Julho! E, com ele, mais ocasiões para, na nossa temporada, evocar o bicentenário da Independência do Brasil. A primeira delas recorda o disco Recitativos de salão, lançado em Portugal em Dezembro de 2019, na Biblioteca Nacional de Portugal. Ao disco juntou-se um livro de partituras, resultado de investigação do tenor e musicólogo Alberto Pacheco, que recitará os poemas acompanhado da pianista Andrea Luiza Teixeira. O projecto conhece agora a sua apresentação no Rio de Janeiro, Brasil, a 1 de Julho, 18h30, no romântico salão nobre do Palácio da Justiça, que não poderia ser mais apropriado à revisitação destes singulares repertórios, hoje caídos no esquecimento, mas tão importantes na sociabilidade musical luso-brasileira de finais de Oitocentos.

 

 

Depois, o quarteto de arcos do Ensemble MPMP apresentará em estreia moderna, no contexto da preparação da edição revista da partitura e da sua posterior estreia discográfica, o primeiro quarteto de Ruy Coelho, composto em 1941 e, tanto quanto se sabe, nunca mais interpretado desde a sua estreia. Na década anterior, o compositor mostra-se permeável aos recursos emprestados pela politonalidade francesa, colorindo esta música vibrante de dissonâncias inesperadas (ma non troppo) e esforçando-se, nela, por explorar a sua ideia particular de “peninsularidade”, de uma Lisboa de pregões e noites de Santo António, enfim da sua vontade de imaginação
de um dado folclore imaginário. O momento musical serve a inauguração de uma exposição na Brotéria, Lisboa, de telas inspiradas na vida e obra de Ruy Coelho, criadas por jovens artistas plásticos sob a curadoria de Mónica Coelho, bisneta do compositor. Estão todos convidados: será no dia 12, às 19h!

 

 

Pouco depois, no dia 16, às 18h30, na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, dá-se mais um concerto do ciclo “Contemporaneidades”, desta vez em torno das ideias de “viagem” e de “paisagem”, que justapõe jovens compositores e nomes canónicos, e em que se inclui uma estreia da compositora-intérprete, Salomé Pais Matos, desde há muitos anos membro do Ensemble MPMP. O auditório, tão romanticamente familiar, não poderia ser mais convidativo à revelação da harpa contemporânea, instrumento tão comummente associado à placidez do mundo celeste mas, afinal, tão capaz de outros vôos.

 

 

E, no dia 20, às 19h, na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo, no Porto, do universo da harpa passamos, ainda no âmbito do ciclo Contemporaneidades, para o do piano ou, melhor, para o de dois pianos. Duarte Pereira Martins e Philippe Marques explorarão aqui a ironia das ténues relações entre discípulo e mestre e das inesperadas afinidades entre um compositor português da década de 1930 e uma compositora ucraniana contemporânea, Bohdana Frolyak… Ao centro, a evocação do bicentenário da Independência do Brasil marca presença com a divulgação lusitana de uma importante (mas nunca cá tocada?) partitura de Claudio Santoro, muito afim das experiências figurativas do também programado portuense Filipe Pires. Em estreia absoluta referir-nos-emos a um certo espelho do jovem compositor Tiago Cabrita, como estruturalmente se espelhará também, face a este, um segundo alinhamento que os mesmos pianistas apresentarão já depois das férias estivais.

 

 

Por fim, no dia 31, às 10h30, a Lusophonica recebe João Pedro Silva, saxofonista colaborador do MPMP desde há muitos anos, que ainda há pouco tempo actuou como solista num concerto (e numa gravação) com o nosso Ensemble, de que haverá resultado discográfico muito em breve… Animado pela descoberta e pela estreia de novos repertórios, proporá aqui uma viagem seguramente revigorante pelo mundo do saxofone português (e não só).

 

 

Para mais informações, visite www.mpmp.pt/agenda .

Sobre o autor

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Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.