A revista Glosas e a associação MPMP comemoram, em Maio de 2020, dez anos de existência. Quando me solicitaram um depoimento sobre a minha experiência com esta associação, eu não poderia ter reagido senão com o maior entusiasmo, dado o apreço que tenho pelo trabalho que tem vindo a desenvolver. De facto, a associação MPMP tem dedicado notórios esforços à interpretação, edição, promoção e divulgação da música de autores portugueses e brasileiros, potenciando também a criação e a investigação sobre as temáticas a que se dedica.
É certo que, ao longo da última década, temos assistido a um acréscimo de interesse, tanto por parte da comunidade musical como da própria academia, sobre a música de autores portugueses e brasileiros, bem como sobre o vasto património musical erudito de ambos os países. Têm-se multiplicado projectos de edição musical e discográfica, trabalhos académicos, concertos, recitais e outras iniciativas versando sobre a produção musical que ocupa o Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa. Felizmente, para todos nós, a associação MPMP não está sozinha, inscrevendo-se a sua actividade numa tendência mais vasta e abrangente.
Longe de lhe tirar mérito, esse facto parece-me ser, pelo menos em parte, sintomático do impacte que a referida associação tem tido na promoção do respeito e do interesse pela cultura musical portuguesa e brasileira. De facto, o trabalho desenvolvido pela associação tem alavancado o muito que havia – e há ainda – a fazer, imprimindo uma dinâmica muito própria (jovem, contemporânea, dedicada, apaixonada até, ousaria eu dizer…) à hercúlea tarefa de, simultaneamente, resgatar o património musical do passado e contribuir para a criação de condições que favoreçam a criação musical actual. Por outro lado, é assinalável que o tenha vindo a fazer de modo múltiplo e integrado, promovendo edições de livros, partituras, registos fonográficos e da própria revista Glosas, mas também a interpretação de obras (nomeadamente através da constituição e actividade performativa do Ensemble MPMP) e a criação musical contemporânea (através do concurso de composição Prémio Musa e de vários projectos de edição dedicados a compositores do nosso tempo). Em suma, o percurso que a tem trilhado é exemplar, e o labor que tem desenvolvido, além de benéfico, é pertinente e necessário.
Naquilo que me diz respeito, tive o grato prazer de me associar ao Ensemble MPMP, enquanto intérprete, participando no terceiro concerto do “Ciclo Latitudes”, que teve lugar no Auditório Vianna da Motta, na Escola Superior de Música de Lisboa, a 5 de Novembro de 2013. Para além disso, as minhas interpretações de duas obras para piano, electrónica e formações orquestrais diferentes, que me foram dedicadas por compositores que tanto admiro e estimo como João Pedro Oliveira1 e Carlos Caires2, encontram-se registadas em CDs com a chancela MPMP. De resto, tenho podido beneficiar amplamente da actividade da associação MPMP, enquanto leitora assídua da revista Glosas, enquanto consumidora de numerosas outras publicações MPMP, e enquanto público dos concertos promovidos pela mesma associação.
Por todas estas razões, que configuram sincera gratidão, desejo uma longa e profícua vida à associação MPMP e à revista Glosas.
Conto com ambas, como espero que saibam que podem contar comigo!
1 2013. João Pedro Oliveira: Mosaic, Vários intérpretes (faixa 4: Abyssus ascendens ad aeternum splendorem, para piano, orquestra e electrónica; Ana Telles, piano; Orquestra Filarmonia das Beiras; António Lourenço, direcção), Colecção Melographia Portugueza vol. 4. Lisboa: mpmp.
2 2019. Criação, circulação, registo áudio e edição de obras de música portuguesa contemporânea (faixa 1. Carlos Caires: Pianissimo, para piano, orquestra de sopros e electrónica; Ana Telles, piano; Orquestra de Sopros da ESML; Alberto Roque, direcção). Lisboa: mpmp | ESML. MPMPCD48
Artigo escrito no âmbito
do 10.º aniversário do MPMP