Em 2015, o Trio Pangea iniciou uma nova aventura: a recolha, gravação, edição e publicação de uma antologia de vários discos dedicados aos trios com piano portugueses em exclusivo para a editora Naxos. Único e ambicioso, este projecto em desenvolvimento constante acontece paralelamente aos concertos previstos para 2018 e 2019 em grandes salas de concerto em Portugal, Espanha e França. Em breve, o Trio Pangea tocará na Casa da Música, no Centro Cultural de Belém, no Palácio da Pena, no Cine-Teatro de Castelo Branco e também nos festivais de Marvão, Cistermúsica (Alcobaça) e de Oviedo (Espanha). Os três músicos apresentam ao público programas em homenagem a Claude Debussy e José Vianna da Motta, compositores celebrados ao longo de 2018, assim como a estreia do trio do compositor Alexandre Delgado, dedicado ao Trio Pangea.

Trio Pangea

Trio Pangea


Como surgiu a ideia de gravar os trios portugueses?

O Trio Pangea reúne músicos de três nacionalidades: Bruno Belthoise (França), Adolfo Rascón Carbajal (Espanha) e Teresa Valente Pereira (Portugal). A ligação à terra-mãe de cada um é muito forte, mas a ligação musical e afectiva dos três a  Portugal já vem de longa data. Nesse sentido, desde os inícios da sua formação, o Trio Pangea comprometeu-se com a interpretação e difusão da música portuguesa. No mundo globalizado em que vivemos, é, mais que nunca, importante valorizar a riqueza da música de câmara portuguesa, desconhecida da grande maioria do público. Queremos mudar esta realidade, recuperando e colocando este repertório há muito esquecido num lugar de destaque, em Portugal e no resto do mundo. Por isso, resolvemos criar o projecto Portuguese Piano Trios para a etiqueta Naxos. A parceria com esta importante editora é fundamental para alcançar os objectivos anteriormente designados, pois — além do prestígio inerente ao nome da editora — permite uma distribuição mundial dos discos, através de vários suportes. Está já prevista a gravação e edição de quatro CDs de trios das grandes figuras da música portuguesa, em conjunto com obras de compositores nossos contemporâneos.

Como estruturaram cada um dos quatro álbums?

Cada um dos quatros discos da antologia será normalmente composto por três trios, cada um representativo de uma época e corrente estética diferente, desde peças herdeiras da tradição romântica a outras de inspiração modernista. Comprometida em relação ao futuro da música portuguesa, outro objectivo desta antologia é o enriquecimento do repertório para esta formação através das nossas encomendas a compositores de hoje, obras que serão criadas especialmente para a ocasião ou que nunca tinham sido gravadas anteriormente, sendo, em ambos os casos, uma estreia mundial. Em cada volume, dois ou três trios de compositores do passado dialogam com um novo trio contemporâneo. Em conjunto, esperamos que os quatro volumes reflictam e transmitam a diversidade e riqueza que constituem a identidade musical portuguesa.

Pensam sobre este repertório português como um corpus único, ou como registos diferenciados de cada compositor?

