O mais recente concerto da Orquestra Clássica da Madeira (OCM), no dia 15 de Junho, foi notável por ter sido inteiramente composto por obras de três compositores portugueses cuja actividade esteve ligada à Madeira. No salão da Assembleia Legislativa da Madeira, sob a batuta do maestro convidado, Cesário Costa, foram interpretadas obras de António Pereira da Costa (c. 1698-1770), José Joaquim de Oliveira Paixão (fl. 1798-1833) e Manuel Ribeiro (ca. 1884-1949).

Os Doze Concertos Grossos de António Pereira da Costa foram impressos em Londres, em 1741, e são provavelmente os únicos concertos grossos de um autor português, escritos entre 1720 e 1739. Num projecto desenvolvido entre Janeiro e Junho deste ano, numa colaboração entre a OCM e a Direcção de Serviços de Educação Artística e Multimédia (DSEAM), da Direcção Regional de Educação, foram inseridos na programação dos concertos da temporada orquestral todos os doze concertos, numa revisão científica de Giancarlo Mongelli, professor do Conservatório – Escola das Artes da Madeira, e com a pesquisa histórica sobre o compositor efectuada por Paulo Esteireiro, Chefe da Divisão de Investigação e Multimédia da DSEAM e Investigador Integrado do Centro de Estudos de Sociologia e Estética Musical (FCSH/UNL). No concerto de dia 15, foram interpretados os últimos dois destes concertos, os n.os 8 e 12.

Já do compositor e mestre de música do Seminário Diocesano do Funchal, José Joaquim de Oliveira Paixão, natural de Lisboa mas residente no Funchal desde 1812, foi interpretada a Sinfonia de Ecos, uma obra de cunho clássico, com dois trombones fora da sala a produzir o efeito referido no título da obra, com alguma referência a “trompas de caça”.

Finalmente, de Manuel Ribeiro, natural de Mirandela, músico militar e chefe da banda regimental sediada no Funchal entre 1911 e 1917, e depois professor de canto coral do Colégio Militar, em Lisboa, autor de cerca de 400 obras de vários géneros, foi interpretada a Rapsódia n.º 1, Op. 27 (Cantos populares da Ilha da Madeira) e o Concerto para violino e orquestra, Op. 13. Este concerto foi dedicado a Pedro de Freitas Branco, que, na altura, integrava os primeiros violinos da Orquestra de Manuel Ribeiro e que, depois, se tornou um maestro internacionalmente consagrado. A parte solística deste concerto foi interpretada de uma maneira soberana e minuciosamente polida por Pedro Meireles, concertino da Orquestra Sinfónica Portuguesa.

A iniciativa, que levou ao palco madeirense quatro obras portuguesas, todas merecedoras de regresso aos palcos principais domésticos e internacionais, foi fortemente saudada pelo público entusiasmado, que reconheceu a estas obras as suas qualidades emocionais e estéticas, e se deixou levar pelo fluente discurso musical promovido pelo maestro Cesário Costa.

Sobre o autor

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Robert Andres é diplomado em piano pela Academia de Música de Zagreb (Croácia), tendo também estudado em São Petersburgo e Viena. Enquanto bolseiro Fulbright, estudou nos Estados Unidos com Sequeira Costa na Universidade de Kansas, tendo recebido o doutoramento em artes musicais, assim como um mestrado em musicologia. Desde 1993 ensina no Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, sendo atualmente professor de quadro e delegado do grupo de instrumentos de tecla. Para além da actividade concertista, orienta regularmente masterclasses de piano e já integrou mais de uma dezena de júris de concursos internacionais. Tem escrito para revistas musicais especializadas, enciclopédias reputadas e jornais. Em 2001 a editora americana Scarecrow Press publicou o seu livro sobre os inícios da abordagem científica da técnica pianística.