Gilberto Mendes é o quarto compositor brasileiro (contando com o luso-brasileiro Marcos Portugal) e o quarto compositor vivo a figurar como capa da revista glosas. Se se procurasse homenagear um criador da sua geração no panorama lusófono contemporâneo, outro nome seria actualmente difícil de se lhe equiparar. O leitor deixar-se-á certamente instigar pela liberdade, generosidade, simplicidade e desprendimento que de forma tão transparente se desvelam das suas palavras e nas suas obras. A sua música, hoje, no Brasil não tão reconhecida como seria nosso desejo e em Portugal confrangedoramente ignorada em absoluto, encontra-se aqui e ali com alguma facilidade, muito graças ao mundo digital que tem tornado mais fácil a difusão de registos discográficos (leia-se a este respeito a recensão de Luís Salgueiro acerca do notável projecto da Orquestra Sinfónica do Estado de São Paulo). As páginas deste número que dedicamos a tão augusta personalidade só se completam, de facto, com a audição da sua música, e estou certo de que os nossos leitores não deixarão de a apreciar e de a partilhar — missão por enquanto pouco incentivada pelas nossas instituições maiores: até quando a fatalidade da ignorância geral e do emudecimento persistirá na política diplomática das entidades culturais de língua portuguesa?

Por falar em Brasil, e a propósito de divulgação e de políticas culturais, há um projecto que não pode deixar de ser aqui lembrado e celebrado: o recente restauro da magnífica Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. O que mais me chamou a atenção quando a visitei não foi, contudo, o estado impecável dos seus elegantes espaços, mas antes a programação dos meses de Junho a Agosto, em que o espaço, actualmente dirigido pelo compositor João Guilherme Ripper, acolheu o Festival Brasilianas em parceria com a Academia Brasileira de Música, para comemorar os setenta anos da fundação desta instituição.

A Orquestra Petrobras Sinfónica, a Orquestra Sinfónica da UFRJ, a Orquestra Sinfónica de Barra Mansa, a Banda Filarmónica do Rio de Janeiro, o Quinteto Lorenzo Fernandez (residente na Academia Brasileira de Música) e o Quarteto Radamés Gnattali, entre muitos outros agrupamentos, apresentaram música sinfónica e camerística de alguns dos mais importantes compositores brasileiros do século XX e da nossa contemporaneidade: Carlos Gomes, Heitor Villa-Lobos, César Guerra-Peixe, José Siqueira, Claudio Santoro, Oscar Lorenzo Fernandez, José Antônio de Almeida Prado, Edino Krieger, Jocy de Oliveira, Camargo Guarnieri, Alceo Bocchino, Radamés Gnatalli, Alberto Nepomuceno, Francisco Mignone, Osvaldo Lacerda, José Vieira Brandão, Guilherme Bauer, Raul do Valle, Jorge Antunes, Ilza Nogueira, Ricardo Tacuchian, Edmundo Villani-Côrtes, Ernani Aguiar, Ney Rosauro, João Guilherme Ripper, Ronaldo Miranda, Ernst Widmer, Lindenbergue Cardoso, Sérgio Vasconcellos-Corrêa, Aylton Escobar, Ernst Mahle, Marlos Nobre, Rodrigo Lima, Maurício de Bonis, Beetholven Cunha, Ernesto Nazareth, Ralph Manuel, Mario Ficarelli, Jamary Oliveira, Kilza Setti, Dimitri Cervo, Paulo Costa Lima, José Carlos Amaral Vieira e até, inclusivamente, o português João Pedro Oliveira… Belíssima e inspiradora iniciativa!

Sobre o que mais se poderá encontrar nesta décima-terceira glosas, destaco o dossiê de homenagem a Bernardo Sassetti, que continuará no próximo número com mais textos do (e sobre o) compositor, bem como um estudo iconográfico de Luzia Rocha a partir de cinco fotografias de sua autoria. Devemos à Casa Bernardo Sassetti, aos familiares do homenageado e a Maria João Neves o nosso mais profundo agradecimento pela colaboração oferecida na preparação destes conteúdos, e aos alunos da licenciatura em Jazz da Universidade Lusíada de Lisboa a nossa gratidão pela disponibilidade com que aceitaram participar no concerto de lançamento.

Sublinho também o centenário de Madalena Sá e Costa, efeméride inultrapassável para a qual procurámos reunir vários testemunhos de seus ex-alunos e admiradores e a propósito da qual tivemos a inestimável oportunidade de preparar uma entrevista, bem como de contar com a publicação de um texto da sua própria autoria. Para esta ocasião, seleccionou especialmente Madalena Sá e Costa um autógrafo inédito de Guilhermina Suggia, que muito nos honra dar a conhecer pela primeira vez. E através destas páginas será ainda possível descobrir vários Napoleão, ler uma entrevista a Nuno da Rocha — compositor em fulgurante ascensão —, festejar o regresso da secção “Cadernos de musicologia” com um estudo sobre o tão esquecido Fernando Corrêa de Oliveira e viajar pelas habituais rubricas e breves mas pertinentes contribuições sobre os mais diversos assuntos, dentre os quais, como não poderia deixar de ser, se acha a evocação de Francisco Norberto dos Santos Pinto, cujo bicentenário celebramos no ano corrente.

 


 

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Novembro de 2015
96 páginas
Dep. legal 310097/10
ISSN 2182-1380

 


 

 

LANÇAMENTO
Palácio Foz, Lisboa
1 de Dezembro de 2015, 18:00

Apresentação de Edward Luiz Ayres d’Abreu e Maria João Neves

Momento musical com música de Gilberto Mendes e Nuno da Rocha
Duarte Pereira Martins, piano
Momento musical com música de Bernardo Sassetti
Inês Laginha, piano
Alunos da Licenciatura em Jazz da Universidade Lusíada

Sobre o autor

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Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.