Começou a 22 de Outubro mais uma edição do Doclisboa, festival de cinema de documentário. Até 1 de Novembro, ao longo de 236 filmes, dos quais 43 em estreia mundial, propõem-se vários espaços de reflexão sobre o passado e a actualidade e sobre o próprio cinema. Significativo dessa missão é a retrospectiva “’I don’t throw bombs, I make films’ – Terrorism, Representation”, que reune uma série de filmes realizados entre 1967 e 2014, alguns inéditos em Portugal, e que abordam aspectos relacionados com o terrorismo.

Entre as várias secções do Doclisboa, encontram-se alguns filmes em que a música ocupa um papel central e que permitem observar diferentes práticas e vivências musicais, do passado e do presente. Destaco o filme de Johanna Schwartz They will have to kill us first: Malian music in exile, que segue a sobrevivência de músicos malianos fugidos do regime terrorista imposto por jihadistas no Norte do Mali em 2012. O filme será exibido nos dias 30 e 31 de Outubro, no cinema São Jorge.

 

 

Num outro ambiente, a retrospectiva do cineasta Želimir Žilnik, na Cinemateca, traz-nos dois filmes que retratam o ambiente quotidiano da antiga Jugoslávia e em que a música está bem presente. Em Sedam mađarskih balada / Seven Hungarian ballads (1978) será possível escutar música tradicional húngara cantada por habitantes de aldeias de Voivodina e em Placmajstori / Market people (1977) assiste-se aos movimentos, sons e divertimentos da Feira de Šabac. Por outro lado, a selecção de filmes de Frank Scheffer, realizador com uma larga filmografia dedicada à música (é dele, por exemplo, uma trilogia sobre Mahler) incidem na música electrónica e contemporânea. Sonic acts (24 e 29 de Outubro no cinema São Jorge) é um documentário sobre o mundo da música electrónica de Karlheinz Stockhausen, Pierre Henry, John Cage, Michel Waisvisz, Squarepusher e DJ Spooky. The one all alone (25 e 30 de Outubro no Cinema City Campo Pequeno) resulta do fascínio do realizador pela música de Edgard Varèse. The ocean (24 e 29 de Outubro no cinema São Jorge), com a participação de Steve Reich, Brian Eno, Louis Andriessen, Philip Glass e Bang on a Can, explora o mundo e as ligações da música dos últimos trinta anos.

Há muito mais para ver e ouvir. O programa detalhado, bem como todas as informações adicionais, podem ser consultados no sítio oficial do Doclisboa 2015.

 

Sobre o autor

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Mariana Calado encontra-se a realizar o Doutoramento em Ciências Musicais Históricas focando o projecto de investigação no estudo de aspectos dos discursos e das sociabilidades que caracterizam a crítica musical da imprensa periódica de Lisboa entre os finais da I República e o estabelecimento do Estado Novo (1919-1945). Terminou o Mestrado em Musicologia na FCSH/NOVA em 2011 com a apresentação da dissertação "Francine Benoît e a cultura musical em Portugal: estudo das críticas e crónicas publicadas entre 1920's e 1950". É membro do SociMus – Grupo de Estudos Avançados em Sociologia da Música, NEGEM – Núcleo de Estudos em Género e Música e do NEMI – Núcleo de Estudos em Música na Imprensa, do CESEM. É bolseira de Doutoramento da FCT.