Depois de a obra de Hieronymus Bosch ter guiado a programação do Dias da Música em Belém de 2018, este ano o festival regressa uma vez mais ao Renascimento, desta vez à obra de William Shakespeare e à música por ela inspirada.

Os Dias da Música em Belém realizam-se entre os dias 25 e 28 de Abril, no Centro Cultural de Belém em Lisboa. O programa do festival viaja ao encontro das palavras e das personagens criadas por Shakespeare, através da música de compositores seus contemporâneos e de música composta posteriormente, suscitada pela leitura dos seus sonetos e peças. Logo no concerto de abertura interpretam-se obras de um grande admirador do dramaturgo e poeta, Hector Berlioz, nome que se repete noutros dias do festival. Neste concerto serão interpretados Tristia, Op. 18, e Lélio, ou O Regresso à vida (concerto B1).

Foram vários os compositores que, ao longo dos tempos, encontraram inspiração na obra literária de Shakespeare. Desta forma, algumas das suas peças integram o programa do festival. Romeu e Julieta surge na interpretação de Bellini, na ária Eccomi in lieta vesta…Oh! quante volte, de Os Capuletos e os Montéquios (C1), de Berlioz, na sinfonia dramática Romeu e Julieta (C3), de Gounod, num coro e ária da ópera que tem também o título da peça (D3), e de Prokofiev, nas dez peças para piano, op. 75 (D9) e em excertos do bailado Romeu e Julieta (D11), que inclui a famosa marcha dos Montéquios e Capuletos (também tocada no concerto D3). As Alegres comadres de Windsor surge na abertura de Otto Nicolai (C1), e em Falstaff, de Verdi, cujo terceiro acto será tocado no concerto de encerramento (D3). Hamlet, tornado poema sinfónico por Liszt, será interpretado na versão para dois pianos escrita pelo próprio compositor (D8). Macbeth surge na ópera homónima de Verdi, da qual serão executados alguns excertos, e no poema sinfónico de Richard Strauss (D2). Sonho de uma noite de Verão encontra diversas leituras, seja na semi-ópera The Fairy Queen, de Purcell (D1), ou na obra de Mendelssohn (A1 e C11, aqui na transcrição para piano a quatro mãos). Noite de Reis surge no conjunto de canções Songs of the clown, Op. 29, de Erich Korngold (C13, C15), e escuta-se igualmente numa peça de Thomas Morley (C14). Muito Barulho por nada é também revisitado por Korngold em 4 peças para violino e piano, Op. 11 (C13, D11). Rei Lear será adaptado para cena por Alexandre Delgado e Sara Barros Leitão, numa encomenda dos Dias da Música em Belém, em estreia (C5). Também em estreia The seven Ages of Man, para quarteto de cordas, de Tiago Derriça, escrita a partir do monólogo “All the world is a stage”, proferido por Jacques em As you like it (C16).

Um dos compositores em destaque no festival é John Dowland (1563-1626), contemporâneo do dramaturgo. A sua música, delicada e melancólica, poderá ser escutada em algumas ocasiões, nomeadamente no recital de Marco Beasley (tenor), acompanhado por arquialaúde, guitarra e alaúde, dedicado também à música italiana da época (C9), no concerto pela Accademia del Piacere (D7), e no concerto concebido por Nuno Côrte-Real, com o Ensemble Darcos e Ana Quintans (soprano), numa revisitação contemporânea de Lute Songs (C7).

O primeiro dia, Festival Jovem, é consagrado às escolas de Música e à apresentação dos seus alunos e agrupamentos em concerto, como já tem acontecido em edições anteriores. O programa paralelo do festival acontece uma vez mais nos concertos gratuitos do recinto e nas actividades dirigidas às crianças. Acrescenta-se, este ano, a realização de diversas masterclasses orientadas por músicos que participam nos Dias da Música.


Os bilhetes já se encontram à venda. Para mais informações sobre todas as actividades, consulte o programa de Dias da Música em Belém 2019.

Sobre o autor

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Mariana Calado encontra-se a realizar o Doutoramento em Ciências Musicais Históricas focando o projecto de investigação no estudo de aspectos dos discursos e das sociabilidades que caracterizam a crítica musical da imprensa periódica de Lisboa entre os finais da I República e o estabelecimento do Estado Novo (1919-1945). Terminou o Mestrado em Musicologia na FCSH/NOVA em 2011 com a apresentação da dissertação "Francine Benoît e a cultura musical em Portugal: estudo das críticas e crónicas publicadas entre 1920's e 1950". É membro do SociMus – Grupo de Estudos Avançados em Sociologia da Música, NEGEM – Núcleo de Estudos em Género e Música e do NEMI – Núcleo de Estudos em Música na Imprensa, do CESEM. É bolseira de Doutoramento da FCT.