Nos sábados do mês de Junho, o O’culto da Ajuda abre-se às Festas de Lisboa com uma celebração do piano no feminino: quatro pianistas incontornáveis apresentam-se em recital, trilhando cada uma à sua maneira o caminho pelas escritas do século XX e de hoje.

O ciclo de recitais é aberto por Anne Kaasa. O programa do seu recital explora paralelismos e ressonâncias, justapondo a música de dois nomes maiores da música portuguesa do século XX, Fernando Lopes-Graça e Clotilde Rosa, com a de algumas das suas influências. V mlhách (In the Mists, 1912) de Leoš Janáček e a audaz Fantasia Baetica (1919) de Manuel de Falla enquadram uma leitura de seis dos Vinte e quatro prelúdios (1955) de Lopes-Graça. Já as duas peças de Clotilde Rosa, Agitato (2007) e Model for John (My Messiaen Memories) (2000) (gravadas pela pianista para a etiqueta da Miso), serão interpretadas ainda com o eco de três dos Vingt regards sur l’Enfant-Jesus (1944) na memória.

Sábado dia 4 de Junho 2016, 21h30
Anne Kaasa
Janáček, Lopes-Graça, de Falla, Messiaen, Rosa

No segundo sábado, a proposta de Elsa Silva é a do contraste entre o “piano a nu” com “dois dos seus alter egos: o piano preparado (…) e o piano com electrónica”. Subordinado ao título Piano Alters, o recital reúne as Sonatas e Interlúdios para piano preparado (1946–1948) de John Cage, as Sechs kleine Klavierstücke, Op. 19 (1911) de Arnold Schoenberg, Harmónicos (1967), para piano e sistema de delays, de Jorge Peixinho, e Figurações II (1969) de Filipe Pires. A esta panorâmica histórica junta-se a estreia absoluta de uma nova criação mista de Miguel Azguime, Descriptions de la matière.

Sábado dia 11 de Junho 2016, 21h30
Elsa Silva
Cage, Schoenberg, Peixinho, Pires, Azguime

O terceiro recital, no dia 18, percorre as malhas de uma constelação desenhada por Ana Telles. Em diálogo com a figura tutelar de Messiaen, representado no recital pelo último andamento do Catalogue d’oiseaux, uma das peças mais caras à intérprete, estarão Paul Méfano (Mémoire de la porte blanche, 1991) e Jean-Sébastien Béreau (Fragments de mémoire, para piano e electrónica, 2015), seus discípulos directos. Em homenagem a Jean-Sébastien Béreau, a estreia de uma nova obra de Christopher Bochmann (Letter to Jean-Sébastien Béreau). Partindo da música de um dos decanos da composição em Portugal, peças de Jaime Reis (Lysosyme synthesis, 2013) e João Pedro Oliveira (In Tempore, para piano e electrónica, de 2000).

Sábado dia 18 de Junho 2016, 21h30
Ana Telles
Messiaen, Reis, Oliveira, Méfano, Bochmann, Béreau

O último recital é assinado por Joana Gama. Convencida pela leitura de uma obra com o Sond’Ar-te Electric Ensemble, a pianista convidou Tiago Cutileiro a escrever-lhe uma peça para piano e electrónica. O compositor respondeu à encomenda com lx02012015, peça que desafia Joana Gama a entrar nas entranhas do piano com um e-bow e a substituir o marfim pelo pequeno teclado de uma melódica, ao som de registos da cidade de Lisboa. Na segunda parte, a pianista dará a ouvir Palais de Mari (1986), assim nomeada após a visualização da fotografia de um palácio mesopotâmico em ruínas, exposta no Louvre; escrita no final da vida como resposta ao seu aluno Bunita Marcus, que o havia instado a escrever uma obra de menor duração que captasse elegantemente a essência das suas propostas de grande fôlego, esta é uma obra-chave para a compreensão da estética de Feldman.

Sábado dia 25 de Junho 2016, 21h30
Joana Gama
Cutileiro, Feldman


Como tem vindo a ser hábito nos concertos promovidos pela Miso Music no seu espaço, os concertos serão transmitidos ao vivo através do YouTube.

Sobre o autor

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Luís Salgueiro é licenciado em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa. Para além da sua actividade criativa, dedica também a sua energia à preparação de partituras e musicografia, primeiro como 'freelancer' e actualmente como coordenador das actividades editoriais do MPMP, Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa.