Chegada a Primavera, é também altura de ser anunciado o programa de mais uma edição dos Dias da Música em Belém, festival que decorre anualmente no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, no último fim de semana de Abril. O tema deste ano junta música e cinema em mais de cinquenta concertos e actividades paralelas, como palestras ou oficinas para os mais novos. O tema em si é bastante sugestivo e levará certamente muito público ao Centro Cultural de Belém nos dias 24, 25 e 26 de Abril.

O programa, anunciado no passado dia 23 de Março, toca várias épocas e estilos de música, da idade média ao século XX, da música erudita à música popular. Esta diversidade tem marcado todas as anteriores edições dos Dias da Música (ainda que os programas acabem por se centrar sobretudo na música do classicismo e do romantismo), mas é particularmente potenciada pelo tema deste ano. Assim, para dar um exemplo, enquanto numa sala se escuta Franz Schubert pelo Ensemble Darcos (concerto B13), à mesma hora Lara Martins e João Paulo Santos interpretam peças da Broadway de Irving Berlin, George Gershwin e Richard Rodgers, entre outros (B23).

Os caminhos a escolher e as sonoridades a descobrir são muitas. Em cada uma das salas cruzam-se obras de música “apropriadas” pelo cinema e obras escritas especificadamente para a imagem. De entre as primeiras encontram-se casos como o Adagietto da 5.ª Sinfonia de Gustav Mahler, para sempre associado aos espaços e trama de A morte em Veneza de Luchino Visconti (B15, B17, C17), a abertura de Assim falava Zaratustra, de Richard Strauss (2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrik) (A1), ou o Concerto para clarinete de W. A. Mozart, que tão bem ilustra as vastas paisagens de África minha, de Sydney Pollack (B10). Pedro Burmester sugere uma viagem até aos filmes de Pier Pasolini a partir de obras de J. S. Bach (B31), recital que faz parte do projecto CINECOA, com imagens cedidas pela Cinemateca de Bolonha. E o grupo Syrinx: XXII (C19) percorre alguns dos filmes de Woody Allen através de excertos de Sonho de uma noite de Verão de Felix Mendelssohn (Comédia sexual de uma noite de Verão), de Amor das três laranjas de Sergei Prokofiev (Nem guerra, nem paz), Cheek to cheek de Irving Berlin (Rosa púrpura do Cairo) ou Concerto em fá menor BWV 1056, de J. S. Bach (Ana e as suas irmãs).

Nos concertos com composições escritas especificamente para filmes, será possível escutar os mais populares temas de John Williams, de filmes como A Lista de Schindler e A Guerra das Estrelas, ou as sonoridades escuras e inquietantes do cinema de terror e de thrillers, como é exemplo a música de Bernard Herrmann para o filme Psico, de Alfred Hitchock. No Sábado, o Quinteto de Richard Galliano presta homenagem a Nino Rota (B6) e, um pouco mais cedo, Gonçalo Pescada e Yan Mikirtumov apresentam obras de Ennio Morricone (B26). Do cinema soviético chega uma obra emblemática de Sergei Eisenstein e S. Prokofiev, Alexandre Nevsky, interpretado pelo Coro do Teatro Nacional de São Carlos e a Orquestra Sinfónica Portuguesa sob a direcção de João Paulo Santos (B5).

O cinema português também está representado pelas mãos de Mário Laginha, que irá executar as composições de Bernardo Sassetti para o filme Alice (B9) e pela interpretação de Vera Morais, Mário Franco e Francisco Sassetti que apresentam peças de Frederico de Freitas, Luiz de Freitas Branco, Raul Portela, Wenceslau Pinto e Ruy Coelho, entre outros, para filmes como A Severa, Bocage, Camões, Aldeia da roupa branca ou O Costa do castelo (B28).

