A rubrica Música entre Artes de Novembro traz-nos uma obra manuscrita da autoria do Padre Joaquim José da Rocha Espanca, Jr. (17 de Março de 1839 — 26 de Novembro de 1896) identificado como “a Callipoli oriundo”, isto é, usando o nome em Latim Callipole [=Vila Viçosa] para identificar a sua naturalidade. Nesta vila fez a instrução primária, aprendeu latim, canto, música, piano e órgão. Em 1856 entrou para o Seminário de Évora, aí completou os estudos e fez o curso de Teologia. Dedicou-se às letras e à música sacra, para a qual compôs muitas obras inéditas para piano, piano e canto, para instrumentos de sopro, para instrumentos diversos e canto, por exemplo.

A iconografia musical aqui analisada é referente ao Responsório das Matinas In Festo Immaculatae Conceptionis Beatae Mariae Virginis. Obra a quatro vozes, as três partes vocais encontradas (“Tiple, Contralto e Baixo”) estão datadas de 1873. Observamos a capa da parte do Baixo. Não se sabendo se a mão é da autoria do próprio Padre Espanca ou se de algum copista, é necessário, contudo, destacar a beleza do trabalho manuscrito. O texto está emoldurado por uma corrente de anéis, em cinza, que sustêm duas cartelas em azul, uma em cima e outra em baixo. Na cartela azul no topo, está inscrito: “Responsórios cortados ou pequenos”. Na de baixo indica-se “Pertence à Confraria de Nossa Senhora da Conceição de V.ª Viçosa”. Lateralmente, decoram motivos vegetalistas, i. e., videiras com parras e cachos de uvas. Envoltos nesta profusão frondosa estão instrumentos musicais, dispostos simetricamente.

 

 

É possível identificar, de baixo para cima, um contrabaixo (ou violoncelo?) e um fagote, uma trompete em forma de “S” e uma tuba (ou tuba wagneriana?, eufónio?), dois clarinetes e duas flautas. Os instrumentos apresentam poucos pormenores ao nível organológico, e um traço que é mais de um copista do que de um artista plástico. Contudo, não deixa de ter interesse a escolha dos instrumentos musicais, onde se incluem aerofones muito em voga no meio filarmónico militar e civil em Portugal.

Sobre o autor

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Luzia Rocha possui os graus de Licenciatura, Mestrado e Doutoramento em Ciências Musicais pela Universidade Nova de Lisboa. É investigadora no Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (CESEM) da Universidade Nova de Lisboa. É membro do ‘Study Group on Musical Iconography’ e do ‘Study Group for Latin America and the Caribbean’ (ARLAC-IMS), ambos da International Musicological Society. É colaboradora na Rede Temática em Estudos de Azulejaria e Cerâmica João Miguel dos Santos Simões do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e no Grupo de Iconografia Musical da Universidad Complutense de Madrid/AEDOM. Trabalhou como docente na Academia de Amadores de Música, Escola Técnica de Imagem e Comunicação (ETIC), Instituto Piaget (ISEIT de Almada, também como Coordenadora da Licenciatura em Música) e na Academia Nacional Superior de Orquestra e colabora actualmente como docente na Licenciatura em Jazz e Música Moderna da Universidade Lusíada. Tem participado como oradora, por convite, em conferências nacionais e internacionais e publicado artigos em periódicos com arbitragem científica. É autora do livro "Ópera e Caricatura: O Teatro de S. Carlos na obra de Rafael Bordalo Pinheiro".