O segundo concerto do ciclo Jovens Solistas da Orquestra Clássica da Madeira, da temporada 2017/2018, decorrido no passado dia 14 de Abril no Teatro Municipal Baltazar Dias, teve três particularidades: além de ter como solista o mais recente vencedor do Primeiro Prémio de Nível Superior Solista da última edição do Prémio Jovens Músicos (Antena 2/RTP), foi efectivamente um concerto de autor, inteiramente dedicado às criações musicais do compositor português Jorge Salgueiro, que também se apresentou enquanto maestro convidado. O solista, o jovem tubista Miguel Canada, natural de Machico, na Madeira, interpretou o cONCERTO fOR TUBA & oRCHESTRA, encomendado e estreado por Sérgio Carolino em 2006 e, entretanto, tocado por mais de duas dezenas de tubistas virtuosos de todo o mundo, mais de metade dos Estados Unidos. Acrescentou-se, com a sua interpretação segura e impressionante, a esse leque de virtuosos o jovem tubista, que, em 2016, concluiu o Curso Profissional de Instrumentista no Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira Eng.º Luíz Peter Clode, e que já venceu, além do PJM, concursos internacionais como o Fórum Internacional de Interpretação Musical e Pedagogia na Madeira e o Concurso Internacional de Instrumentos de Sopro Terras de La Salette. Miguel Canada estuda presentemente na Escola Superior de Música de Lisboa, na classe de Adélio Carneiro.
Depois de um concerto em Novembro último, dedicado ao compositor Luís Tinoco, e de mais este concerto, preenchido inteiramente com obras de um compositor português, pode concordar-se com a caracterização de “Proposta ousada!”, sugerida pela direcção artística; e essa ousadia, além de inquestionavelmente justificada, obteve, mais uma vez e merecidamente, um acolhimento entusiasmado pelo público que encheu o Teatro, “não obstante” a ausência de nomes historicamente consagrados no programa.
A inclusão neste programa, para além do concerto, das obras Cais de Embarque, Sinfonia n.º 5 – Sinfonia dos Dias Ímpares, Abertura para o Gil, e cenas de bailado da ópera Orquídea Branca, numa edição do autor e em exclusivo para a Orquestra Clássica da Madeira, pretendeu focar vários objectivos: dar espaço à literatura musical de criação recente de um compositor tocado internacionalmente, mas que, ao mesmo tempo e há largos anos, tem uma ligação especial com a Madeira, proporcionar reconhecimento e apoio a um jovem músico de futuro promissor, e enriquecer a experiência musical do público regional, sempre muito variado e dinâmico na sua constituição e origem.
O maestro Salgueiro fez uma leitura muito incisiva, precisa e fulgurante das obras do compositor Salgueiro, dirigindo com autoridade e sem partitura todo o concerto e obtendo da orquestra uma resposta de sintonia vibrante e sensibilidade atenta. Quanto à música, ela comprova que há muitas maneiras de ser “contemporâneo”, que o “moderno” não é necessariamente sinónimo de “elitista” e que é possível assumir de braços abertos e deixar-se ser permeado por todas as variedades das linguagens da música sem perder a sua individualidade e a integridade criativa; e sem perder a condutividade da ligação entre a música e a emoção.