Poderá Gustavo Dudamel, o enérgico e brilhante maestro-estrela, ser o próximo titular da Filarmónica de Nova Iorque? A hipótese tem sido avançada, especialmente por estes dias em que o mais internacional músico venezuelano se apresenta a dirigir um ciclo dedicado a Robert Schumann.
Para a Glosas, a felicidade maior deste ciclo está na estreia absoluta, nestes dias 17, 18, 19 e 20 de Março, entre as terceira e quarta sinfonias de Schumann, no Rose Theater do Jazz at Lincoln Center’s Frederick P. Rose Hall, d’Os pássaros da noite, quinze minutos sinfónicos da compositora portuguesa Andreia Pinto Correia, entrevistada do sexto número da nossa revista.
A partitura foi encomendada pela orquestra e inspirada na tristeza partilhada pelo casal Schumann, Robert e Clara, na sua epistolografia. Em particular, a música de Pinto Correia destaca uma carta em que Robert, escrevendo a um amigo, evoca “os pássaros melancólicos da noite [que] voam ainda em torno de mim de tempos em tempos”.
Joshua Barone, no The New York Times, sublinhou na obra a capacidade de evocação de uma noite de angústia infinda: “[it] is the account of one harrowing night, in which strings, droning or in a haze of harmonics, underlie the sorrowful cries of a trumpet. A wearying set of nocturnal episodes, it would be a fitting horror soundtrack, its mood transparent in gestures like upward runs in the winds — a sinister curlicue of moonlit fog — accompanied by matching upward glissandos in the violins. As in any night of sleepless anxiety, the darkness lingers, seemingly interminable, until it doesn’t”.
Andreia Pinto Correia nasceu em Lisboa em 1971 e vive actualmente em Nova Iorque. As suas composições têm sido apresentadas em vários palcos internacionais. Em 2020, foi distinguida pela Academia das Artes e das Letras dos Estados Unidos da América. Na temporada de 2022-2023 haverá novas composições a estrearem-se pela OSESP, Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo, no Brasil, e pela Orquestra Gulbenkian, Lisboa. Mal podemos esperar.