O património industrial e técnico foi o tema das Jornadas Europeias do Património 2015 que se realizaram neste fim-de-semana, nos dias 25, 26 e 27 de Setembro. De Norte a Sul do país e nas Ilhas, museus, câmaras e organizações locais responderam ao desafio. O tema remeteu para o património que faz parte da paisagem do país e do quotidiano local. Fábricas, de grandes ou pequenas indústrias, pontes, canais, linhas de caminho-de-ferro ou minas moldam a demografia, a economia e as paisagens das regiões, e é em torno deles que se fez o programa destas jornadas.

Ao longo dos três dias, um pouco por todo o país, decorreram visitas guiadas a monumentos, caminhadas, inaugurações de exposições, concertos, conferências, conversas com artesãos, projecção de documentários, concursos e maratonas de fotografia, celebrando o “património industrial e técnico”. Foi assim possível ficar a conhecer mais ou descobrir espaços e locais como as fontes e túneis de água em Alcácer do Sal, o sistema hidráulico do Mosteiro de Alcobaça, fornos de cal em Patais, Alcobaça, a ponte 25 de Abril que liga Lisboa e Almada, a Real Fábrica do Gelo, no Cadaval, as pontes de Constância, minas de volfrâmio em Moimenta do Cabril, Castro Daire, pedreiras de mármore em Estremoz, fábricas abandonadas do Mondego, no concelho da Guarda, faróis nos Açores, em Ílhavo, em Peniche e em Matosinhos, salinas em Tavira e em Aveiro, lagares de azeite em Penamacor, a barragem de Picote, em Miranda do Douro ou os campos e fábricas de descasque de arroz carolino no concelho de Montemor-o-Velho.

Para quem não sofre de vertigens, nestes dias houve a rara oportunidade de ver de perto o mecanismo da torre do relógio do Palácio da Pena, em Sintra, enquanto que no Palácio Nacional de Mafra os visitantes subiram até aos carrilhões na companhia de José Nelson Cordeniz, que se encontra a desenvolver investigação no âmbito do doutoramento em Ciências Musicais sobre os carrilhões de Mafra. Houve também uma visita guiada gratuita à Casa dos Patudos, em Alpiarça onde, como a última glosas revelou, se pode admirar o único quadro conhecido de Domenico Scarlatti.

 

 

Foram vários os concertos e momentos musicais que tiveram lugar no âmbito destas jornadas, aqui seguindo-se uma breve selecção:

× Alcochete, Largo de S. João; 27 de Setembro, 16h: o grupo Il Dolcimelo interpretou música do Renascimento. O concerto integrou-se também nas comemorações dos 500 anos do Foral da cidade.
× Aljezur, Igreja Matriz; 26 de Setembro, 17h: Concerto “Ouvir as vozes do património”, com direcção artística da maestrina Ivelina Kavrakowa-Pereira, Raquel Correia ao piano e o Grupo Coral da Universidade do Algarve.
× Caldas da Rainha, Museu da Cerâmica; 26 de Setembro, 16: momento musical pelo Grupo Coral e Musical da Casa do Pessoal do Hospital de Caldas da Rainha.
× Caldas da Rainha, Museu José Malhoa; 27 de Setembro, 16h: grupo coral Vox Maris interpretou cantares populares.
× Coimbra, Museu Nacional de Machado de Castro; 25 de Setembro, 18h30: concerto por alunos do Conservatório de Música de Coimbra.
× Felgueiras, Igreja de Santa Maria de Airães; 26 de Setembro, 21h30: concerto pelo coro Anima Mea.
× Funchal, Palácio de São Lourenço; 25 de Setembro, 18h: concerto de música de câmara.
× Lisboa, Biblioteca da Ajuda; 26 de Setembro, 12h30: concerto de música medieval.
× Lisboa, Museu Nacional de Etnologia; 26 de Setembro, 17h: o Trio Meru interpretou música do mundo.
× Loulé, Castelo de Loulé; 26 de Setembro, 15h: concerto pelo Coral Feminino Outras Vozes.
× Porto, Casa do Infante; 27 de Setembro, 16h: recital de guitarra clássica por Francisco Berémy.
× Tomar, Convento de Cristo; 27 de Setembro, 17h: concerto “As vozes e os espaços” pelo Coro do Canto Firme.

 

Ainda a propósito de música, vale a pena destacar que se realizou um workshop de construção de instrumentos musicais no Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa, dia 25 de Setembro, entre as 10h30 e as 12h. A Sociedade Lírica Moitense, concelho da Lourinhã, promoveu o ateliê “Música porquê”, 27 de Setembro, a partir das 15h. No Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades Faria, no Monte Estoril, Manuel Morais apresentou dia 27 de Setembro pelas 16h uma comunicação, resultado do seu trabalho de investigação, sob o título “Guitarras portuguesas construídas em Santa Cruz-ilhas, Goa”.

Por todas estas razões, as várias instituições envolvidas nas Jornadas Europeias do Património estão de parabéns. Esperemos que a iniciativa volte a realizar-se no próximo ano. Lá estaremos para celebrar Música e Património.

Sobre o autor

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Mariana Calado encontra-se a realizar o Doutoramento em Ciências Musicais Históricas focando o projecto de investigação no estudo de aspectos dos discursos e das sociabilidades que caracterizam a crítica musical da imprensa periódica de Lisboa entre os finais da I República e o estabelecimento do Estado Novo (1919-1945). Terminou o Mestrado em Musicologia na FCSH/NOVA em 2011 com a apresentação da dissertação "Francine Benoît e a cultura musical em Portugal: estudo das críticas e crónicas publicadas entre 1920's e 1950". É membro do SociMus – Grupo de Estudos Avançados em Sociologia da Música, NEGEM – Núcleo de Estudos em Género e Música e do NEMI – Núcleo de Estudos em Música na Imprensa, do CESEM. É bolseira de Doutoramento da FCT.