Principia mais um ano repleto de projectos desafiantes no calendário do MPMP Património Musical Vivo. Entre concertos comentados, sessões educativas, estreias absolutas, a revisitação de repertório esquecido, a evocação de efemérides incontornáveis (Independência do Brasil, José Saramago e… Iannis Xenakis!), o MPMP proporá este ano mais de meia centena de espectáculos e dezenas de novas edições.
A programação de 2022 arranca, em Fevereiro, com a participação do Ensemble MPMP em dois projectos seguramente memoráveis. Primeiro, em Songs for Shakespeare, os músicos mezzopianos juntam-se à voz jazzística de Maria João na Casa da Música, no Porto, e no Capitólio, em Lisboa, traduzindo em som partituras arranjadas por Sara Ross, compositora de capa da recente Glosas n.º 21. Logo depois, sob a direcção de Jan Wierzba, a equipa preenche o fosso de orquestra d’O homem dos sonhos, ópera de António Chagas Rosa sobre Mário de Sá-Carneiro, uma produção da Ópera no Castelo que se estreará no São Luiz Teatro Municipal e que circulará pelo Teatro Viriato, em Viseu, e pelo Teatro Municipal da Guarda.
O Ensemble MPMP conhecerá outros momentos de grande destaque. Em Abril, apresentar-se-á em Palmela para a estreia absoluta de obras concertantes de Daniel Bernardes, Jorge Salgueiro e Lino Guerreiro, num projecto do saxofonista João Pedro Silva que resultará em novo disco. Em Maio, na Biblioteca Nacional de Portugal, ainda a propósito do centenário de Jorge Listopad e com encenação de Miguel Loureiro, estrear-se-á uma nova versão, recomposta por Miguel Resende Bastos, d’O diário de um desaparecido de Leoš Janáček. Em Outubro, no seu efectivo orquestral, o MPMP levará ao Centro Cultural de Belém um programa evocativo dos 200 anos da Independência do Brasil; ao longo da temporada, a propósito, partituras de compositores brasileiros como Jorge Antunes e Marcos Vieira Lucas, em estreia portuguesa, não deixarão também de marcar presença. Em Novembro, o espectáculo A menina do mar — de que sairá também CD — chegará a São Miguel, Açores. Por fim, o Prémio Musa 2022, com os jurados Luís Tinoco, Sara Carvalho e Juan Pablo Carreño, divulgará resultados até Setembro e, no último trimestre, o concerto de laureados abrilhantará a temporada com uma justa homenagem à obra contista de José Saramago.
No âmbito de projectos educativos destaca-se um ciclo de Clubes de Escuta na Biblioteca Municipal de Marvila, a decorrer entre Março e Junho, iniciativa de Martim Sousa Tavares e Catarina Távora, que orientarão as sessões para adultos e as infantis, respectivamente. As sessões, que visam aproximar a escuta da imaginação e reflexão, juntando novas músicas e novos ouvintes numa reunião informal para ouvir e falar sobre música (a do nosso tempo, a mais antiga, a que temos à nossa volta e a de que raras vezes ouvimos falar) culminarão num concerto do Ensemble MPMP.
Este será, também, o ano de fecho de quatro ciclos a que demos início nos últimos tempos. Ao Museu da Música Portuguesa levaremos um “Escutar Lopes-Graça” com três recitais para canto e piano: um primeiro dedicado à lírica pessoana, com o tenor Rodrigo Carreto; um segundo em torno da poesia de Eugénio de Andrade, com a soprano Sofia Marafona; e, por fim, o programa “Atenas-Paris-Lisboa” juntará às Sept vieilles chansons grecques do compositor português, interpretadas pelo tenor Marios Maniatopoulos e pela pianista Mrika Sefa, partituras raramente — se não mesmo nunca — escutadas por cá de Maurice Ravel, Manos Hadjidakis, Nikos Skalkottas, Dimitris Andrikopoulos e, nos cem anos do seu nascimento, Iannis Xenakis.
Por outros auditórios — um coreto, um ateliê de pianos e até uma piscina — passarão os últimos Proximidades da série. O ciclo havia sido criado com o intuito de encomendar, interpretar e gravar pequenas obras a jovens compositores portugueses, escritas propositadamente para pequenos (e muitas vezes inesperados) auditórios, atendendo às suas qualidades acústicas, históricas ou outras. As gravações resultantes serão finalmente disponibilizadas em disco digital. E, nestes e noutros concertos, com membros do Ensemble MPMP a apresentar música ora para quinteto de sopros, ora para dois pianos, para saxofone e marimba e ainda para harpa solo, veremos enfim programadas (e também gravadas) as últimas Figurações de Filipe Pires, ciclo de que resultará um disco monográfico para a colecção melographia portugueza. Ainda no âmbito da criação contemporânea, finalizar-se-á o projecto 9x9x9, com haikus de Ana Seara e Luís Salgueiro sobre roteiro de Tatiana Bina.
Quanto à revista, daremos seguimento, na rádio-café Lusophonica, em Cascais, ao ciclo Glosas pela música da lusofonia. Em cada sessão, sempre na manhã do último Domingo de cada mês, um convidado desenvolve um dado mote. O compositor Tiago Cabrita abrirá a temporada, seguindo-se, entre outros nomes, os das musicólogas Filipa Cruz e Luzia Rocha. Este sentido de abertura à comunidade continuará a ser seminal em mais uma edição da versão impressa da Glosas — o 22.º número! —, cujo compositor homenageado será oportunamente divulgado.
No que tange ao plano editorial não há mãos a medir. Entre vários outros títulos, incluindo novas edições realizadas em parceria com a Universidade de Aveiro, destaca-se um livro sobre António Arroyo escrito por João-Heitor Rigaud, inúmeras partituras de obras de Fernando Lopes-Graça, Fernando Corrêa de Oliveira, Ruy Coelho e Constança Capdeville, discos monográficos de Fernando Lapa, Francisco de Lacerda, Joly Braga Santos, Ruy Coelho, mais um número da integral para tecla de Carlos Seixas, algumas outras boas surpresas de repertório inédito dos séculos XVII a XIX e, claro, a gravação de Mattutino de’ morti de João Domingos Bomtempo que o Ensemble MPMP levou o ano passado ao Festival de Sintra.
Consulte a agenda de Fevereiro em https://tinyurl.com/zp24mv34 .