E se um dia a Morte deixasse de matar? Este é o mote do romance As intermitências da Morte de José Saramago, que acaba de ser transformado na ópera Death with interruptions pelo compositor Kurt Rodhe, com libreto do historiador Thomas Laqueur. Porém, As intermitências… são muito mais do que uma história sobre a morte e a sua importância na vida; é provavelmente o romance mais musical na obra de Saramago. A Suíte n.º 6  para violoncelo solo, BWV 1012 (número repetido quase até à exaustão pelo escritor), de J. S. Bach, a Fantasia op. 73 para violoncelo e piano de Robert Schumann, o Estudo op. 25 n.º 9 de Frédéric Chopin e ainda a 9.ª Sinfonia de Beethoven são as obras que o escritor escolheu para mostrar a capacidade que a música tem de comover e humanizar qualquer ser, até a própria morte, transfigurada numa Donzela, que se apaixona por um violoncelista. Coincidência ou não,  o espectáculo da ópera abre com a interpretação do  quarteto A Morte e a Donzela de Franz Schubert, uma personificação imaginária da Morte, segundo nos informa o sítio do teatro.

 

 

A ópera foi composta para três vozes solistas (soprano, tenor e barítono), um coro câmara de dezasseis vozes e um agrupamento instrumental, que coloca naturalmente em destaque o violoncelo, acompanhado de piano, percussão, quarteto de arcos fora do palco e electrónica, sob direcção da maestrina Matilda Hofman. O promotor deste evento é o Left Coast Chamber Ensemble e a estreia ocorreu dia 19 de Março em São Francisco (Estados Unidos da América), com as duas récitas no ODC Theater já esgotadas.

Não é primeira vez que um romance de Saramago é transformado numa ópera. Recordamos Blimunda (1989), sobre o Memorial do Convento, e Divara (1993), sobre a peça In nomine Dei, duas óperas compostas pelo italiano Azio Corghi. O Nobel português escreveu ainda, em parceria com o mesmo compositor italiano, o libreto de Il dissoluto assolto (2005), ópera inspirada em Don Giovanni de Mozart.

Ficamos a aguardar uma apresentação desta nova ópera em Portugal.

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Sobre o autor

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Doutorada em Música e Musicologia (ramo de Interpretação) pela Universidade de Évora, é actualmente investigadora do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Iniciou os seus estudos musicais no Instituto Gregoriano de Lisboa. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas: Estudos Ingleses e Alemães (FLUL) e em Canto (ESML). Posteriormente obteve o grau de LGSM (Licenciate by the Guildhall School of Music and Drama) através do Trinity College. Como cantora de ópera, foi “Fanny” em 'O Tanoeiro' de Thomas Cooper (Teatro da Trindade), “2.ª Dama” na 'Flauta Mágica' de Mozart e “Sebastiana”, numa versão portuguesa da sua autoria da ópera 'Bastien und Bastienne' de Mozart. Para além de se apresentar regularmente em recitais, é membro do Coro Gulbenkian.