No passado dia 25 de Novembro, a Orquestra Clássica da Madeira fez uma “proposta ousada”, conforme o seu próprio anúncio, e apresentou um Concerto de Autor, dedicado inteiramente às obras do compositor português Luís Tinoco. A ousadia, graças à atracção que este corpo orquestral representa no panorama musical da Região e à intensa publicidade à volta do evento, foi recompensada com uma casa praticamente cheia e um público que teve a coragem de enfrentar a linguagem musical de um compositor cujo nome é deveras familiar a um número restrito de conhecedores da música contemporânea. O próprio compositor referiu, no âmbito de uma palestra que, no dia anterior, fora organizada no Conservatório – Escola das Artes da Madeira, que a Música Contemporânea (erudita) é a única arte moderna que não é concorrida nem leiloada da maneira como acontece com a literatura e com as artes visuais. Luís Tinoco formou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo feito um Mestrado em Composição na Royal Academy of Music, em Londres, e um Doutoramento na Universidade de York. Combina a actividade de compositor com o ensino, exercendo funções docentes na Escola Superior de Música de Lisboa. É também actualmente Director Artístico do Prémio e Festival Jovens Músicos.
Dirigida soberanamente pelo Maestro Pedro Neves, a Orquestra Clássica da Madeira apresentou na primeira parte o Concerto para Violoncelo e Orquestra, terminado no ano corrente e estreado em Almada em Fevereiro pelo próprio dedicatário, Filipe Quaresma, que também interpretou a parte solista neste concerto. O Concerto, fruto da residência no Teatro Nacional de São Carlos, põe o solista a dialogar com a orquestra, utilizando a capacidade tridimensional de um corpo orquestral, conforme expresso pelo compositor numa entrevista. Tendo merecido plena atenção dos intérpretes, toda a complexidade da estrutura sonora e rítmica foi desvendada de maneira equilibrada e nítida.
Composta uma década antes do Concerto, a obra Contos Fantásticos preencheu a segunda parte do programa. Baseando-se em textos de Terry Jones, do célebre grupo britânico Monty Python, esta obra foi encomendada pelo Teatro São Luiz e destinada a um público mais jovem. Os três contos, A Estrada Rápida, Três Pingos de Chuva e Tomás e o Dinossauro, foram narrados de uma maneira extremamente dinâmica pelo actor Élvio Camacho, conhecido junto do público português pelas participações em telenovelas da década transacta. A música, ilustrativa, sem ser banal, e dramaticamente intensa, sem ser preponderante, enfatizou as emoções e o humor do texto, catalisando uma experiência singular e memorável. No final do concerto, o compositor juntou-se aos intérpretes no palco, recebendo todos um aplauso entusiástico.
Salientamos ainda que este concerto foi o primeiro do ciclo Os concertos para violoncelo da Orquestra Clássica da Madeira, e que a orquestra ainda promove os ciclos Grandes solistas, Grandes obras e Jovens solistas, numa programação que abrange 27 concertos sinfónicos ao longo da actual temporada, para além de mais de 30 concertos de música de câmara, protagonizados por vários conjuntos formados pelos músicos da orquestra.
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