E ria feliz, apertando os olhos como uma máscara chinesa, o que lhe dava a aparência de cinco anos de idade. Ele se comprazia não só com os amigos, mas com a alegria de juntar pessoas que pudessem, se encontrando, ampliar idéias particulares e conceber projetos, raciocínios mais completos. Era um regente, um arranjador, um compositor, até no campo das amizades.
Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros in “Guerra-Peixe, a universalidade do nacional”*
De 1974 até 1980, estudei com o Guerra semanalmente. Recomendou-me que chegasse mais tarde,chegue no final que depois a gente sai pra tomar umas e outras. Era o último a ser atendido no Centro de Estudos Musicais, na Avenida Copacabana. Das umas e outras tenho vários guardanapos onde ele escrevia informações para os próximos exercícios. […] Jamais esquecerei aquele micro-lápis, de uns 5 cm., com que corrigia os exercícios. Uma ocasião sugeri um maior, ao que ele logo replicou – Este já conhece os erros, vai no ponto certo.
Guilherme Bauer in “Depoimentos”*
* Citações retiradas de Guerra-Peixe – Um músico brasileiro, ed. Lumiar Editora, Rio de Janeiro, 2007.
O décimo-primeiro número da revista glosas surge depois de um breve interregno (anunciado e explicado no último editorial) que propiciou uma reflexão aprofundada em torno do âmbito e da sustentabilidade do projecto. Decidimos então aumentar o preço de capa – aproximá-lo do custo real de edição e produção –, regressar a uma periodicidade semestral, alargar a equipa de colaboradores e apostar também em conteúdos em-linha, sobretudo os que se referem à actualidade do panorama musical dos países de língua portuguesa.
Nem todas as mudanças são já visíveis: a glosas n.º 11 acabou por ser concebida como número de transição. A nova equipa de colaboradores, que sofreu uma reorganização significativa, a anunciar brevemente, será apenas responsável pelas revistas que se seguirem a esta. Sem querer desvelar precocemente algumas das novidades, direi apenas, para já, que o trabalho de cooperação e diálogo entre os meios musicais dos países de língua portuguesa será reforçado a um nível tão inédito quão promissor, e a qualidade dos conteúdos primará, sempre e cada vez mais, pelo seu interesse e excelência.
Hoje, celebramos o centenário do nascimento de César Guerra-Peixe, brasileiro luso-descendente que conquistou na História da Música universal um lugar de notável relevância. Devo aqui reiterar o nosso agradecimento, pelo inexcedível entusiasmo com que aceitaram o desafio de contribuir para este número, a todos os autores dos textos que lhe dizem respeito, especialmente a Luigarde Oliveira Cavalcanti Barros e Jane Guerra-Peixe (pela energia e amabilidade) e a José Staneck (pela maravilhosa quantidade e qualidade de fotografias que vieram enriquecer as páginas dedicadas ao grande mestre).
Os vinte anos sobre a morte de Lopes-Graça – cuja relação com Guerra-Peixe foi, como veremos, particularmente interessante – são também lembrados com um texto de memórias de Sérgio Azevedo. Para além de diversos pequenos artigos e das rubricas habituais, destacam-se ainda uma grande entrevista a Massimo Mazzeo, pelo décimo aniversário de Divino Sospiro, um artigo em memória do célebre flautista Ricardo Ramalho, o registo de quatro excelentes estreias de jovens compositores na Fundação Calouste Gulbenkian e a segunda e última parte da entrevista a Álvaro Cassuto.
Que o bom-humor e o espírito fraterno de Guerra-Peixe, em epígrafe lembrados, alimente diariamente a nossa vontade de fazer música, de a escutar e de falar sobre ela com a mais vibrátil felicidade.
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Novembro de 2014
96 páginas
Dep. legal 310097/10
ISSN 2182-1380