A inquietante revelação vem perturbar o quotidiano familiar de D. Mór, mulher de D. Guterre, e de D. Beatriz, sua filha, de quem o hóspede imprevisto se enamora.
Durante a noite, num sonho enigmático e surpreendente, desvelam-se os medos e os desejos dos personagens face à presença do cavaleiro… Será que o perigo se confirma?
As últimas produções operáticas de Ruy Coelho (1889-1986) ouviram-se há cerca de meio século. Dentre a sua vasta produção neste género — aquele a que, de resto, mais energia e tempo dedicou ao longo de toda a vida —, destacam-se, em importância histórica, Serão da Infanta, sobre Theophilo Braga — a primeira ópera com libreto português a ser estreada por elenco nacional e em língua portuguesa no São Carlos, em 1913 —, Belkiss, grande ópera em três actos, premiada num concurso internacional em Espanha em 1924, e La robe des noces, estreada no Théâtre des Champs Élysées, Paris, em 1959, sobre libreto do seu amigo Charles Oulmont, uma das personalidades salvas por Aristides de Sousa Mendes no sombrio ano de 1940, e com quem viria a colaborar para mais uma peça dramática em 1968: La belle dame qui n’a pas péché.
É já no próximo mês de Abril que, com apoio da Direcção-Geral das Artes / Governo de Portugal, do Teatro Municipal Joaquim Benite (Almada) e do Teatro Municipal do Porto, o Ensemble MPMP se propõe começar a redescobrir este património imenso, produzindo O cavaleiro das mãos irresistíveis, sobre Eugénio de Castro (1869-1944), uma ópera breve e das poucas que, no seu catálogo, foram escritas para um efectivo orquestral de menores dimensões — neste caso, orquestra clássica (prescindindo até de oboés).
“A definitiva consagração do talento incontestável de Ruy Coelho”, escrevia-se n’A Voz depois da estreia em 1927. Num outro jornal, a compositora e crítica musical Francine Benoit registava também o seu apreço:
«[…] Ruy Coelho, magnificamente incansavel, dá-nos agora “O cavaleiro das mãos irresistíveis”. […] O sucesso da “première” — há instantes —, o entusiasmo do público selecto, que enchia completamente o nosso grande e belo teatro lírico, fazem prever mais representações […]. Instrumentalmente, Ruy Coelho faz prodígios; com tão reduzido número de figuras, de 26 professores apenas, manejou timbres, contrastes, em constante comentário do drama […] [O] jovem mas grande maestro [e] compositor […] recebeu ovações vibrantes, às quais nos associamos sem restrição. »
Para o espectáulo ora proposto, o Ensemble MPMP encomendou ainda uma nova ópera a Daniel Moreira cuja proposta dramática inscrever-se-á como interlúdio da ópera de Ruy Coelho, partindo do mesmo poema de Eugénio de Castro para o desenvolver sob outros aspectos, aqui com a recriação e adaptação literária de Edward Luiz Ayres d’Abreu.
Um elenco de excelente qualidade — a soprano Joana Seara, a meio-soprano Cátia Moreso, o tenor Marco Alves dos Santos e o barítono Job Tomé —, sob a direcção musical do maestro Jan Wierzba e com encenação de António Durães, cenografia de Ana Gormicho, desenho de luz de Rui Simão e cinematografia de Mário Gajo de Carvalho (que participará como criador de uma peça para exibição durante parte do espectáculo) prometem uma noite certamente surpreendente para todos os melómanos portugueses.
Às récitas previstas para Almada (11 de Abril, Teatro Municipal Joaquim Benite) e Porto (18 e 19 de Abril, no Teatro Municipal do Porto — Campo Alegre), juntar-se-á ainda, na Biblioteca Nacional de Portugal, uma mini-mostra expositiva com manuscritos autógrafos e outros documentos.
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