(continuação)
Na sequência do texto do passado mês de Agosto, onde se observaram painéis de azulejo do artista argentino Alberto Cédron (1937-2007), continuamos, hoje, com os exemplos referentes aos reinados de D. João IV e D. João V.
O retrato de D. João IV (1604-1656) aqui apresentado é uma cópia da pintura atribuída a José de Avelar Rebelo, com data de 1643. Relativamente ao seu reinado, são destacados os seguintes factos históricos: a aclamação como rei a 1 de Dezembro de 1640, o bloqueio de Goa pelos holandeses, a constituição da Biblioteca de Música no Paço da Ribeira, o casamento de D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra e a Guerra da Restauração.
Interessam-nos, do ponto de vista da iconografia musical, os episódios da Restauração, pela representação da música militar, com detalhes de trombetas e tambores. Trata-se de uma trombeta recta natural que está na mão de um cavaleiro e de dois tambores cilíndricos bimembranofones, à cintura de dois moços. De realçar que estes pormenores contêm muitas semelhanças com os painéis de azulejo da Sala das Batalhas do Palácio Fronteira, quer na figuração dos músicos e instrumentos musicais, quer nos detalhes das fortalezas e suas muralhas. Sendo D. João IV músico e compositor, há também a destacar o impulso que deu à Biblioteca de Música do Paço da Ribeira, infelizmente perdida no terramoto de 1755.
No segundo painel, referente a D. João V (1689-1750), temos o rei representado de acordo com o retrato de 1717, de Domenico Duprà, alusivo à batalha no cabo Matapan. Destacam-se no seu reinado a construção do Aqueduto das Águas Livres, o casamento com Maria Ana da Áustria, a construção do convento de Mafra, o ouro e diamantes provenientes do Brasil, a batalha de Matapão e a embaixada a Roma, ao Papa Clemente XI. É neste último episódio que encontramos a música claramente representada pela trombeta e timbales, em músicos a cavalo, que tocam anunciando a passagem do cortejo. De forma implícita — uma vez que a imagem não reproduz esses pormenores — deveremos ter também em conta a reprodução da basílica de Mafra, que abriga nas suas torres sineiras dois carrilhões (o da torre norte proveniente de Liège, da fundição de Nicolas Levache, e o da torre sul proveniente da Antuérpia, da fundição de Willem Witlockx) e, no interior da basílica, os seis órgãos históricos.
(continua)