Vimos do mar e da montanha trata-se de um CD de música contemporânea litúrgica que reúne obras dos compositores João Andrade Nunes e Alfredo Teixeira, com textos de José Augusto Mourão e de vários livros bíblicos. É o primeiro projeto discográfico do Ensemble São Tomás de Aquino, uma iniciativa músico-litúrgica desenvolvida por músicos profissionais. Esta primeira edição vem acompanhada de um livro que reúne uma reflexão do compositor Alfredo Teixeira, uma apresentação biográfica dos compositores, intérpretes e direção, bem como as partituras e os textos.

A gravação foi realizada na Igreja São Tomás de Aquino, em Lisboa, em setembro de 2020, e publicada pela PAULUS Editora. Nela participaram dezasseis coralistas divididos em quatro naipes, acompanhados pela flauta transversal, oboé, corne inglês, saxofone soprano, guitarra e órgão, dirigidos por João Andrade Nunes e Maria de Fátima Nunes. A escolha da guitarra é de particular interesse, pois não é comummente usada no contexto litúrgico, assumindo o papel de acompanhamento em duas das dezoito músicas gravadas. Importa também referir a relevância do órgão como instrumento responsável pela ponte de diálogo entre coro e assembleia. A sua variedade tímbrica, que atinge quinze registos, permite atribuir diferentes texturas e cores às várias secções textuais da obra poética de José Augusto Mourão. Ainda neste tópico, um breve apontamento acerca dos poslúdios improvisados de André Ferreira no cântico Que os nossos lábios te louvem: uma improvisação longa e arrojada, com utilização de diferentes registos e motivos rítmicos que contrastam com a secção coral, abrindo espaço para o papel de solista; e, n’O Senhor vela sobre os seus fiéis, um aproveitamento do material apresentado anteriormente para uma breve improvisação que se encontra em sintonia com o cântico. É de notar a ênfase dada ao órgão que participou em quase todas as obras, contrariamente aos outros instrumentos, que fizeram breves aparições, maioritariamente nas antífonas. A sua presença, ainda que escassa, permitiu criar uma nova atmosfera que se contrapôs ao registo do órgão.

 

 

Relativamente à interpretação coral, o Ensemble STA revelou um som maduro, coeso e homogéneo. A escrita vertical e silábica leva a uma maior necessidade de junção para a percetibilidade do texto, que esteve sempre claro. Podemos assistir a uma dualidade de linguagens, com textos em latim, grego e português. A junção entre instrumentos e vozes também pareceu equilibrada.

Apesar de a música ter sido escrita por dois compositores diferentes, o foco está no mesmo elemento, o texto. Curiosamente, apenas o compositor Alfredo Teixeira utilizou os textos de José Augusto Mourão, talvez devido à familiaridade que tem com eles, resultado de vários anos de estudo. Um outro ponto interessante é a escolha dos instrumentos: enquanto Alfredo Teixeira utilizou um leque mais abrangente, João Andrade Nunes escreveu unicamente para órgão, solução talvez em parte relacionada com o texto. De um modo geral, assistimos a uma estrutura semelhante nos vários cânticos: antífona com acompanhamento instrumental e versículos a cappella, salvo algumas exceções em que o órgão assume o papel de acompanhador.

Em resumo, este disco vem trazer uma nova abordagem à música litúrgica, seja pela utilização de novos textos como de novas sonoridades, que respeitam o elemento mais importante do culto: o texto.

Pode adquirir o seu exemplar no site da PAULUS Editora.

Sobre o autor

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Natural de Viana do Castelo, completou o Curso de Instrumentista de Cordas e Tecla na Escola Profissional Artística do Alto Minho. Prosseguiu os seus estudos em Ciências Musicais na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, na Universidade Nova de Lisboa. Encontra-se, actualmente, a concluir o Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação no ISCTE-IUL, Lisboa.