A Orquestra Clássica da Madeira (OCM), no seu programa para a temporada de 2014-2015, previu a apresentação, em estreia, de várias obras de compositores portugueses, incluindo madeirenses. Desta feita, no passado dia 4 de junho, no Teatro Municipal Baltazar Dias, Funchal, o concerto que incluiu obras de Bruch (Concerto para violino e orquestra n.º 1) e de Beethoven (Sinfonia n.º 2, em ré maior, op. 36), iniciou-se com a estreia absoluta da abertura A Canga do compositor João Victor Costa, encomenda da OCM. Este concerto foi excelentemente dirigido pelo maestro convidado, Pedro Neves.
Segundo o autor, a abertura A Canga explica-se da seguinte forma:
O título atribuído a esta abertura provém do romance ‘A Canga’ do professor e escritor Dr. Horácio Bento de Gouveia. Um ano após a sua morte, na altura em que a Diretora Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) era a escultora Manuela Aranha, surgiu a ideia de ser composta uma obra musical (ópera) utilizando o conteúdo desse romance, de elevado interesse Regional em relação aos costumes em vigor na época das colónias, entre os donos dos terrenos e os colonos que neles trabalhavam. A base para um libreto estava elaborada por Ivo Freitas, um Homem talentoso. Foi elaborado um protocolo entre João Victor Costa e a DRAC, que foi apresentado pela sua Diretora à Assembleia Regional da Madeira. Pouco tempo depois, chegou uma resposta que dizia ser uma boa ideia, mas… não havia dinheiro disponível […].
Ao receber o convite para compor uma abertura para a OCM logo me surgiu a ideia de que essa poderia ser elaborada com um teor que contivesse elementos adaptáveis às situações […] do romance […].
João Victor Costa nasceu a 24 de Abril de 1939, na Freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, Ilha da Madeira. Frequentou durante nove anos o Seminário Diocesano do Funchal, onde desenvolveu o gosto pela música, dedicando-se desde muito jovem à composição e estudo de órgão. Frequentou a Academia de Música e Belas Artes da Madeira, onde estudou Canto e Piano.
Recebeu uma bolsa de estudo da Fundação Calouste Gulbenkian e foi estudar para Munique, Alemanha, aprofundando os seus conhecimentos em Ópera, Lied, Oratória e Composição. Seguiram-se os seus primeiros contratos, nomeadamente nos festivais de verão de Munique, uma “tournée” em Israel, vinte e três viagens com concertos a bordo de grandes cruzeiros alemães. Na ópera estadual de Augsburgo esteve contratado diversos anos consecutivos, desempenhando papéis principais em óperas como Il Trovatore de Verdi, La Bohéme e Tosca de Puccini, entre outras. Atuou também no La Scala de Milão.
Aquando do seu regresso para a Madeira, foi professor de Canto no Conservatório – Escola das Artes da Madeira, onde foi também diretor.
Ao longo de todo o seu percurso nunca deixou de compor, desenvolvendo um estilo muito próprio, sem sujeitar-se aos ditames da moda. É autor do Hino da Madeira e de outros dezasseis hinos para diversas instituições na Madeira e não só. Compôs uma Laudatória sobre a vida de Mary Jane Wilson.
Compôs mais de cem canções eruditas, das quais se destacam treze sonetos de Camões. Já estreado, tem um Concerto para piano e orquestra. Além deste, compôs outros três concertos para piano e orquestra e ainda um concerto para violino e orquestra de cordas. É também autor de sete quartetos de corda, de uma sinfonia, de um grande Requiem, vinte e sete lamentações de Semana Santa, inúmeras peças de Natal, cerca de sessenta missas para três e quatro vozes mistas. Motetos e cânticos diversos para ofícios religiosos, um Slabat Mater a quatro vozes mistas em português. Autor de vinte Pai Nosso e dezoito Ave Maria, diversas sonatas para piano solo, piano e violino, e ainda uma outra sonata para violoncelo e piano. Em parceria com o ‘Funchal 500 anos’ foi gravado um CD com obras suas para piano.
Criou nove coros a quatro vozes mistas, espalhados pela região, e é atualmente o diretor artístico de dois desses coros, o Coro da Catedral e o Grupo Coral de São Roque do Faial. De referir que, no passado, diversas obras de sua autoria já foram interpretadas pela Orquestra Clássica da Madeira.