A revista glosas terá o privilégio de contar a partir de agora com a colaboração do ilustre musicólogo Régis Duprat, que assinará a rubrica Garimpo musical. O seu “garimpo” — terreno onde se exploram metais preciosos — consistirá, naturalmente, na exploração e revelação de inúmeros tesouros do património musical brasileiro, ao qual dedicou (e tem dedicado) centenas de páginas de investigação científica.

A primeira publicação, prevista para breve, lembrará um excerto de uma importante gravação histórica e dará a conhecer um pouco do que foi a vida e obra de André da Silva Gomes (Lisboa, 1752 ~ São Paulo, 1844), compositor que Duprat estudou afincadamente durante muitos anos.

 

 

Régis Duprat nasceu no Rio de Janeiro em 11 de Julho de 1930. Formado em História pela Universidade de São Paulo na década de 1950-60, teve como professores Florestan Fernandes (Sociologia), Emilio Willems e Egon Schaden (Antropologia e Etnologia) e Sérgio Buarque de Hollanda (História do Brasil), este último como orientador da tese de doutorado, defendida na Universidade de Brasília. Na Música foram seus professores Johannes Oelsner (viola de arco e música de câmara), Olivier Toni e Claudio Santoro (Harmonia, Contraponto e Composição).

Em Paris, na década de 1960, estudou com Fernand Braudel (História) na Escola de Altos Estudos, Jacques Chailley (Musicologia) no Instituto de Musicologia da Sorbonne e Marcel Beaufils (Estética Musical) no Conservatório de Paris.

Actuou como músico profissional na Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, na Orquestra da Rádio Nacional, diversos quartetos de cordas e gravações da MPB.

Especialista em música do período colonial brasileiro, descobriu em 1958 o manuscrito musical mais antigo do Brasil, o Recitativo e Aria de compositor anónimo da Bahia, datado de 1759. Em 1980 trouxe à luz musicológica o manuscrito musical de Mogi das Cruzes, São Paulo, que antecede cronologicamente o da Bahia, com data estimada de 1730. Resgatou a obra do mestre-de-capela da Matriz e Sé de São Paulo, André da Silva Gomes, realizando o catálogo de obras, edição de partituras, concertos e gravações de inúmeras obras. Coordenou o projecto de recuperação e catalogação dos manuscritos musicais da Coleção Francisco Curt Lange do Acervo de Manuscritos Musicais do Museu da Inconfidência de Ouro Preto, que resultou na publicação de catálogo de obras, edição de partituras, concertos e gravações de inúmeras obras. Resgatou o repertório de bandas do Vale do Paraíba do séc. XIX e, juntamente com seu irmão Rogério Duprat, gravou cinco LPs.

A sua contribuição para a história da música popular brasileira abrangeu géneros desde o século XVIII (modinha e lundu), os séculos XIX-XX (dobrados, valsa, polca, maxixe, tango e os diversos géneros híbridos) até a ascensão do rádio e da indústria fonográfica (samba e música caipira/ sertaneja).

Envolvido com a música contemporânea, foi signatário do Manifesto Música Nova (1963). Professor na Universidade de Brasília no período inaugural daquela instituição, integrou a equipa docente formada pelo compositor Claudio Santoro. Contribuiu para a implantação e consolidação da pós-graduação na área de música no Brasil e foi co-fundador da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música – ANPPOM. É sócio honorário da Sociedade Brasileira de Musicologia e coordenador da secção de música erudita da Enciclopédia da Música Brasileira (ed. Marcos Marcondes, São Paulo: Art Editora, 1977, 1998 e 2001). É autor de mais de 150 trabalhos publicados, entre livros, capítulos de livros, artigos em periódicos académico-científicos, palestras, partituras, entrevistas, LPs e CDs.

É ainda membro eleito da Academia Brasileira de Música (cadeira n.º 10). Recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos Teatrais (1970) e o Prêmio Clio de História da Música (1996). Foi Professor Titular da Universidade Estadual Paulista e da Universidade de São Paulo.

 

Sobre o autor

Imagem do avatar

Curso Complementar de Piano no Conservatório Nacional. Licenciatura em Composição pela Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou sob orientação de Sérgio Azevedo e de António Pinho Vargas. Durante um ano, em programa Erasmus, frequentou o Conservatório Nacional Superior de Paris (CNSMDP). Mestre e doutorando em Ciências Musicais pela Universidade NOVA. Membro fundador e Presidente da Direcção do MPMP. Director da revista GLOSAS (números 1-15 e 20-). Distinguido com o 2.º Prémio do Concurso Otto Mayer-Serra (2017) da Universidade da Califórnia, Riverside, e o Prémio Joaquim de Vasconcelos (2019) da Sociedade Portuguesa de Investigação em Música.