Queria começar por felicitá-lo pela distinção do programa Rolex Mentor and Protégé Arts Initiative. Como está a correr a parceria com Kaija Saariaho?

Está a correr bem. Este programa é, sobretudo, um prémio. A ideia deles é, num determinado período, associarem um artista com um perfil internacional já estabelecido a um artista mais jovem, em início de carreira ou que começou a carreira há pouco tempo. Eu não conhecia o projecto quando fui convidado a candidatar-me (o programa funciona por convite). Cada um dos pares define o método de trabalho, ou a forma como decorrerá a sua interacção; o que nós temos feito são encontros esporádicos e discussões sobre questões de carreira, exposição… O projecto é muito interessante, por um lado, pelo processo de selecção, feita com bastante cuidado pelo mundo inteiro. Isso significa que, sendo escolhidos, há um certo reconhecimento do nosso trabalho a nível internacional, que é o fundamental. Por outro lado, está desenhado de forma a não haver qualquer tipo de obrigatoriedade de apresentação de uma obra ou espectáculo. Há uma espécie de encerramento do programa, a que eles chamam fim-de-semana de artes, onde é suposto que os vencedores em cada uma das áreas apresentem algum do seu trabalho, sem que tenha, todavia, de ser alguma coisa feita durante este ano.

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E por que motivo é a voz mais importante do que, por exemplo, a música apenas orquestral?

É algo muito pessoal. Eu tenho uma ligação muito forte à voz. Nunca tive nenhum tipo de carreira como cantor, mas sempre gostei muito de cantar, de fazer coro. Acho que é um instrumento especial, em primeiro lugar, por ser o único instrumento que está dentro de nós. Depois, obviamente, pela capacidade de transportar texto. Por último, há para mim qualquer coisa de muito comovente na figura do cantor – e isto já é talvez uma consideração de cariz mais teatral –, que é aquela fragilidade e o risco que eu comparo, por vezes, ao de profissões como, por exemplo, piloto de Fórmula 1, a vulnerabilidade da interpretação vocal em palco. É uma coisa que me comove muito.

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O contexto extra-europeu interessa-lhe ou fascina-o de alguma maneira?

Fascina-me na medida em que tenho sempre curiosidade por algo que não conheça. Tenho necessidade de encontrar coisas e gosto muito de ser confrontado com elas. Mas devo dizer que, activamente, não sinto necessidade de me colocar nesses contextos. Neste momento, digamos que o Ocidente, na Europa, é mais o meu campo de acção.

Há quem diga, no entanto, que o futuro da música poderá não estar na Europa.

Seguramente! Aliás, tenho visto coisas maravilhosas vindas, por exemplo, da América do Sul. Há também compositores maravilhosos em actividade na Coreia. Mas, num certo sentido, é uma espécie de língua franca e cada um vai trazendo o seu gosto local e, portanto, tem mais a ver com a sensibilidade de alguém em específico do que propriamente do contexto cultural. Claro que é importante, mas interessa-me mais procurar um compositor específico.

E de alguma maneira consegue ver na sua obra a influência da cultura portuguesa?

De que eu tenha consciência, não. Naturalmente que o facto de ser deste país e de ter nascido e crescido nesta cultura tem implicações nos meus métodos, nas minhas soluções. Agora, isso será tudo numa esfera muito abstracta, muito profunda. Superficialmente ou visivelmente, por exemplo, a questão da música tradicional não tem influência, nem acho que deva ter, porque é uma coisa que nunca me interessou. O fado nunca me interessou até agora, só para dar um exemplo. Não consigo encontrar um paralelo com esse tipo de implicações, no sentido de informarem as minhas decisões artísticas.

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Sobre o autor

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Licenciado em piano pela Escola Superior de Música de Lisboa, na classe de Jorge Moyano, concluiu o Conservatório Nacional com a classificação máxima, tendo aí estudado com Hélder Entrudo e Carla Seixas. Premiado em diversos concursos, apresenta-se em concerto em variadas formações. Estreia regularmente obras de compositores contemporâneos. Gravou para a RTP/Antena 2, TV Brasil e MPMP: editou, em 2020, o CD “La fièvre du temps” em duo com Philippe Marques. É membro fundador do MPMP Património Musical Vivo, dirigindo temporadas e coordenando inúmeras gravações. Termina, actualmente, o mestrado em Empreendedorismo e Estudos da Cultura do ISCTE. Foi director executivo da GLOSAS entre 2017 e 2020.