No passado dia 28 de Março, o concerto pelo Funchal Baroque Ensemble marcou o reinício das actividades da Associação Orquestra Clássica da Madeira (AOCM), depois de um hiato de cerca de dois anos. A AOCM foi a entidade que promoveu a actividade da Orquestra Clássica da Madeira (desde a sua fundação, em 1964, e até 1998, Orquestra de Câmara da Madeira) até 2006, durante 42 anos — embora nos últimos cinco anos deste período de uma forma partilhada com o Conservatório – Escola das Artes da Madeira.

Foi em 2013, altura em que a AOCM reformulou a sua actividade (cingindo-se a concertos de música de câmara) que foi estabelecida uma parceria com o agrupamento Funchal Baroque Ensemble, criado no mesmo ano sob o nome O Sonho de Orpheu. Este grupo realizou, entre 2013 e 2016, vários ciclos de concertos com carácter descritivo e temático, com especial incidência na música barroca da primeira metade do séc. XVIII, entre os quais: As extravagâncias de Orpheu, Barroco instrumental, Concerto italiano, Advento barroco e Vivaldi: As outras estações. O Ensemble, sob a direcção musical de Giancarlo Mongelli, professor do Conservatório – Escola das Artes da Madeira, propõe uma interpretação historicamente informada, a partir de uma adequada e profunda investigação.

Numa formação alargada, com nove músicos (flautas de bisel: Sara Faria e Carla Abreu; violinos: Sandra Sá e Joana Costa; viola: Marta Moreira; violoncelo: László Szepesi; fagote: Yurii Omelchuk; contrabaixo: Gábor Bolba; cravo: Giancarlo Mongelli), o ensemble actuou no Salão Nobre da Assembleia Legislativa da Madeira, tendo sido a acústica deste espaço revestido em pedra um factor contributivo para a riqueza tímbrica e sonora das interpretações.

Constaram do programa o Premier Ballet de VillageOp. 52 de Joseph Bodin de Boismortier, a Ouverture–Suite TWV 55:C3 Wassermusik e Les Éléments: Symphonie Nouvelle de Jean-Féry Rebel. Sob o título temático A música da Natureza, este programa pretendeu ilustrar a natureza enquanto uma inigualável fonte de inspiração no âmbito do conceito barroco de representatividade afectiva dos sentimentos, que ia para além da mera realização de efeitos imitativos e pretendia induzir nos ouvintes o envolvimento emotivo e transmissão de sentimentos associados. Desde as danças campestres e cenas pastorais retratadas por Boismortier a figuras mitológicas aquáticas, dotadas de corpo e vida pela música de Telemann, terminando com a representação da Criação através da representação musical dos quatro elementos naturais, por Rebel — a variedade de emoções suscitadas e a vitalidade rítmica expressa na interpretação levaram o público entusiasmado a uma standing ovation, aguardando-se, com alguma expectativa, o próximo projecto do ensemble.

Sobre o autor

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Robert Andres é diplomado em piano pela Academia de Música de Zagreb (Croácia), tendo também estudado em São Petersburgo e Viena. Enquanto bolseiro Fulbright, estudou nos Estados Unidos com Sequeira Costa na Universidade de Kansas, tendo recebido o doutoramento em artes musicais, assim como um mestrado em musicologia. Desde 1993 ensina no Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, sendo atualmente professor de quadro e delegado do grupo de instrumentos de tecla. Para além da actividade concertista, orienta regularmente masterclasses de piano e já integrou mais de uma dezena de júris de concursos internacionais. Tem escrito para revistas musicais especializadas, enciclopédias reputadas e jornais. Em 2001 a editora americana Scarecrow Press publicou o seu livro sobre os inícios da abordagem científica da técnica pianística.