O primeiro volume, editado em 2016, foi dedicado aos trios de Luiz Costa, Cláudio Carneyro e Sérgio Azevedo, três personalidades artísticas diversas que não estão interligadas entre si: o trio de Luiz Costa é romântico, com lustres impressionistas; o de Cláudio Carneyro modernista, embora com reminiscências populares; e o trio de Sérgio Azevedo, com temas inspirados na música de Leoš Janáček para a criação de música completamente original. Os grandes contrastes de estilos, as diferenças na criação de sonoridades e na utilização da paleta de cores musicais são certamente facetas que surpreenderam e que provocaram reacções muito positivas, tanto por parte do público como da crítica internacional (nos Estados Unidos, em Inglaterra e em França). O projecto não está pensado como um corpus unificado do repertório português; o programa de cada disco não procura a apresentação de uma identidade específica portuguesa ou escola nacionalista de compositores, mas, antes, pretende mostrar a riqueza intrínseca da música de cada um. Contudo, o volume 2 (que será gravado ainda este ano) revela uma espécie de linhagem musical, de passagem de testemunho entre Luiz de Freitas Branco, Joly Braga Santos e Alexandre Delgado: Braga Santos foi aluno de Freitas Branco; Alexandre Delgado, por sua vez, foi aluno de Braga Santos. Uma conexão histórica, mas estilos musicais completamente diferentes e únicos. Também gravaremos obras esquecidas, como o Prelúdio e Fuga de Frederico de Freitas (1923), sem esquecer aquelas que serão compostas especialmente para o Trio Pangea. Certamente cada disco suscitará um interesse particular, mas esperamos que do conjunto de trios únicos e originais gravados nesta antologia fique a prova da existência de um rico mosaico musical, um património cultural com passado e futuro.

Qual o alinhamento previsto para os discos e a calendarização prevista para os lançamentos?

Para o Trio Pangea, o mais importante é programar primeiro concertos dos trios a gravar, tocá-los ao vivo, assimilar a reacção do público e a nossa própria experiência de palco com a música, aprofundar e aperfeiçoar o que consideramos melhorável. É essencial a preparação minuciosa das obras antes do registo definitivo — permite-nos alcançar uma maior maturidade musical interpretativa, tudo isto levando certo tempo. O segundo volume será gravado ainda em 2018, com lançamento em 2019. Paralelamente, já começámos a preparação das obras do terceiro disco e serão escritas ao longo dos próximos dois anos as obras contemporâneas que integrarão os próximos volumes. Estimamos que o terceiro volume seja gravado em 2019, com lançamento em 2020, e assim sucessivamente.

Ponderaram a gravação de algum trio que depois tenham deixado fora do alinhamento?

Ao reunir todas as obras de trio compostas em Portugal, ficámos surpreendidos pela diversidade de estilos, mas não tanto pela quantidade de repertório para esta formação. Por exemplo, grandes mestres como Fernando Lopes-Graça ou, actualmente, António Victorino d’Almeida, embora com catálogos impressionantes, nunca escreveram para trio com piano, com muita pena nossa… no entanto, existem alguns trios inéditos que, pela sua qualidade, mereceram toda a nossa atenção, como o de Maria de Lourdes Martins ou o de Frederico de Freitas.

Mas existem mais: haveria material para a realização de cinco ou mesmo seis volumes, entre as obras que não programámos gravar e encomendas que gostaríamos de realizar. Cada disco exige um equilíbrio musical e de minutagem. Precisamos de seleccionar obras que encaixem na nossa ideia de disco a todos estes níveis. Pareceu-nos interessante dar uma segunda oportunidade a obras já gravadas anteriormente, mas nem sempre feitas em condições óptimas. Gostaríamos de destacar a excelente colaboração com a AvA Musical Editions, que, ao trabalhar connosco na edição das partituras dos trios gravados, oferece por fim ao mundo a possibilidade de dispor de partituras legíveis, revistas e prefaciadas, enfim, disponíveis e prontas a serem tocadas por quem o deseje. Nenhuma editora em Portugal até hoje tinha feito tanto pela difusão da música portuguesa. É extremamente importante que os músicos em Portugal apoiem o trabalho da AvA, assim como os projectos editoriais do MPMP: as suas contribuições são vitais para a continuação e para a própria sobrevivência dos projectos. Comuniquem e difundam os vossos conhecimentos e, sobretudo, comprem partituras! O futuro da música portuguesa passa pela edição: só assim poderá ser difundida pelo mundo fora.

Que outros projectos têm brevemente?

