lisboa com o Quarteto Cordas n.º 22, Op. 92 de Prokofiev e um arranjo de uma obra de José Afonso e, para a terminar a noite, com a Guitarra e a Voz de João Afonso e a Guitarra de João Ricardo Pinto (INET-md/FCSH) com três canções do próprio João Afonso e três do seu tio José Afonso.
O segundo dia foi marcado pela visita à Vila de Grândola, ao Observatório da Canção de Protesto e à Sede da Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense onde José Afonso foi recebido em 1964 e à qual dedicou a canção Grândola Vila Morena. O convívio proporcionado depois da comunicação de Michael Frishkopf no Cine-Teatro Granadeiro (Grândola) foi um momento informal de partilha entre os diversos participantes desta conferência e um bom exemplo da hospitalidade desta Vila que tem “em cada rosto um amigo”.
Mesa Redonda: A canção, símbolo de resistência e de protesto na instauração da democracia em Portugal, dia 15 de Junho de 2016 com (da esq. para a dir.) Carlos Mendes, José Zaluar Basílio, Cristina Pereira Leite, Carlos Alberto Moniz e Victor Sarmento.