No passado 14 de Junho, a On Site Opera, companhia nova-iorquina especializada em produções operáticas in situ, deu a estrear pela primeira vez na América do Norte As Bodas de Fígaro de Marcos Portugal.

 

Eric Einhorn, o encenador, director artístico e co-fundador da companhia, transporta a trama desta pazza giornata para uma casa na zona de West Village, na qual o traço original de meados do século XIX se cruza com murais e frisos falso-renascentistas e com o art déco característico da arquitectura circundante. E, bem à semelhança da cena, também a partitura de Marcos Portugal é renovada: de forma a acompanhar o movimento das personagens e da audiência pela casa (ou sequer a lá caber), a música será providenciada por um colorido ensemble de violino e violoncelo, oboé e clarinete, acordeão, guitarra e guitarra portuguesa. Esta re-orquestração, sobre a edição crítica de David Cranmer, é assinada pelo maestro Geoffrey McDonald e por José Luís Iglésias, natural de Coimbra e dos seus círculos de fado, e hoje radicado nos Estados Unidos. Também por força das circunstâncias da produção, a ópera será apresentada com cortes e na língua inglesa, em detrimento do libreto original de Gaetano Rossi.

 

Já na sua quinta temporada de existência, a On Site Opera é uma companhia nova iorquina dedicada à apresentação de produções site-specific no campo da ópera, explorando espaços e repertórios pouco convencionais. O seu projecto inaugural, em 2012, resgatou The Silly Little Mouse, uma mini-ópera de Chostakovich composta para o desenho animado de Mikhail Tsekhanovsky, em 1939, e transpô-la para uma apresentação ao vivo no zoo de Bronx, com tudo o que de pitoresco um cartoon tem assegurado por grandes marionetas manejadas pelos cantores. No ano seguinte, em crescendo de ambição, encenou-se Blue Monday, primeiro ensaio de Gershwin num desenvolvimento que culmina em Porgy and Bess, com um elenco negro e em pleno Cotton Club, lendário clube de jazz em Harlem. Duas produções de 2014 sintetizam a ousada contemporaneidade congénita ao projecto, com a abordagem a Clarimonde, nova criação do compositor e maestro Frédéric Chaslin, e uma produção de Pygmalion, o acte de ballet de Rameau, na qual as legendas foram difundidas em realidade aumentada via Google Glass.

 

Jesse Blumberg como Figaro. Foto de Rebecca Fay.

Jesse Blumberg como Figaro. Foto de Rebecca Fay.


 
 
The Marriage of Figaro é a segunda produção dedicada às óperas baseadas na trilogia de Beaumarchais negligenciadas pelo tempo. No ano passado, a companhia ocupou os claustros e a biblioteca da Fabbri Mansion, entre a Madison e a 5.ª Avenida, com o Barbeiro de Sevilha de Paisiello; para 2017, está já projectada, também em estreia americana, La mère coupable de Milhaud.

 


 

La pazza giornata osia il matrimonio di Figaro (1799)
Marcos Portugal (1762 – 1830)
Orquestração de José Luis Iglésias e Geoffrey McDonald
Libreto de Gaetano Rossi, com tradução de Gilly French, Jeremy Gray e diálogos por Joan Holden
baseado na peça de Pierre Augustin Caron de Beaumarchais

 

Figaro Jesse Blumberg
Susanna Jeni Houser
Marcellina Margaret Lattimore
Don Bartolo David Langan
Cherubino Melissa Wimbish
Count Almaviva David Blalock
Don Basilio Ryan Kuster
Countess Camille Zamora
Antonio/Gusmano Antoine Hodge
Cecchina Ginny Weant

 

Violino Victoria Paterson
Clarinete Nick Gallas
Oboé Keve Wilson
Violoncelo Ali Jones
Acordeão Will Holshouser
Guitarra Meliset Abreu
Guitarra Portuguesa José Luis Iglésias

 

Direcção musical Geoffrey McDonald
Encenação Eric Einhorn
Produção On Site Opera
em parceria com a New School’s Mannes College of Music e o Consulado Português em Nova Iorque

Sobre o autor

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Luís Salgueiro é licenciado em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa. Para além da sua actividade criativa, dedica também a sua energia à preparação de partituras e musicografia, primeiro como 'freelancer' e actualmente como coordenador das actividades editoriais do MPMP, Movimento Patrimonial pela Música Portuguesa.