Pode-se escutar também árias de ópera (B24), opereta (C12), ou clássicos dos anos de ouro dos estúdios da MGM (C9). Artur Pizarro, que irá tocar em mais do que um concerto, e Rinaldo Zhok interpretam obras para piano retiradas de desenhos animados (C16), num recital indicado para os mais pequenos e para os mais crescidos (quem é que não ouviu pela primeira vez a Rapsódia húngara n.º 2 de Franz Liszt tocada por Tom & Jerry ou por Bugs Bunny?).

O programa detalhado pode ser consultado no site do CCB e merece ser bem estudado para escolher o que ouvir e que percursos fazer.

A programação paralela é igualmente rica. Para além do habitual ciclo “Aqui há conversa” na Sala de Leitura, que reúne alguns convidados para debater questões e assuntos relacionados com o tema do festival, e dos concertos no Coreto (foyer do piso 2 do Grande Auditório) e na Praça Exterior do CCB, de entrada livre e programa variado, irão ser exibidos vários filmes, cujas bandas sonoras são interpretadas nas salas de concertos. No Espaço Cinema poder-se-á, assim, assistir a filmes musicais ou nos quais a música desempenha um importante papel como Morte em Veneza, Mary Poppins, O submarino amarelo, Psico, Fantasia, Serenata à chuva e Laranja mecânica. Nos dias 22, 23, 25 e 26 de Abril serão também exibidos alguns filmes mudos de Charlie Chaplin, Buster Keaton e George Méliès, acompanhados ao piano por Filipe Raposo. Decorrem também várias oficinas, dirigidas aos mais novos. Repete-se igualmente nesta edição os concertos por alunos de conservatórios, academias e escolas de música, na Sala Amália Rodrigues, ao longo dos três dias do festival.

Este ano, pela primeira vez, os Dias da Música saem das portas do CCB e, em conjunto com o festival de cinema Indie Lisboa (que decorre de 23 de Abril a 3 de Maio), celebra a música no cinema com um concerto pelo Alis Ubbo Ensemble e a projecção de Around the world in 50 concerts, da realizadora Heddy Honigmann,  no cinema São Jorge, a 23 de Abril.

Algumas informações úteis: a letra na numeração dos concertos representa o dia do concerto, A para Sexta-feira (o concerto de abertura), B para Sábado e C para Domingo. Ao adquirir os bilhetes facilita muito saber o código do concerto. Apenas o Grande Auditório tem lugares marcados, para as restantes salas é costume fazer-se fila à porta, por isso, se quer garantir um bom lugar, convém ir para a fila cedo e ter sapatos confortáveis. O portador de bilhetes para concertos tem acesso a todo o recinto (ao Coreto, ao espaço “Aqui há conversa” e às vendas de livros e CD); encontra-se também à venda um bilhete de recinto. Para as sessões de cinema é necessário adquirir bilhete. As oficinas são de entrada livre mas têm lugares limitados e algumas requerem ser portador de bilhete para um concerto ou ter o bilhete de recinto. Atenção que os bilhetes já estão à venda e podem esgotar. Todas as informações e programação em www.ccb.pt .

Dias da Música em Belém conta com a parceria da Câmara Municipal de Lisboa, da RTP, da Antena 2 e do Indie Lisboa.

Sobre o autor

Imagem do avatar

Mariana Calado encontra-se a realizar o Doutoramento em Ciências Musicais Históricas focando o projecto de investigação no estudo de aspectos dos discursos e das sociabilidades que caracterizam a crítica musical da imprensa periódica de Lisboa entre os finais da I República e o estabelecimento do Estado Novo (1919-1945). Terminou o Mestrado em Musicologia na FCSH/NOVA em 2011 com a apresentação da dissertação "Francine Benoît e a cultura musical em Portugal: estudo das críticas e crónicas publicadas entre 1920's e 1950". É membro do SociMus – Grupo de Estudos Avançados em Sociologia da Música, NEGEM – Núcleo de Estudos em Género e Música e do NEMI – Núcleo de Estudos em Música na Imprensa, do CESEM. É bolseira de Doutoramento da FCT.