O vigésimo número da Glosas, qual fecho de ciclo, celebrou o décimo aniversário do MPMP Património Musical Vivo. Neste novo número, o primeiro de um futuro outro, renasce a vontade de celebrar a música e os músicos portugueses, articulando passado e presente, como desde sempre reza a missão da nossa plataforma.

 

 

Duas efemérides se impõem: os cem anos de Jorge Listopad, os cem anos de Fernando Corrêa de Oliveira.

No primeiro caso, a evocação do encenador faz-se aqui com a reprodução de alguns excertos de textos seus com referência à música. Trata-se de uma seleccção que serviu à dramaturgia do espectáculo que o MPMP promoveu no Teatro Meridional, no dia do centésimo aniversário de Listopad, e que contou com a recitação de A. Baião-Pinto e o piano de Diana Botelho Vieira, este em torno de Leoš Janáček, Filipe Pires, Jorge Peixinho e Constança Capdeville, compositores que lhe eram próximos. Para o próximo ano fica agendada ainda a estreia de uma nova versão d’O diário de um desaparecido de Janáček, uma partitura com intervenção de Miguel Resende Bastos, o nosso Prémio Musa 2020, e do actor e encenador Miguel Loureiro.

No segundo caso, falamos seguramente de um dos nomes mais esquecidos da criação musical portuguesa do século XX. Pianista, mais tarde compositor e pedagogo, Corrêa de Oliveira marca a invenção musical do nosso país como poucos marcaram. Para lembrá-lo, o MPMP promoveu a gravação da integral do ciclo 50 peças para os 5 dedos, interpretado pelo jovem pianista Alexander Stretile, bem como a reedição digital de discos LP históricos, em que colaboraram, entre outros, a pianista Helena Sá e Costa. Estes registos podem já ser escutados nas plataformas digitais habituais. Entretanto, o maior desafio do centenário foi o da revisitação da primeira ópera infantil portuguesa, O cábula, a que se juntou, em bonita homenagem, a estreia absoluta de uma nova ópera infantil de Sérgio Azevedo, quem mais se tem dedicado a estes repertórios na nossa contemporaneidade. Inclui-se neste dossiê especial, como não poderia deixar de ser, uma reportagem sobre este projecto, bem como contributos de Isabel Rei Samartim e de Joana Resende, e uma brevíssima entrevista a Daniel Oliveira, filho do compositor, que nos permitem maior aproximação ao pensamento do autor de Simetria sonora.

Lembramos ainda uma ausência irreparável e muito recente, a do violoncelista Paulo Gaio Lima, intérprete de excelência, coração de inexcedível generosidade para um sem fim de músicos nossos amigos. Ausência, por isso, apenas física, porquanto o seu legado permanece. E entrevistamos duas figuras que nos são também muito queridas e que foram muito importantes no percurso da associação: Leonor de Lucena Sibertin-Blanc, em tempos professora de italiano no Conservatório Nacional, e José Maria Pedrosa Cardoso, musicólogo. Por fim, os nossos associados Isabel Pina e Martim Sousa Tavares trazem-nos — afinal bem a propósito do dossiê dedicado a Corrêa de Oliveira — duas visões sobre o ensino da música: a primeira revisitando o labor do pedagogo e compositor Luiz de Freitas Branco, o segundo reflectindo a partir do pensador e desenhador Francesco Tonucci.

O destaque de capa vai para Sara Ross, voz inspiradora da mais jovem geração de compositores portugueses, e um dos nomes que estará bem presente na agenda do MPMP do próximo ano, a quem agradecemos a beleza da sua música e a gentileza com que aceitou ser entrevistada para este número da revista.

Boas leituras, boas descobertas!

 

 

 


A revista Glosas n.º 21 pode ser encomendada através de mpmp@mpmp.pt .

Sobre o autor

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Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.