Com apoio do governo português, um grupo de 101 pessoas constituído por alunos, professores, funcionários e seus familiares do Instituto Nacional de Música do Afeganistão chegou a Portugal na semana passada, segundo o director do Instituto Nacional de Música do Afeganistão (ANIM). Cerca de metade deste grupo são mulheres, algumas delas fazendo parte da Zohra, a primeira orquestra feminina do Afeganistão, formada por trinta e cinco raparigas entre os 12 e os 18 anos. Fundada e dirigida por Ahmad Sarmast, a formação tem vindo a recuperar a tradicional música afegã, ameaçada com a chegada dos talibãs ao poder em 1996.

As articulações para a vinda deste grupo começaram já em Agosto, com intermediação de Ahmad Naser Sarmast, musicólogo afegão, galardoado com o prestigiado Polar Prize, designado por muitos como o Prémio Nobel da Música. Sarmast é refugiado em Melbourne, na Austrália.

Devido a dificuldades colocadas pelos talibãs, os músicos só puderam viajar na semana passada, graças à ajuda da Embaixada do Catar em Cabul, sendo transportados em pequenos grupos até ao aeroporto da cidade.

 

 

Portugal é o país de eleição pela sua disponibilidade e pela familiaridade do país, já que, em 2018, o Instituto Nacional de Música do Afeganistão fez uma visita a Lisboa. Com um concerto único, a jovem orquestra formada por raparigas afegãs participou na edição de 2018 do Festival Jovens Músicos, no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian.

O compositor Luís Tinoco partilhou no seu Facebook uma mensagem de felicitações, lembrando que

No final de Setembro de 2018 terminámos outra edição do Festival Jovens Músicos, na qual tivemos a comovente participação da Orquestra Zohra, formada por jovens raparigas afegãs. Despedir-me deste grupo maravilhoso no aeroporto foi um momento difícil, por estar consciente da incerteza que ainda pairava sobre o seu futuro. Mas estava longe de imaginar que, passados apenas três anos, o terror do regime talibã estaria de regresso. Desde o final de Agosto que tenho aguardado as boas notícias que surgem agora confirmadas na nossa imprensa. Os últimos dias têm sido mais felizes, por saber que o nosso país aceitou acolher a comunidade de músicos (alunos, professores e suas famílias) e que a sua saída de Cabul tinha sido bem sucedida. Agora resta aguardar pelo reencontro com estes amigos, muito em breve, e esperar que a nossa comunidade musical possa juntar esforços para tornar a vida destas pessoas mais tranquila e feliz. 

Sobre o autor

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Diplomada pela Universidade de São Paulo, onde se licenciou em História, concluindo o mestrado e o doutoramento em Arqueologia e integrando o LARP, Laboratório de Arqueologia Romana Provincial, enquanto Supervisora de Programas e Pesquisas. Foi docente de História da Arte em diversas instituições universitárias e no MASP, Museu de Arte de São Paulo. Realizou o estágio doutoral no Collège de France, Paris, especializando-se depois em Gestão Cultural no SENAC, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, e concluindo o mestrado em Empreendedorismo e Estudos da Cultura — Património no ISCTE, Lisboa, tendo neste âmbito sido distinguida com um Prémio de Excelência Académica.