Um ano após a estreia moderna, no espaço privilegiado do Palácio de Queluz, e após cerca de dois séculos e meio de esquecimento, da serenata composta por David Perez em 1767 sobre o texto célebre de Metastasio A Ilha Desabitada, tão apreciado durante o séc. XVIII, a orquestra barroca Divino Sospiro, de novo sob a direcção de Massimo Mazzeo, apresenta agora a obra numa versão encenada, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Dão vida aos quatro papéis desta serenata solistas da maior importância, intérpretes muito destacados nos nossos dias na interpretação do repertório barroco e clássico: os sopranos Joana Seara e Francesca Aspromonte como as irmãs Costanza e Silvia, o soprano Eduarda Melo e o tenor Bruno Almeida nos papéis dos amigos Enrico e Gernando.
Não fora esta colaboração, numa obra ainda praticamente por conhecer de Perez – um dos mais importantes compositores que desenvolveram actividade em Portugal no séc. XVIII –, de um grupo excepcional de solistas com o Divino Sospiro garante suficiente de um espectáculo primoroso, acresce que o responsável pela concepção cénica, o encenador Carlos Pimenta, assinara também a colaboração com a orquestra na criação moderna de Antigono de Antonio Mazzoni, em 2011, um projecto recebido com justificada aclamação pelo público e pela crítica mais especializada.
Por ocasião da estreia moderna de L’Isola Disabitata de David Perez, em 2015, no Palácio Nacional de Queluz, publicou a Glosas, no seu número 12, dois textos de Iskrena Yordanova, responsável pela edição crítica desta partitura, cujo manuscrito se encontra na Biblioteca Real da Ajuda, e do próprio maestro Massimo Mazzeo, ambos disponibilizados agora nesta página.
O jovem Gernando viajava por mar com a sua esposa, Costanza, e a irmã desta, a pequena Sílvia, rumo às Índias Ocidentais, onde seu pai governava, quando uma longa e perigosa tempestade o obrigou a aportar a uma ilha desabitada para dar abrigo à esposa e à criança escapando às agitações do mar. Enquanto aquelas descansavam numa gruta escondida, o infeliz Gernando foi surpreendido e sequestrado por piratas. Os seus companheiros, que observaram de longe os movimentos na ilha, pensando que Gernando, Costanza e Silvia tivessem sido raptados, decidiram seguir o navio dos piratas, mas em breve lhe perderam a pista e, inconsoláveis, retomaram o caminho pelo mar. Quando Costanza acordou e, depois de longas buscas, não encontrou o esposo e o navio, acreditou ter sido abandonada.
Com o tempo, os primeiros ímpetos da desesperada dor de Costanza foram substituídos pelo natural amor à vida e pensou em sustentar-se a si e à irmã procurando frutas e plantas, abundantes na ilha, e educou a pequena Silvia no ódio pelos homens, que a criança desconhecia. Após treze anos de escravidão, Gernando conseguiu finalmente libertar-se e, embora com poucas esperanças de reencontrar Costanza, a primeira atitude que tomou foi voltar àquela ilha onde involuntariamente a abandonara. A história aqui contada apresenta o inesperado encontro entre os dois.
L’ISOLA DISABITATA
– Serenata per musica –
(Queluz, 1767)
versão encenada
Música | David Perez (1711-1778)
Libretto | Pietro Metastasio (1698-1782)
(Edição crítica de Iskrena Yordanova, DS-CEMSP)
Divino Sospiro
Massimo Mazzeo (direcção musical)
Carlos Pimenta (encenação)
Personagens e Intérpretes
Costanza | Joana Seara (soprano)
Silvia | Francesca Aspromonte (soprano)
Enrico | Eduarda Melo (soprano)
Gernando | Bruno Almeida (tenor)
Concepção e direcção cénica | Carlos Pimenta
Figurinos | José António Tenente
Vídeo | João Pedro Fonseca
Desenho de Luz | Rui Monteiro
Espaço cénico | Carlos Pimenta e João Pedro Fonseca
Tradução do Libretto | Adriana Latino
Centro Cultural de Belém – Grande Auditório
(25 e 26 de Novembro de 2016, 20h)
Mais informações em www.ccb.pt