No âmbito da vertente sinfónica da sua temporada, a Orquestra Clássica da Madeira – gerida pela Associação Notas e Sinfonias Atlânticas – apresentou no passado dia 1 de Abril um concerto no Teatro Municipal Baltazar Dias, no Funchal, que foi dirigido pelo maestro francês Maxime Tortelier e em que foi o solista o jovem violinista de origem ucraniana Oleksandr Petryakov. Num universo de trinta concertos sinfónicos, o Director Artístico, Prof. Norberto Gomes, concebeu três ciclos: Grandes Solistas, Grandes Orquestras e Jovens Solistas. Neste último, em seis concertos, apresentam-se seis ex-alunos do Conservatório-Escola Profissional das Artes da Madeira, presentemente quase todos a prosseguir os seus estudos no estrangeiro. O facto de estes jovens, poucos anos depois de terem concluído os estudos de nível secundário no Curso Profissional de Instrumentista, já demonstrarem a soberania e estatura artística para poderem integrar como solistas uma temporada profissional comprova o nível de ensino da instituição, como serve de testemunha de um clima musical diversificado e muito frutífero, em que três dos solistas são filhos de músicos de origem estrangeira que há muito ensinam na Madeira e outros três são talentos propriamente da Região.
Perante uma plateia muito bem composta (e nos últimos tempos frequentemente esgotada para os concertos sinfónicos), Petryakov (estudante na Codarts Universidade das Artes em Roterdão, onde trabalha com Igor Gruppman e Vesna Stefanovic-Gruppman) interpretou o concerto para violino de Aram Khachaturian. A sua actuação pautou-se pela nitidez e clareza de articulação e teve os seus momentos altos em páginas líricas, sobretudo no segundo andamento. Mesmo que, às vezes, o ímpeto e vigor rítmico desta música, fortemente imbuída de elementos folclóricos nos andamentos exteriores, pudessem ter recebido um maior relevo, foi a qualidade do seu som em momentos mais íntimos que cativou o público. Nisso, o solista teve uma excelente colaboração do também relativamente jovem maestro Tortelier (36 anos), representante da terceira geração da ilustre família de músicos franceses. Exercendo controlo absoluto sobre o diapasão dinâmico da orquestra, o maestro contribuiu para o êxito inequívoco desta colaboração com uma leitura transparente, bem diferenciada, empática e dotada de momentos de exaltação típicos para o mestre arménio.
Na segunda parte, a Segunda Sinfonia de Johannes Brahms recebeu uma leitura formalmente muito coerente e equilibrada nos seus aspectos clássicos. Passados cento e quarenta anos desde a sua estreia, esta Sinfonia continua a fascinar com o contraste entre a sua face bucólica e pastoral e a escuridão e solenidade que emanam do naipe dos metais, em que a tuba se junta a três trombones. Empregando a batuta de uma maneira muito eficaz e clara, o maestro Tortelier, dirigindo de cor, valorizou toda a riqueza da escrita polifónica inata a Brahms, conseguindo contrapor naipes timbricamente muito bem definidos e salientando a graciosidade do 3.º andamento tal como a leveza e elasticidade de ritmos sincopados no 4.º. Contagiando a orquestra com a vivacidade do seu espírito, bastante evidente no palco, o maestro pôde, assim, contar com uma entrega sem reservas, cujo fruto foi uma interpretação que levou o público a aplaudir até lhe terem sido concedidos dois extras que arredondaram a impressão de um serão musical assinalável.