Um festival de sons. Um diálogo intemporal através da revitalização de um surpreendente património musical, parte dele esquecido em arquivos históricos… Uma embaixada, através da revista glosas, representando o que de melhor se faz na actualidade da música portuguesa.

A digressãoMúsica portuguesa em viagem”, pelo seu âmbito e pela sua dimensão, foi uma iniciativa inédita: levou a seis capitais de estado brasileiras – Brasília, Goiânia, Belo Horizonte, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro – uma grande panorâmica sobre a música de tradição erudita ocidental de compositores portugueses, num total de doze concertos e cinco conferências entre 13 e 31 de Março passado.

A soprano Ana Paula Russo, convidada especial desta digressão, foi acompanhada na viagem pelos jovens pianistas Duarte Pereira Martins e Philippe Marques e pelo quarteto d’arcos do Ensemble MPMP, constituído por Daniel Bolito (violino I), João Vieira de Andrade (violino II), Amadeu de Resendes (violeta) e Catarina Gonçalves (violoncelo).

A programação incluiu o lançamento de um CD (Mosaic, de João Pedro Oliveira) e diversos concertos para quarteto d’arcos, canto e piano, piano solo e piano a quatro mãos, com música de mais de vinte compositores portugueses – desde o barroco Carlos Seixas até aos contemporâneos, passando pelos clássicos (destaque para João Domingos Bomtempo), românticos e modernos (destaque para Fernando Lopes-Graça).

Maioritariamente em estreia no Brasil, as obras foram apresentadas em algumas das mais importantes universidades brasileiras e prestigiados auditórios como o Centro Cultural São Paulo e a Academia Brasileira de Música.

As conferências debruçaram-se sobre os desafios que se colocam à produção e circulação da música erudita dos países de língua portuguesa, fazendo ao mesmo tempo um panorama histórico sobre as relações musicais luso-brasileiras e divulgando a revista glosas, cujo décimo número, em que participaram diversas personalidades dos meios musicais brasileiro e português, tinha acabado de ser lançado.

Um dos pontos altos da digressão foi certamente a gravação de 50 (cinquenta!) minutos de música portuguesa para o programa Partituras, da TV Brasil, que foi transmitido em horário nobre, a um Domingo, e depois disponibilizado em-linha… (Dou por mim a imaginar a mera possibilidade de um canal de televisão português fazer o mesmo… e pergunto-me se estarei a ficar senil…)

A digressão foi, para todos os participantes – e, cremos, para os diferentes públicos – uma experiência gratificante e enriquecedora. Há, verdadeiramente, muito a perder com a falta de contacto entre os países de língua portuguesa: somos mais próximos do que supomos e, sobretudo, partilhamos uma língua que deveria tornar muito mais facilmente consequente e promissora a satisfação de uma saudável curiosidade mútua.

Uma viagem a jamais esquecer, e a repetir, sem dúvida, assim que tal empreendimento nos for novamente possível. Por agora, deixamos aqui, nas páginas seguintes, algumas notas de viagem, restando-nos agradecer profundamente a todos os que possibilitaram a realização desta digressão, a todos os que tão calorosamente nos receberam, e a todos os que foram acompanhando, à distância, esta nossa encantadora aventura tropical…

Publicado na Glosas 11, p.27.

Fotografia: Tatiana Bina

Sobre o autor

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Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.