O Trio Pangea é constituído por três companheiros musicais de longa data, os três marcando presença regular em ciclos e festivais nacionais e internacionais, como Os Dias da Música do CCB, o Festival Internacional do Estoril, o Mosan Summer Festival, Conciertos del Museo Evaristo Valle, Festival Atlântico, em Paris, entre muitos outros. O nosso desenvolvimento artístico e experiência de palco passa também por projectos individuais e integrados noutras formações, sejam eles recitais a solo, música de câmara, de solista com orquestra ou ainda projectos de vertente pedagógica. Acreditamos na valorização e divulgação da música portuguesa, integrando-a sempre em  programas junto a obras dos grandes mestres do repertório. O público dos nossos próximos concertos poderá escutar Vianna da Motta junto a Schumann, Luiz Costa lado a lado com Debussy, Fauré em contraste com Azevedo ou Delgado em companhia de Haydn. Em breve, ampliaremos o nosso repertório com a inclusão de compositores espanhóis, como Turina ou Granados. Ainda este ano, o Trio Pangea tocará em Espanha (Madrid, Oviedo, Avilés, Bilbao), divulgando a música portuguesa e criando novos públicos também no país vizinho, graças à agência de concertos Romandela, com quem inauguramos uma nova etapa artística.

Trio Pangea

Serão muitas as oportunidades para ouvir o Trio Pangea em concerto ao longo de 2018

Concertos em 2018

28 de Janeiro | Museo Evaristo Valle, Gijón

Joseph Haydn | Trio n.° 44

José Vianna da Motta | Trio em Si menor

Robert Schumann | Trio n.° 1, Op. 63

 

27 de Fevereiro | Casa da Música, Porto

Luiz Costa |  Trio Op. 15

Alexandre Delgado | Trio Camoniano (estr.)

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

 

28 de Fevereiro | Cineteatro Avenida, Castelo Branco

Joseph Haydn | Trio n.º 44

Alexandre Delgado | Trio Camoniano

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

 

1 de Março CCB, Lisboa (transmitido em directo pela Antena 2)

Joseph Haydn | Trio n.º 44

Luiz Costa |  Trio Op. 15

Alexandre Delgado | Trio Camoniano

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

 

2 e 3 de Março | Serões musicais, Palácio da Pena, Sintra

Homenagem a Vianna da Motta

Robert Schumann | Drei Romanzen

José Vianna da Motta | Trio em Si menor

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

 

Julho (data a anunciar) | Festival Cistermusica, Alcobaça

Homenagens 2018: Vianna da Motta e Debussy

José Vianna da Motta | Trio em Si menor

Claude Debussy | Trio em Sol maior

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

 

21 de Julho | Festival Internacional de Marvão

Homenagem a Vianna da Motta  

Alexandre Delgado | Trio Camoniano

José Vianna da Motta | Trio em Si menor

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

 

Agosto | Lisboa

Portuguese Piano Trios: Gravação do Volume 2

Luiz de Freitas Branco

Joly Braga Santos

Frederico de Freitas

Alexandre Delgado

 

30 de Agosto | Festival de Musica de Oviedo

Claude Debussy | Trio em Sol maior

Joseph Haydn | Trio n.° 44

Alexandre Delgado | Trio Camoniano

Robert Schumann | Trio n.° 1, Op. 63

 

18 de Dezembro | Associação dos Amigos da Música, Loulé

Joseph Haydn | Trio n.° 44

Alexandre Delgado Trio Camoniano

Robert Schumann | Trio Op. 63

 

20 de Dezembro Associação dos Amigos da Música, Loulé

Ludwig van Beethoven | Trio n.° 3, Op. 1

Vianna da Motta | Trio em Si menor

Claude Debussy | Trio em Sol maior

 

Data a anunciar | Embaixada de Portugal, Paris

Uma linhagem musical

Vianna da Motta

Luiz de Freitas Branco

Joly Braga Santos

Alexandre Delgado

 

Data a anunciar | Le vieux Palais, Limeray

Ludwig van Beethoven | Trio n.° 3, Op. 1

Robert Schumann | Trio n.º 1, Op. 63

Claude Debussy  | Trio em Sol maior